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quinta-feira, 28 de março de 2024

União Soviética venceu seis das nove olimpíadas de que participou

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Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que aconteceram no mês passado, reuniu delegações de atletas de mais de 200 países. EUA, Grã-Bretanha, China e Rússia lideraram o quadro de medalhas, respectivamente, com o primeiro chegando a 46 ouros. Contudo, esta “hegemonia” dos estadunidenses foi quebrada por atletas da União Soviética em seis dos nove jogos olímpicos de verão que disputaram, entre 1952 (Helsinque) e 1988 (Seul), nos quais conquistou a primeira posição no quadro de medalhas. Nos jogos olímpicos de inverno, que ocorrem dois anos antes dos de verão, a URSS foi primeira colocada em sete de nove jogos de que participou.

A partir da Revolução Russa de outubro de 1917, dezenas de países iniciaram um longo processo de boicote, velado ou armado, à Rússia soviética e, posteriormente, à URSS, nos terrenos econômico, político e, até mesmo esportivo. Em 1920, o Comitê Olímpico Internacional (COI) excluiu a delegação russa dos Jogos Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica, junto com os países derrotados na Primeira Grande Guerra. Porém, a URSS trabalhava para se tornar um país industrializado, com uma economia socialista forte, consolidando direitos à classe trabalhadora soviética, e o acesso ao esporte foi garantido à população. Entre as décadas de 1920 e 1940, ocorreram as Olimpíadas Operárias e as Espartaquíadas, que reuniram delegações de atletas trabalhadores de várias cidades, num clima de confraternização e consciência social.

A gigantesca vitória da URSS na Segunda Grande Guerra a colocou e obrigou o COI a rever sua política segregacionista em relação à pátria soviética. Nos Jogos de Londres, em 1948, a URSS foi convidada, porém ainda estava se recuperando dos desastres provocados pela Alemanha nazista, e não pôde participar. Em Helsinque, em 1952, a URSS inicia sua participação em Olimpíadas, alcançando a segunda colocação, com 71 medalhas, sendo 22 de ouro. A partir de 1956, nos jogos de Melbourne, nos quais a delegação soviética conquistou 98 medalhas, sendo 37 de ouro, a URSS começa a mostrar ao mundo o potencial que os esportes podem alcançar em pátrias socialistas. Em sessenta anos, apenas três vezes os EUA não ocuparam o primeiro lugar. Em 1956 destacou-se o imponente ouro no futebol olímpico conquistado pela seleção soviética.

Três dos cinco maiores medalhistas olímpicos de todos os tempos disputaram os jogos com o uniforme soviético. Larissa Latynina (18 medalhas/1952-1964), Nikolai Andrianov (15 medalhas/1972-1980) e Boris Shakhlin (13 medalhas/1956-1964), que disputavam as provas de ginástica, surpreenderam o mundo com extraordinário talento, e Larissa foi, por mais de 40 anos, a atleta com mais medalhas da história, sendo superada recentemente pelo nadador Michael Phelps, porém continua sendo a mulher com mais medalhas olímpicas. Em 1960, em Roma, a URSS conquista 103 medalhas, sendo 43 de ouro, e, pela segunda vez, é a primeira colocada dos jogos olímpicos. Em 1964, em Tóquio, a URSS obtém o maior número de medalhas, 96, conquistando 30 ouros, mas fica atrás dos EUA na quantidade de medalhas douradas (os norte-americanos conquistaram 36). Na Cidade do México, em 1968, os EUA venceriam pela última vez a URSS no quadro de medalhas. Ao todo, os estadunidenses levaram para casa 45 ouros de um total de 107, enquanto que os soviéticos subiram ao alto do pódio 29 vezes de 91 medalhas conquistadas.

Em 1968, o lendário atleta soviético Viktor Saneyev, três vezes campeão olímpico do salto triplo e recordista mundial, disputava sua primeira olimpíada. Em 1972, nos Jogos Olímpicos de Munique, tornou-se bicampeão, sendo condecorado com a Ordem de Lênin, uma das maiores honrarias concedidas a um cidadão soviético. Em Munique, a URSS voltou a ocupar o primeiro lugar no quadro de medalhas, conquistando 50 ouros e 99 medalhas no total. Destacou-se a histórica vitória do basquete soviético, vencendo o até então imbatível time dos EUA por 51 a 50, no último segundo da partida. Em Montreal, em 1976, a URSS conquistou 49 ouros, de um total de 125 medalhas, ficando mais uma vez na ponta de cima do quadro de medalhas. A delegação da Alemanha Oriental surpreendeu o mundo ao ficar à frente dos EUA no número de medalhas, levando 40 ouros para casa, enquanto que os estadunidenses ficaram em terceiro, conquistando 34 medalhas douradas.

A memorável Olimpíada de Moscou, em 1980, marcou gerações. Apesar do boicote dos EUA e de vários países aliados, entre eles várias ditaduras militares, como a Argentina – por conta do socorro prestado pelo Exército Vermelho, no ano anterior, ao governo afegão, que lutava contra grupos terroristas –, os Jogos de Moscou foram um verdadeiro sucesso, sendo considerado pelo COI “como modelo a ser seguido a partir de então”. O evento reuniu 80 países e mais de cinco mil atletas. A URSS conquistou 195 medalhas, sendo 80 de ouro, tendo mais uma vez a Alemanha Oriental na segunda posição, com 47 ouros. A famosa cena do ursinho Misha chorando, na cerimônia de encerramento dos Jogos, se tornou um símbolo olímpico. Aleksandr Dityatin, ginasta soviético, se tornou herói nacional ao receber, pela primeira vez nas Olimpíadas, uma nota 10 nas provas do individual geral, levando mais dois ouros, quatro pratas e um bronze na ginástica.

Em 1984, nos Jogos de Los Angeles, diante do agravamento do quadro de perseguição aos comunistas promovido pelo governo neoliberal de Ronald Reagan, o Comitê Olímpico Soviético decidiu não participar. Alemanha Oriental e Cuba, duas potências olímpicas, seguiram a URSS e boicotaram os Jogos. Em sua última participação, nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, mais uma vez o bloco socialista demonstrou seu enorme potencial esportivo, com a URSS levando para casa 132 medalhas, sendo incríveis 55 ouros, ficando em primeiro lugar seguida pela Alemanha Oriental, que conquistou 37 ouros e 102 medalhas, enquanto que os EUA, mais uma vez, ocuparam a terceira posição, com 36 ouros e 95 no geral. Em 1988, o basquete olímpico soviético mais uma vez foi campeão, derrotando na final a forte seleção iugoslava.

A contraofensiva imperialista, junto ao revisionismo do PCUS, que levou à extinção da pátria soviética e ao retrocesso social gigantesco, nos quais indústrias foram desmanteladas, bancos e terras privatizadas e milhões de trabalhadores ficaram sem emprego, o esporte também sofreu um duro golpe. Ainda mantendo parte do legado esportivo soviético, a delegação dos países da ex-URSS, agrupados sob a bandeira da CEI (Comunidade dos Estados Independentes, com exceção dos países bálticos), manteve a primeira posição nos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona, levando 112 medalhas, sendo 45 de ouro. A partir daí, a Rússia, principal herdeira do potencial soviético, restabeleceu o capitalismo e jogou seu povo numa profunda crise econômica, com desemprego em massa e guerras localizadas. A Rússia, que em 1996 conseguiu chegar à segunda posição nos Jogos de Atlanta, continuamente vem decaindo, lutando, nos atuais Jogos, para conquistar a quarta colocação.

O verdadeiro espírito olímpico, baseado na paz e na confraternização dos povos, precisa ser rediscutido, pois, cada vez mais, grandes empresas se apropriam dos Jogos, mercantilizando-os, oferecendo “milhões” aos melhores atletas para se tornarem seus “garotos-propaganda”. Enquanto o esporte for secundarizado e até mesmo negado para milhões de crianças ao redor do mundo, continuaremos a ver como distante um evento tão importante à humanidade, responsável por suspender guerras na Grécia Antiga. Porém, como provaram a todo o mundo os simples atletas soviéticos, que não recebiam salários milionários nem se sentiam acima do povo, mas que honravam a história de luta de sua pátria, as conquistas dependem, principalmente, da construção de uma nova sociedade, na qual o esporte será interligado com o trabalho e com a cultura, e todos poderão ter acesso, seja na fábrica ou universidade, à prática esportiva.

Matheus Tavares Nascimento, militante do PCR

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