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quinta-feira, 25 de abril de 2024

O ramo da pornografia

A pornografia, ramo industrial que cresce em cima do massacre de mulheres, é uma indústria que se aproveitou do caráter machista do capitalismo. Seu produto é basicamente uma forma brutal de opressão feminina. Vários estudos já comprovaram que seu consumo pode causar vícios, problemas mentais e sexuais, além de contribuir para o aumento da violência e exploração sexual de mulheres. Como toda indústria capitalista, os empresários do ramo seguem ignorando os malefícios para manter seus lucros, sem um mínimo de interesse nos efeitos sociais que essas produções trazem. Em um mundo onde a violência contra a mulher tem índices alarmantes, um ramo industrial em que praticamente tudo que é produzido possui algum tipo de ofensa a mulher deve ser encarado na altura de sua gravidade.

A exploração que a mulher sofre na sociedade capitalista possui características próprias, diferente da opressão da classe trabalhadora no geral. Na sociedade atual, as mulheres são incumbidas, além do trabalho produtivo, ao reprodutivo, que é aquele em que se cria as condições para continuar mantendo a produção, como por exemplo, cuidar da casa e dos filhos para que o marido descanse para o outro dia.  Mesmo trabalhando muito, as mulheres são as últimas a serem contratadas e as primeiras a serem demitidas. O desemprego, a dupla ou tripla jornada de trabalho, a violência doméstica e sexual, são exemplos de problemas que as mulheres enfrentam cotidianamente, e as relações desiguais entre homens e mulheres se intensificam em momentos de maior reação contra os direitos dos trabalhadores. As mulheres em particular são colocadas em situações degradantes, onde sua humanidade é negada, seu corpo objetificado e sua sexualidade vendida, inclusive como forma de entretenimento.

Em 2017, houveram cerca de 81 milhões de acessos diários em sites de pornografia, e boa parte desses acessos são feitos por crianças e adolescentes do mundo inteiro. Cerca de 88% dos jovens de 13 a 17 anos assiste pornografia semanalmente no Brasil. A pornografia se torna, para esses adolescentes, a sua principal fonte de educação sexual, pois em nossa sociedade, o tema sexualidade é tabu, e as tentativas de discuti-las com seriedade são combatidas pelos setores mais reacionários da população. Os adolescentes crescem vendo imagens em que as mulheres são colocadas em situações degradantes, violentadas das formas mais intensas possível e em que elas demonstram prazer nessa situação. Eles aprendem que as mulheres gostam de ser violentadas e as meninas aprendem que é dessa forma que devem agir, de um jeito que corresponda as expectativas masculinas numa sociedade pornificada.

Essas expectativas são baseadas em cenas que são pensadas para criar o máximo de dano físico a mulher, e que elas sempre querem sexo, mesmo que digam não, numa ótica misógina que são aprendidas e reproduzidas por seus companheiros. O pornô hardcore, mais popular entre os homens jovens, traz cenas de violência intensa, que vão desde sexo oral violento até simulação de estupros, de todas as piores formas possíveis. Por mais que possam dizer que é apenas fantasia, do imaginário para a ação é muito fácil. Acontece que a pornografia dessensibiliza o consumidor, fazendo com que ele procure sempre por algo novo. Segundo Gail Dines, ‘De acordo com o diretor pornô Mitchell Spinelli, os fãs estão se tornando “mais exigentes em querer ver coisas mais extremas”. O problema para a indústria pornográfica é que há apenas muitas maneiras de mostrar uma mulher sendo penetrada anal, vaginal e oralmente e há pouco a fazer a mulher agora além de matá-la‘.

A pornografia se introduziu na nossa sociedade de uma forma em que a hipersexualização domina o mundo do entretenimento, onde as mulheres famosas e com grande influência no comportamento e aparência das mulheres mais jovens, aparecem na grande mídia do jeito que a pornografia representa a mulher. Segundo Gail Dines, ‘Hoje quase não há pornografia de soft-core na internet, porque a maioria migrou para a cultura pop. O que nos resta é uma indústria pornográfica que agora é tão hardcore que até mesmo alguns dos grandes produtores e diretores de pornografia ficam surpresos com o quão longe eles podem ir ‘. Com a glamourização da pornografia na grande mídia, as mulheres atribuem o comportamento sexual masculino violento, igual aquilo que ele assiste, como normal, e acabam naturalizando abusos desde muito novas, pois não tem a oportunidade de conhecer relações em que sua humanidade é reconhecida.

 

Com todos os prejuízos as mulheres que a pornografia representa, é dever de todos que acreditam na dignidade da mulher o combate a essa indústria. O que os pornógrafos fazem é mercantilizar o sentimento humano, nossa sexualidade. E o impacto que isso causa na classe trabalhadora é muito violento. De um lado, falam que a mulher merece ser considerada humana, do outro, adolescentes e jovens crescem criando fantasias sexuais em que as mulheres são tratadas das piores formas possíveis. Do ponto de vista político, isso causa uma maior desunião entre os trabalhadores, pois a desigualdade existente se transforma em material para vídeos que são consumidos de forma rotineira, habitual, que colocam o outro como um objeto para satisfação de um superior. Um dos efeitos disso é que os usuários se tornam menos sensíveis sobre o direito das mulheres e mais tolerante a situações de violência. Sem mulheres não há revolução. E não há revolução onde a dignidade de metade da população é ignorada.

Ana Carolina

 

Fontes:

https://medium.com/@solemgemeos/vivendo-em-uma-cultura-pornificada-5b6e9a8ca4ae;

ZILLMANN, D. e BRYANT, J. Effects of massive exposure to pornography. 1988.

 

 

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