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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Ex-delegado do DOPS confessa assassinato de militantes de esquerda durante a Ditadura

Cela do DOPSRealizado sob o pretexto de garantir a democracia e salvar o Brasil do “fantasma do comunismo”, o golpe militar de 1964 impôs a mais ferrenha ditadura aos trabalhadores e ao povo brasileiro. Nesse período, milhares de comunistas e democratas foram presos, entidades estudantis fechadas, universidades invadidas pela polícia, sindicatos sofreram intervenção, parlamentares tiveram seus mandatos cassados, a imprensa foi censurada e greves foram proibidas.

A face mais brutal da Ditadura, entretanto, foi a tortura e o assassinato de seus opositores, homens e mulheres que lutaram bravamente pela liberdade e pelo socialismo em nosso país e que, por isso mesmo, são e sempre serão lembrados como verdadeiros heróis do povo brasileiro.

Essa semana um dos responsáveis por perseguir, prender, torturar e assassinar esses patriotas saiu da escuridão. O livro “Memórias de uma guerra suja”, que será lançado esse fim de semana, reúne uma série de depoimentos dados aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros pelo ex-delegado do DOPS (Departamento de Operações Políticas e Sociais) do Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra, trazendo à luz revelações importantes e históricas sobre os crimes praticados durante a Ditadura Militar no Brasil.

Guerra, que substituiu o monstro fascista Sérgio Paranhos Fleury à frente do DOPS após sua morte, dá nomes aos envolvidos nesses crimes e afirma ter sido um dos principais encarregados pelo regime de matar adversários da Ditadura entre os anos 70 e 80, tendo participado pessoalmente no assassinato de aproximadamente uma centena de pessoas durante o período, inclusive do próprio Fleury.

No livro, o ex-delegado do DOPS, que (acreditem!!!) se diz arrependido, conta como executou pessoalmente militantes de esquerda como Nestor Veras, então membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), após uma sessão de tortura: “(Veras) tinha sido muito torturado e estava agonizando. Eu lhe dei o tiro de misericórdia, na verdade dois: um no peito e outro na cabeça. Estava preso na Delegacia de Furtos em Belo Horizonte. Após tirá-lo de lá, o levamos para uma mata e demos os tiros. Foi enterrado por nós”.

Guerra diz também que pelo menos dez corpos de militantes assassinados sob tortura foram incinerados no forno da Usina Cambahyba, de propriedade do ex-deputado federal e ex-vice-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro Gomes, colaborador da Ditadura, em 1973. Segundo o ex-delegado, foram incinerados os corpos de João Batista e Joaquim Pires Cerveira (presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury), Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva (“a mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”), David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”), João Massena Mello, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho (dirigentes históricos do PCB), Eduardo Collier Filho (militante da Ação Popular Marxista-Leninista) e Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira (ver A Verdade, nº 8).

De acordo com os depoimentos do livro, os comandantes desse tipo de operação eram o coronel do Exército Ênio Pimentel da Silveira, conhecido como “Doutor Ney”, o coronel-aviador Juarez de Deus Gomes da Silva, da Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça, o delegado da Polícia Civil de São Paulo Aparecido Laertes Calandra, o coronel do Exército Freddie Perdigão, do Serviço Nacional de Informações (SNI), o comandante Antônio Vieira, do Cenimar, e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do Departamento de Operações de Informações do 2º Exército (DOI-Codi) e notório torturador.

Essas e outras revelações feitas pelo ex-delegado Cláudio Guerra apenas reforçam a necessidade de que a Comissão Nacional da Verdade, que está preste a ser nomeada pela presidenta Dilma Rousseff, deve cumprir com a tarefa de lançar uma luz sobre a nossa história, permitindo efetivamente que se conheça o que ocorreu nos vinte e um anos de ditadura, identificar os responsáveis e fazer justiça. Não é justo que enquanto centenas de famílias permanecem sem saber como morreram e que fim levaram os corpos de seus entes queridos, criminosos e torturadores confessos continuem impunes, circulando livremente pelas ruas e pelas instâncias de poder do país, muitos deles sendo tratados, inclusive, como homens honrados. É preciso que a justiça seja feita, os crimes da Ditadura apurados e seus responsáveis devidamente punidos. Está na hora do Brasil abrir essa caixa preta e reescrever sua própria história.

Heron Barroso

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