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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Britanite: exemplo de luta em Curitiba

NECESSIDADE – De acordo com Sérgio, a área ocupada possui mais de 30 alqueires, mas a reivindicação é de apenas três para abrigar somente as famílias que já estão lá. (Foto: Reprodução/Jornal A Verdade)
“Trata-se de uma luta histórica, a ser realizada todos os dias por trabalhadores em todas as esferas da sociedade, em que cada passo à frente significa uma conquista, um novo direito, um sonho mais próximo de ser realizado.”
Cezar Prado e Vinícius Ramos

CURITIBA (PR) – Em 2019, o IBGE apontou que 52 milhões de brasileiros se encontravam em situação de pobreza, ou seja, sobrevivendo com menos de R$ 436 por mês, e 13 milhões em extrema pobreza, sobrevivendo com menos de R$ 151 por mês. De lá pra cá, no governo do fascista Jair Bolsonaro, o desemprego aumentou ainda mais, agravando-se na pandemia, e o preço dos alimentos disparou, chegando a subir aproximadamente 20%, especialmente o arroz e o feijão. Além disso, em 2020, o índice de referência para o valor do aluguel ficou 23,14% mais caro, enquanto, do outro lado, o salário mínimo mal cobriu a inflação.

Esses números não representam, aqui, alterações que ocorrem por acaso na vida dos trabalhadores, mas um movimento contínuo e histórico de expropriação de terras daqueles e daquelas que mais precisam delas, um movimento próprio ao modo de produção capitalista que visa a impossibilitar o trabalhador de ter a própria terra, cultivar plantio nela e viver de modo autônomo sem precisar recorrer a um capitalista (aquele que visa a acumular terras e instrumentos de trabalho para si, ficando rico explorando os outros) para suprir suas necessidades mais básicas de alimentação e de moradia.

Assim, a situação do povo trabalhador no Brasil tem ficado cada vez mais difícil, vendo-se obrigado a buscar sempre novas alternativas para sobreviver. Uma delas está acontecendo em Curitiba (PR), no bairro Tatuquara, zona sul da cidade, onde 300 famílias estão ocupando, desde o ano passado, um terreno abandonado há mais de 20 anos. É a segunda ocupação realizada na cidade nesses últimos seis meses e poderia ser a terceira, caso outra ocupação, também no Tatuquara, não tivesse sido alvo de despejo. Ou seja, é evidente como o encarecimento do custo de vida afeta a população da capital paranaense – às vezes dita uma “capital chique e de gente rica”.

Na visita à ocupação, o Jornal A Verdade conversou com Sérgio, um dos coordenadores, e ele contou que ali funcionava uma pedreira, da empresa Britanite, que abandonou o terreno após uma explosão com dinamite. De acordo com a pesquisa realizada pelo jornal, uma explosão aconteceu no ano de 1969, destruindo todo o prédio, vitimando um jovem trabalhador de apenas 22 anos e ferindo outros três.

Essa empresa tem um histórico de acidentes com explosões e mortes acontecidos em outras cidades: em 2000, três trabalhadores morreram e outros quatro ficaram feridos; e, em 2004, outra explosão ocorreu e vitimou mais dois trabalhadores, ferindo gravemente um deles. Assim, percebe-se que a empresa não aprendeu com os acidentes, pois não garante plenas condições de segurança para os trabalhadores, demonstrando pouco respeito com a vida destes.

Ainda de acordo com Sérgio, a área ocupada possui mais de 30 alqueires, mas a reivindicação é de apenas três para abrigar somente as famílias que já estão lá. Embora uma reintegração de posse tenha sido expedida na metade de janeiro, o processo está parado na Justiça, onde o Ministério Público e a Defensoria estão analisando a situação e preparando um parecer.

Enquanto isso, a ocupação segue organizada e já conta com várias casas construídas, dois poços artesianos para prover água e, em andamento, também a instalação de tubos PVC para levá-la a todos, bem como os primeiros postes improvisados para a rede elétrica. A ocupação conta ainda com cozinha comunitária, onde são preparados os alimentos recebidos como doação.

Claudemir, um dos primeiros moradores da ocupação, conta que fez esta escolha porque sua renda ia para o aluguel e, com as demais contas, o orçamento ficava muito apertado, tendo ainda sua família para sustentar. “Não é a primeira vez que participo de uma ocupação, pois, nas outras vezes, fomos despejados, já que ninguém consegue ser contemplado pelos programas do Governo. Meu desejo é ter minha casa e criar uns animais no meu novo quintal”.

Trata-se de uma luta histórica, a ser realizada todos os dias por trabalhadores em todas as esferas da sociedade, em que cada passo à frente significa uma conquista, um novo direito, um sonho mais próximo de ser realizado.

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