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sábado, 20 de abril de 2024

Saída à esquerda

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Como se já não bastassem os ataques aos direitos dos trabalhadores, através das medidas provisórias 664 e 665, do corte no orçamento da educação e outras áreas sociais, o “mercado”, isto é, a burguesia, faz uma previsão de recessão de 1% no PIB e inflação de 8,13% para o Brasil em 2015. O que há de interessante nesse anúncio? Nada de novo, se não fosse a própria burguesia, que junto com o governo defende amplamente o arrocho fiscal, a dizer isso.

As medidas de austeridade implantadas pela União e pelos estados deveriam ter, segundo eles próprios, o sentido de acabar com a crise econômica, fazer o país voltar a crescer e a inflação cair. A mídia, o FMI, o Banco Mundial, o “mercado”, todos, menos os trabalhadores e a juventude, defendem estas medidas como a injeção antitetânica para todos os males da humanidade. Agora, dizem que a situação econômica vai piorar em 2015 e 2016.

No mínimo contraditório, se não tivesse um fundo de verdade: a austeridade de fato gera mais crise, e mais crise gera recessão e inflação alta. O que quer dizer, lá no fundo, que este comunicado dos “economistas” do mercado financeiro, como os chama a mídia burguesa, é só mais uma demonstração de que a saída que está sendo posta em prática é a que conduzirá os trabalhadores para o abismo econômico.

Independente das medidas que o governo tomasse, dentro dos marcos do capitalismo, em algum momento a crise internacional iria nos atingir. O fato de o governo ter colocado todas as fichas na venda de commodities, como o petróleo, quando estas estavam em alta no mercado, é uma prova disso. Com a queda brusca do petróleo nas bolsas de valores do mundo, caindo dos 100 dólares (como estava em 2013) para a casa dos 50, somado ao processo de retração da indústria, que no ano de 2014 demitiu mais de 200 mil operários, fez com que o país não encontrasse saída para voltar a crescer.

Paralelamente, a política de fortalecimento do capital financeiro, com o aumento da taxa de juros, que hoje está em 12,75%, e a manutenção do pagamento da dívida pública, que no governo Dilma ocupou um espaço de 35% a 40% do orçamento do país, fez com que este setor se fortalecesse e os setores produtivos, principalmente a indústria, ficassem prejudicados.

Mas, mesmo se o governo tivesse cedido às pressões do “mercado” e aplicado as medidas de austeridade antes, a situação teria se mantido a mesma ou estaríamos ainda pior, a exemplo do que ocorre hoje na Europa, onde os países aplicam as medidas de austeridade propostas pelo FMI a mais de cinco anos estão com altas taxas de desemprego e recessão profunda. A pergunta não reside no “onde o governo errou?”, mas no “por que o governo errou?”.

Ao priorizar os interesses do capital financeiro, o governo federal subordinou ainda mais sua política econômica a este setor da classe dominante e com isso saíram prejudicados os trabalhadores, que viram a especulação financeira dominar a economia nacional, encarecendo aluguéis, aumentando os preços dos bens de consumo, etc. O porquê reside aí, na conciliação, na subordinação aos interesses do capital.

Vale lembrar que este é (ou era) considerado um governo progressista, de esquerda, mas a aposta na conciliação de classes fez com que ele se abstivesse de tomar medidas que contrariassem abertamente os interesses do grande capital. Ao se eximir de medidas como taxar as grandes fortunas, fazer a reforma agrária, reestatizar as empresas privatizadas, o setor de energia e o de telefonia, deixou à vontade dos bancos a condução da economia nacional. Conclusão da história: agora que o capital financeiro sai fortalecido ele quer mais espaço na política econômica, o que justifica os aumentos sucessivos nos juros e os cortes de verbas para destinar ao pagamento da dívida pública.

Quando teve a oportunidade, o PT se recusou a enfrentar os interesses de classe da burguesia e preferiu conciliar estes interesses com os anseios da classe trabalhadora. Ao se aliar com a direita no plano político, e não com os movimentos sociais, o PT deu munição para que essa direita sobrevivesse com força no espectro político brasileiro.

Em resumo, a preferência na política de conciliação de classe impediu que o governo desse qualquer saída à esquerda para a crise desde quando ela estourou no plano internacional, em 2008. Agora, colhemos os frutos disso: uma direita mais forte do que nunca e com um viés fascistizante cada vez mais claro, e os movimentos sociais tendo que se reorganizar para enfrentá-la nas ruas e combater as medidas de austeridade impostas pelo governo que ele elegeu por quatro eleições.

Existe uma saída: e ela é pela esquerda

O quadro que se apresenta parece uma estrada de mão única no meio do deserto, sem retornos ou saídas. Mas engana-se quem não vê a saída à esquerda na estrada. O que está posto, que o governo não quer ver e movimentos sociais aos poucos percebem, é que a saída para a crise política e econômica é pela esquerda.

Agora, mais do que nunca, é necessário o combate aberto aos interesses do capital, com taxação das fortunas, suspensão do pagamento da dívida pública, reestatização das empresas privatizadas, reforma agrária e urbana. Com apenas algumas dessas medidas seria possível reduzir o preço da energia, dos alimentos e dos aluguéis, diminuindo assim a inflação; seria possível também investir na educação e saúde e melhorar a infraestrutura nacional, aumentando a produção industrial.

Com isso, se impõe a necessidade da esquerda se colocar de forma unitária nas ruas, com uma ampla unidade popular para apontar o caminho necessário para sair da crise, aprofundando assim a organização do povo para resistir aos ataques da burguesia. Mas, enquanto muitos dentro da própria esquerda confiarem no caminho da conciliação, quem saíra perdendo serão os trabalhadores e o país, pois não haverá a unidade necessária para colocar a pauta dos trabalhadores na rua e disputar os rumos da sociedade.

Se o porquê do erro se encontra na conciliação, a solução dele se encontra na luta de classes contra o capital.

Felipe Annunziata, militante da UJR/RJ

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