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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Truculência contra trabalhadores sem-terra

DESPEJO – Polícia Militar despeja famílias que plantavam feijão no sul de Minas Gerais. (Foto: Reprodução/Cassio Diniz)
Guilherme Piva

BARBACENA (MG) – A cidade de Campo do Meio, no sul de Minas, tomou o noticiário da grande mídia nacional. Um agosto amargo para as famílias de trabalhadores sem-terra que viveram o despejo truculento contra o Acampamento Quilombo Campo Grande, organizado MST em um terreno que pertencia à Usina Ariadnópolis, que faliu. A reintegração de posse contrariava o acordo feito na mesa de negociação sobre o conflito agrário, que havia estabelecido que as famílias permaneceriam no local no mínimo enquanto houvesse a necessidade de isolamento social devido à pandemia da Covid-19.

A Polícia Militar, com uso do Batalhão de Choque, promoveu um despejo violento e criminoso. A mando do governador Romeu Zema, os militares avançaram sobre as famílias, usaram bombas de efeito moral, balas, drones, feriram moradores e espalharam violência e destruição. Atearam fogo nas plantações e investiram contra o acampamento e, com um helicóptero, espalhavam a fuligem e as chamas.

Inicialmente, foram retiradas oito famílias, que permanecem com o MST. Duas delas receberam apoio da Prefeitura de Campo do Meio e retornarão, na próxima semana, ao Acampamento. Posteriormente, mais seis famílias foram retiradas, totalizando 14 famílias desalojadas – 36 pessoas, das quais 16 são crianças. Foram três dias de cerco e brutalidade ininterruptos, com as famílias resistindo como podiam para não permitir os ataques do enorme aparato militar deslocado para a região. Apesar de atacarem, a resistência foi firme e impediu a retirada dos assetados.

O MST denuncia que fazendeiros continuam avançando de maneira ilegal com dois tratores, tendo entrado em parte do Quilombo Campo Grande, e também em parte dos Acampamentos Rosa Luxemburgo e Irmã Dorothy. Ao tentar registrar Boletim de Ocorrência para denunciar a ilegalidade do despejo, o pastor Otelino, agricultor orgânico certificado, integrante da cooperativa e assentado do local, foi preso de maneira arbitrária, por um processo já caducado.

A Escola Popular Eduardo Galeano foi o primeiro espaço atacado e destruído no despejo, causando indignação e motivando uma campanha nacional de arrecadação solidária do Movimento. Junto a universidades da região e organizações de agricultura orgânica e agroecológica, o MST busca não só a reconstrução do espaço, mas também seu fortalecimento, trabalhando para retomar as atividades da Escola Eduardo Galeano e estabelecer um centro de formação em agroecologia que seja referência para toda a região.

O Quilombo Campo Grande é constituído por 11 acampamentos, abrigando 450 famílias – cerca de 2 mil pessoas – em quase 4 mil hectares. A área da sede da Usina corresponde a aproximadamente 363 hectares. Desses, 300 hectares foram adjudiciados pela União devido às dívidas de Jovane Moreira – que passam de R$ 1,8 bilhão – e desapropriados para fins de reforma agrária, sendo criado ali o assentamento Nova Conquista. Assim, a reintegração de posse do processo corresponde a apenas 52 dos 63 hectares restantes. No entanto, o MST denuncia que, além de adentrar o lote de duas famílias acampadas, os tratores também invadiram terras adjacentes do assentamento Nova Conquista.

O despejo causou grande solidariedade internacional. Movimentos populares de vários países latino-americanos denunciaram o crime do governo estadual, e veículos de imprensa internacional também noticiaram o acontecimento. A ONU pediu explicações ao Governo Bolsonaro sobre o despejo em meio à pandemia. Segundo denunciado pelos militantes do MST e confirmado pelos dados oficiais, o despejo aumentou o número de casos de Covid-19 em Campo do Meio.

Segundo Tuíra Tule, da Coordenação Estadual do MST, o Quilombo Campo Grande possui uma lavoura perene com quase 2 milhões de pés de café em mais de 660 hectares, com a produção de 15.000 sacas/ano do Café Guaií. Conta ainda com mais de 1.000 hectares de produção de lavoura branca (milho, mandioca, gergelim, amendoim, com grande diversidade), mais de 50 hectares de horta agroecológica, mais de 1.000 cabeças de gado e mais de 25 mil galinhas nas terras, que antes eram dominadas pela monocultura de cana-de-açúcar, gerando emprego para as famílias acampadas, com a cooperativa Camponesa, estabelecida em 2012.

Os acampados empregam uma produção sustentável, minimizando os impactos da agricultura local sobre o meio ambiente. Já foram plantadas na região mais de 150 mil árvores entre frutíferas e plantas nativas, preservando também as águas nascentes locais. Em meio à pandemia, o MST realizou três ações de solidariedade na cidade de Campo do Meio, doando três toneladas de alimentos, fazendo assim o que o governo de Minas, que na pandemia prioriza o lucro e expõe as famílias pobres ao vírus com despejos criminosos, nunca fez.

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