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quinta-feira, 25 de abril de 2024

“É uma crise muito grave”, diz Roberto Leher, reitor da UFRJ

Roberto Leher é reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor titular da Faculdade de Educação. Foi eleito reitor em 2015, com uma participação estudantil jamais vista na história.

É conhecido nacionalmente por suas posições políticas de esquerda, na defesa dos direitos sociais e de um outro modelo de sociedade. Foi presidente da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj), de 1997 a 1999. De 2000 a 2002, o professor foi presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN).

Leher foi convidado pelo Movimento Correnteza para a mesa de abertura do Seminário Universidade Brasileira, que aconteceu nos dias 28 e 29/10, na UFRJ. O seminário contou com a presença de 170 militantes das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, que estudaram, refletiram e pensaram a estratégia do movimento.

A Verdade esteve presente no seminário e, na ocasião, o reitor da UFRJ nos concedeu uma rápida entrevista. Leher avalia o cenário da crise, a participação dos estudantes, as possibilidades para um futuro próximo e reforça a importância de uma política na perspectiva dos trabalhadores. Por Gabriel Lopo e Bruna Antonieta, estudantes de Comunicação Social da UFMG

JAV – Como você avalia o cenário de crise financeira das universidades brasileiras?

Roberto Leher – É uma crise muito grave. Estou seguro que não é uma crise conjuntural, mas uma crise estrutural que se agrava enormemente. Com a mudança na política do Estado, expressa na Emenda Constitucional 95, que congela os gastos públicos e os reduz de forma perigosa, podemos ter de fato uma situação de extremo perigo em um princípio democrático fundamental, que é a gratuidade dos estabelecimentos oficiais.

E como avalia a posição da UFRJ neste cenário?

A UFRJ tem uma tradição muito grande de defesa da educação pública. Seguramente, a comunidade, sejam seus estudantes, técnicos, professores, a própria administração da universidade, hoje, está muito preocupada.

Para você, qual a importância da participação dos estudantes?

Os estudantes estão com um peso nas costas muito grande. Certamente, a defesa da universidade e da educação pública e gratuita hoje depende muito dos estudantes, que têm dado demonstração de força e lutas generosas e impetuosas em diversos momentos da história recente. Nas Jornadas de Junho de 2013, na Greve Geral do dia 28 de abril de 2017, etc. No entanto, precisamos de um salto qualitativo. Nós precisamos de fato de uma participação de amplo protagonismo estudantil em defesa do país.

Na realidade, quando estamos discutindo hoje a agenda da educação, estamos, em última instância, falando sobre pra onde vai o Brasil. E aqui, nós temos temas fundamentais que estão todos interligados. É a reforma trabalhista, a política de terceirização das atividades fins e a reforma da previdência. Tudo isso compõe um todo. Sem uma participação ativa, vigorosa, corajosa, impetuosa dos estudantes, certamente essa luta será muito mais difícil.

Para o futuro próximo, o que você prevê em relação ao desenrolar dessa crise?

Tudo está indicando que o sentimento de indignação, que em certo momento levou a um desalento das lutas e dos movimentos, está se revertendo. É perceptível que, cada vez mais, a juventude, os trabalhadores, os sindicatos estão manifestando inquietações que geram ações. Ainda insuficiente, é certo, mas eu creio que 2018 será um ano de muito protagonismo social. E isso vai ser muito bom pro Brasil, vai ser muito bom para os trabalhadores. Vai ser muito bom para dar materialidade a conceitos construídos historicamente, como a cidadania.

Tudo isso vai depender muito da nossa capacidade de ação, de mobilização e de estarmos no espaço público. É fundamental que a sociedade brasileira não fique inerte, exerça a soberania popular. O país tem de caminhar no rumo da soberania popular.

Todas as formas de auto-organização dos coletivos, para fazer reflexões, estudos, uma intervenção qualificada na luta social têm de ser saudadas. O pior cenário, ao meu ver, é recusar a política. Ao contrário, temos de forçar a política na perspectiva dos trabalhadores.

E, certamente, quando o Movimento Correnteza convoca seus militantes para estudo, para reflexão, para pensamento estratégico sobre organização, está dando uma contribuição importante para o futuro da educação pública e mesmo da democracia.

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