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quinta-feira, 18 de abril de 2024

A confusão entre cristianismo primitivo e comunismo científico: a luta entre Wilhelm Weitling e Karl Marx

Marx e Weitling. Edição: Thales Caramante

Durante o desenvolvimento da linha do partido junto às massas, devemos permanecer vigilantes e fiéis aos princípios científicos e dialéticos marxista-leninistas e recordar da luta ideológica entre Karl Marx e Wilhelm Weitling sobre cristianismo primitivo e comunismo científico.

Thales Caramante


MOGI DAS CRUZES (SP) — Nosso partido se torna dia a dia uma referência às massas e mais cresce sua influência nelas. Diante desse crescimento, há uma sorte de novas ideias, concepções e experiencias acumuladas de cada novo ou nova militante, ou mesmo costumes de militantes mais experimentados. Nesse processo, nosso partido não pode baixar sua vigilância ideológica diante das necessidades de crescimento de sua influência nas massas. Precisa ser uma força vivificante da teoria cientifica do marxismo-leninismo e reafirmar suas posições e princípios, sem rebaixar a ciência desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels, aplicada por Vladimir Lênin, José Stálin e Enver Hoxha.

Uma dessas concepções é a relação direta que diversos escritores e escritoras fazem do cristianismo primitivo com o comunismo. Evidentemente as relações comunais entre o cristianismo primitivo e o comunismo primitivo carregam ao redor de si uma série de semelhanças, mas o erro dos autores e autoras que abordam esse assunto reside na concepção do comunismo primitivo não ser o fim estratégico dos comunistas atuais, tampouco que a existência do comunismo primitivo de comunidades cristãs rudimentares no processo histórico do desenvolvimento da religião significa ao reivindicável, até porque toda a existência daquelas condições levou ao desenvolvimento direto das atuais contradições antagônicas que existem na sociedade hoje entre burguesia e proletariado.

Nesse tópico é essencial relembrar a luta ideológica entre Karl Marx, defensor da ciência e da dialética como instrumentos essenciais para o desenvolvimento do comunismo, e Wilhelm Weitling, como representante direto do comunismo associado ao cristianismo primitivo e Jesus Cristo como expoente revolucionário comunista.

Karl Marx ensina com base em uma profunda análise cientifica-filosófica que a “crítica da religião é o pressuposto de toda a crítica”, ou seja, que o pressuposto de toda crítica subsequente perpassa pela crítica a religião. Já que “a crítica da religião desengana o homem a fim de que ele pense, aja, configure a sua realidade como um homem desenganado, que chegou à razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo, em torno de seu verdadeiro sol. A crítica do céu se transforma, assim, na crítica da terra, a crítica da religião, na crítica do direito, a crítica da teologia, na crítica da política.

O Embate Ideológico que Separou os Revolucionários dos Utópicos

Aqueles com os atuais desvios religiosos detém o mesmo erro do histórico revolucionário alemão Wilhelm Weitling, que ficou caracterizado por Marx mais tarde como “comunista utópico”. Como David Riazanov coloca, Weitling era um operário muito capacitado, autodidata, dono de considerável talento literário, sentindo-se um verdadeiro profeta, não suportava crítica alguma e guardava particular receio para com os homens instruídos que acolhiam com ceticismo suas manias.

Weitling era um exímio revolucionário, com uma paixão prática que confundia todos os políticos e intelectuais daquele tempo com suas formas de agir. Marx, ao contrário da tendencia, escreveu e o examinou como um exemplo revolucionário, como um ser de grande iniciativa proletária enquanto deixava os intelectuais burgueses alemães completamente superados: “No que se refere ao nível de instrução ou o potencial de formação dos trabalhadores alemães em geral, faço menção aos escritos geniais de Weitling, que no aspecto teórico muitas vezes vão além do próprio Proudhon, por mais que fiquem aquém dele no aspecto da exposição. Onde a burguesia encontraria – inclusive entre seus filósofos e escribas – obra similar a Garantias de Harmonia e Liberdade, de Weitling, para apresentar em relação à emancipação da burguesia – a sua emancipação política? A comparação entre a mediocridade sóbria e acanhada da literatura política alemã e essa estreia literária descomunal e brilhante dos trabalhadores alemães; a comparação entre esses gigantescos sapatos infantis do proletariado e o nanismo dos desgastados sapatos políticos da burguesia alemã leva necessariamente a profetizar um porte atlético de gigantesca estatura. É preciso reconhecer que o proletariado alemão constitui o teórico do proletariado europeu, assim como o proletariado inglês é seu economista político e o proletariado francês seu político”.

Porém, o que fez Marx e Engels romperem de vez com Weitling era seu apego a religião. Weitling queria unificar o comunismo com o cristianismo primitivo original, era um seguidor fiel do filósofo clerical francês Robert de Lamennais; para atrair as massas julgava ser necessário recorrer ao sentimento religioso do povo; fazia de Cristo um precursor do comunismo. Em seu livro Evangelho dos Pobres Pecadores, Weitling profetizou o comunismo moderno de volta ao cristianismo primitivo.

O rompimento de Marx e Engels com Wilhelm se deram no principalmente no conceito religioso e em outras questões diversas, mas é notável e conhecido a reação furiosa de Marx em um debate direto com Weitling em uma reunião, David Riazanov coloca: “gritava Marx, golpeando a mesa com o punho: ‘a ignorância [a religião, a ausência de teoria científica revolucionária] jamais ajudou a ninguém e nunca foi útil para algo!’ Estas palavras são muito verossímeis”. Wilhelm Weitling também era seguidor fiel de Thomas Müntzer — reformador protestante radical. Apesar de seu papel progressista no século 16, Engels destaca em seu artigo sobre As Guerras Camponesas na Alemanha, que as ideias de Müntzer não passavam de uma antecipação do comunismo através da fantasia, ou como Engels chamou na Crítica ao Programa de Enfurt: “absurdo”. O programa de Thomas, exigia o estabelecimento imediato do “Reino de Deus”, do profetizado “Milênio na Terra”. Isso seria realizado com o retorno da Igreja às suas origens e a abolição de todas as instituições que estavam em conflito com o que Müntzer concebeu como “cristianismo original”. Pelo reino de Deus, Müntzer nada mais entendia do que um estado de sociedade sem diferenças de classe, sem propriedade privada e sem poderes de estado sobrepostos aos membros da sociedade. Todas as autoridades existentes, na medida em que não se submetessem e se juntassem à revolução devem ser derrubadas, todo trabalho e toda propriedade devem ser compartilhados em comum, e igualdade completa deve ser introduzida. Em sua concepção, a união do povo deveria ser organizada para realizar este programa, não apenas em toda a Alemanha, mas em toda a cristandade. A fidelidade de Weitling a Müntzer impede o aprofundamento cientifico do programa comunista necessário para ser aplicado na realidade objetiva, já que o Milênio na Terra é uma profecia marcada exatamente pela fantasia do retorno de Cristo à terra e o aprisionamento de Lúcifer por mil anos. Marx e Engels, então, rompem violentamente com Weitling e mantém o princípio de que “a religião é o ópio do povo” e tratam de transformar o socialismo de utopia em ciência através do materialismo e da dialética, ligando o socialismo com a teoria do desenvolvimento em geral, da Lógica com maiúscula; ligando o sistema socialista como a necessidade da história da filosofia enquanto ciência especial, enquanto campo especial do saber. Superando, por vez, a ligação do comunismo com a “miséria religiosa”.

Assim, expressões como “a religião é o ópio do povo” e “miséria religiosa” não se tornam apenas metáforas coloridas, mas sim são as exatas e poderosas expressões da essência da questão social, a pedra angular de toda a visão marxista sobre a religião. Dizer o contrário é, então, um desvio de direita já reconhecido, já criticado e já expurgado diversas vezes do movimento comunista internacional. O aprofundamento da formação da filosofia marxista-leninista nos quadros do partido é o caminho para a superação dessas concepções atrasadas idealistas, já que a filosofia se contrapõe à visão religiosa, por um lado, como materialismo e, por outro, como dialética. O materialismo e a dialética são inseparáveis um do outro, conformando em essência dois aspectos de uma mesma posição: da posição da consideração pensante dos objetos.

Não se trata, assim, de corrigir um desvio de direita com um desvio de esquerda, declarando guerra à religião, pois isso apenas estimula o aprofundamento do clericalismo militante entre os cristãos. Mas utilizando as páginas do jornal A Verdade, aplicando verdadeiramente a linha marxista-leninista em defesa dos princípios científicos. Como ensina Lênin: “a propaganda ateísta da social-democracia deve ser subordinada a sua tarefa básica: o desenvolvimento da luta de classes entre as massas exploradas contra seus exploradores”. Ao passo que em dado momento é necessário fazer propaganda ateísta, ao mesmo tempo que em outro dado momento é necessário não fazer propaganda ateísta alguma, como Lênin ensina muito bem no exemplo dos operários ateus e religiosos de uma fábrica. O que não devemos em hipótese alguma é: propaganda das ideias idealistas, metafisicas e conservadoras religiosas. “Devemos combater a religião — esse é o ABC de todo o materialismo e, consequentemente, do marxismo. Mas o marxismo não é um materialismo que parou no ABC. O marxismo vai mais longe. Dizemos: devemos saber combater a religião e, para isso, devemos explicar a fonte da fé e da religião entre as massas de uma forma materialista”, finaliza Lênin.

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