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sexta-feira, 29 de março de 2024

Apagão na ciência brasileira

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PRECARIZAÇÃO – Incêndio no Museu Nacional foi um dos muitos casos que demonstram o descaso com a ciência e a produção de conhecimento noo Brasil (Foto: Reprodução)

Carlos Fehlberg

ESPÍRITO SANTO – Lembro que, há alguns anos, buscando reportagens para trabalhar em sala de aula, passei por uma que dizia que “a ciência brasileira estava perto de sua meia-noite”. O tempo foi postergado, mas chegou. Com queima de servidor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e provável inexistência de backup, existem grandes chances de uma quantidade tremenda de dados se perder.

Alguns dias depois de manifestantes incendiarem estátua de Borba Gato em São Paulo, levantando uma discussão sobre o apagamento do patrimônio histórico e cultural brasileiro, outra fonte de memória se queimou: um servidor do CNPq. Não havia backup. Ainda não se sabe o tamanho do estrago, que pode ir de alterações no Currículo Lattes a folhas de pagamento de bolsistas.

Com isso, a ciência sofre mais um ataque: registro e memória fazem parte do fazer científico, além do impacto negativo que uma falha dessa magnitude pode ter no financiamento de pesquisas. Uma ciência que já possui tremenda dificuldade de se manter e produz resultados incríveis em nível mundial, tendo as melhores universidades da América Latina, pode (e vai) se fragilizar ainda mais.

Falta de investimento

A falta de investimento na ciência é um problema de longa data. Apesar de termos visto um crescimento nos aportes do Governo Federal para as pesquisas em épocas passadas, nenhum investimento conseguiu compensar os séculos de atraso. E nos últimos anos, mais cortes têm produzido novamente um descompasso. A ciência brasileira é de excelência, apesar do Estado brasileiro.

A notícia do começo do texto, por exemplo, é de 2017 e nela falava-se sobre o possível corte de luz no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e como isso afetaria a internet em diversas instituições científicas.

A infraestrutura antiga e precária do CNPq é a provável causa de um acidente com tamanho impacto. Não é de hoje que se perde a memória brasileira. Lembremos dos incêndios no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018, e agora na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. E tudo isso poderia ser de alguma forma evitado.

Lembremos também daquilo que ainda nem pôde se tornar memória: os cortes na manutenção do Supercomputador Santos Dumont, o anúncio de desligamento do Supercomputador Tupã, o desmonte do Detector de Ondas Gravitacionais Mario Schenberg.

Investimentos em ciência e educação, já!

É fundamental que retomemos os investimentos em Ciência e Educação em nosso país, mas isso demanda alguns outros passos. Primeiro, a derrubada do Governo Bolsonaro, que com seus ministros da Educação, Milton Ribeiro, e da Ciência, Marcos Pontes, só faz atacar pesquisadores e professores do Brasil.

É necessária a revogação da EC 95, que impede maiores investimentos pelos próximos 20 anos. Só com a revogação desta lei poderemos voltar a investir nas universidades, institutos federais e instituições de pesquisa do Brasil. Investimento em infraestrutura, em pessoal, em formação, em colaborações.

Mais que isso, é necessário colocar a Ciência e a Educação a serviço do povo brasileiro. A produção de nossa ciência acaba sendo ditada pelo capital internacional, ao qual o Governo Bolsonaro é subordinado, que delega ao Brasil apenas um papel secundário.

Ressaltamos novamente: apesar de todos os ataques, a Ciência e Educação brasileira resistem. Mas é preciso que não seja mais necessário resistir e que seja possível criar, inovar e libertar.

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