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terça-feira, 23 de abril de 2024

David Siqueiros, um artista revolucionário

David Alfaro Siqueiros nasceu em Chihuahua, a 29 de dezembro de 1896. Órfão de mãe desde pequeno, viveu como nômade em seu círculo familiar. Em 1908, sua família se instalou na Cidade do México. Foi inscrito por Dom Cipriano, aos quinze anos, na renomada Academia de San Carlos, onde lecionava Leandro Izaguirre (1867-1941), oficialmente considerado o maior pintor nacional do momento. Lá, Siqueiros conheceu Orozco (1883-1949) que, aos 28 anos, abandonara a agronomia para se dedicar inteiramente à arte (Orozco defendia a renovação do sistema de ensino, decalcado nos moldes franceses).  Siqueiros participou, com ele, da greve que os estudantes organizaram em 1911, e pela primeira vez dormiu na cadeia. Nesse mesmo ano, desencadeou-se o movimento revolucionário mexicano, contra o ditador Porfírio Diaz.

Em 1919, Siqueiros é nomeado adido militar da Embaixada do México na Espanha. Começam assim suas andanças europeias. Diego Rivera (1886-1957), que conheceu em Paris, abre-lhe os olhos para as grandes inovações da pintura francesa: fauvismo e cubismo. Em troca, Siqueiros narra e comenta a revolução. Em 1922, de volta ao México, funda com Rivera e Orozco a escola dos muralistas.

David Siqueiros era um comunista que buscava retratar os problemas e sofrimentos de seu povo e criar uma identidade nacional para o país depois da revolução mexicana (1910 – 1921) com seus murais para prédios públicos. Foi o mais radical do trio. Marxista declarado por toda a vida, ele abraçou a ideia de arte coletiva que educaria o proletariado para a ideologia marxista. Siqueiros  raramente usava um cavalete, preferindo métodos e tintas comerciais e industriais, como pigmentos à base de nitrocelulose (piroxilina) e a pistola de tinta.

Influenciado pelos povos indígenas mexicanos e pelos estilos assimilados na Europa, as obra de Siqueiros retratavam camponeses heróicos e fortes e trabalhadores comuns lutando contra invasores e regimes totalitários e opressores do sistema capitalista. Esse seu envolvimento político o levou a se exilar em 1932 nos Estados Unidos. Alguns anos depois veio à América do Sul, onde fez conferências no Brasil e na Argentina.

Em 1937, Siqueiros abandona a pintura para se alistar nas brigadas estrangeiras  que lutavam ao lado dos republicanos da Espanha. Passa boa parte da conflagração espanhola em Barcelona, discutindo pintura e colaborando na retaguarda do movimento revolucionário antifranquista.

Em 1940, exilou-se voluntariamente nos Estados Unidos e em Cuba por ter se envolvido num atentado fatal a Trótski. Regressa ao México, em 1944, terminando assim, o tríptico A Nova Democracia – súmula de suas esperanças no renascimento mundial, após a hecatombe que na Europa sacrificou, entre vidas e feitos, a própria arte.

Seu espírito revolucionário, contudo, não perdeu força. Em 1960, Siqueiros passou três anos numa prisão estadounidense por incitar uma greve. Em 1974, morre Siqueiros, um dos mais influentes artistas mexicanos.

A arte visionária e profética de Siqueiros possui uma força que nasce do tom de discurso. Um discurso plástico; feito em voz alta, para ser ouvido e entendido como grande protagonista de seu tempo.

Diogo Belloni, estudante de Astronomia da UFRJ e militante da UJR

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