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sexta-feira, 29 de março de 2024

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) luta contra despejos em São Paulo

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DESPEJO ZERO – Quase duas mil famílias foram despejadas de suas casas em São Paulo. (Foto: Jorge Ferreira/Jornal A Verdade)
João Coelho

SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP) – A luta pela moradia no Brasil é histórica, ligada à dura realidade de um povo que teve seu país “formado” a partir do genocídio e do roubo das terras da população originária. Hoje, com 84,4% da população brasileira vivendo em áreas urbanas e com um déficit habitacional de 7,8 milhões de famílias, realizar uma profunda reforma urbana que garanta moradia digna a todos os trabalhadores é uma das principais bandeiras do movimento popular no país.

Com a pandemia da Covid-19 e a profunda crise econômica acelerada pela chegada da doença, o problema do déficit habitacional se tornou mais claro no Brasil: além de sofrer com moradias precárias ou em áreas de risco, as famílias pobres são massacradas pelo aluguel, sendo que mais da metade das famílias sem moradia no país paga aluguéis excessivos, ou seja, aluguéis que comprometem mais de 30% da renda familiar para quem ganha até três salários mínimos. Nessas condições, passando todos os meses a incerteza de conseguir ou não pagar o aluguel, muitos trabalhadores recorrem às ocupações urbanas para não serem despejados.

No Estado de São Paulo a população total é de 44 milhões de pessoas e o déficit habitacional de 1,8 milhão de imóveis, o que leva a uma intensa luta das famílias pobres por moradia. Apenas na Capital são 206 ocupações, a maioria no Centro, onde moram cerca de 45 mil famílias.

Mas mesmo durante a pandemia, de março a junho deste ano, foram realizadas 12 ações de despejo e reintegração de posse no Estado, deixando mais de duas mil famílias desabrigadas, o que significa o dobro de remoções em relação aos três primeiros meses do mês; e o número segue crescendo com novos despejos que já ocorreram ou que estão em vias de serem realizados, como o de 180 famílias em Diadema que ocupavam o terreno embaixo de um viaduto da Rodovia dos Imigrantes e das 250 famílias do Acampamento dos Engenheiros, que ocupam um terreno em São Bernardo há mais de 20 anos e que podem ser despejadas a qualquer momento.

Devido à crise e ao crescimento dos despejos, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) tem intensificado as ações da Campanha Despejo Zero: pela vida no campo e na cidade, fortalecendo a luta pela moradia digna em todo o Estado. Além de realizar reuniões em vários bairros da região metropolitana organizando famílias que pagam aluguel para lutar pela garantia de sua moradia, o movimento tem reunido famílias de ocupações ou comunidades ameaçadas de despejo para fortalecer a campanha de denúncias e a resistência contra o crime que é despejar famílias na pandemia.

No dia 12 de agosto, o movimento realizou um ato unificado do Estado, na cidade de São Bernardo do Campo, levando mais de cem pessoas às ruas para pressionar o fim dos despejos e a garantia de moradia para o povo pobre. Alguns trabalhadores vieram de longe, como é o caso de Cirilo Conceição, que viajou cerca de 80 km para participar do ato: “Sou de Francisco Morato, uma cidade abandonada pelos governantes. Governantes corruptos e omissos que permitiram que meu filho viesse a falecer. Quem me apoiou não foi nenhum governante, foi o povo, foi o MLB. Convidamos vocês a abraçarem essa causa porque essa é a causa de todos nós trabalhadores, estudantes, que pagamos aluguel, que somos despejados. O governo é o culpado disso, o governo não tá nem aí pra nós, eles querem é matar nossos filhos. Eles abandonam nossos bairros. Na minha rua um carro não foi capaz de entrar pra prestar socorro ao meu filho. Eu abracei e vou continuar abraçando o MLB, essa ferramenta dos trabalhadores para lutar por uma moradia digna”.

No fim da marcha, que durou mais de uma hora, a Guarda Civil Municipal tentou reprimir as famílias demonstrando a face opressora do Estado. Ao todo foram mobilizadas cerca de 30 viaturas da GCM e da PM, e algumas mulheres manifestantes foram covardemente atacadas com socos e spray de pimenta, mas logo um conjunto de famílias se aproximou, afastou os policiais e organizou um cordão de isolamento para impedir novas agressões.

Uma das coordenadoras do MLB agredidas, Thais Gasparini, logo após a manifestação disse ao Jornal: “Essa repressão, esse uso da violência para calar quem se manifesta é um espelho do que acontece na periferia, em que essa mesma GCM é utilizada pra derrubar as casas do povo pobre. Isso precisa acabar! Por isso nos manteremos firmes na luta, combatendo a exploração, a especulação imobiliária e a política dos ricos, dos latifundiários e dos banqueiros”.

A luta do MLB cresce em São Paulo, em várias cidades como São Bernardo, Diadema e Mauá, na Baixada Santista e em várias regiões da capital, como São Matheus (Zona Leste) e Jaguaré (Zona Oeste). A falta de moradia é um problema gigante no Estado mais rico do país, onde a riqueza dos grandes capitalistas se contrasta com a situação de pobreza da população trabalhadora, que vive assombrada pelo aluguel, pelo desemprego e por um poder público que a cada dia reprime e retira mais o direito dos pobres.

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