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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Rapper Don L lança álbum que homenageia heróis do PCR

Don L em clipe da sua música “favela venceu”.

Ícaro Vergne, UJR.

No dia 26 de novembro, Don L lançou o seu novo álbum “Roteiro pra Aïnouz (Vol. 2)” com forte conteúdo crítico ao capitalismo. É possível perceber que, em suas músicas, o artista ressalta nomes de heróis do povo brasileiro como Amaro Luís de Carvalho, Amaro Felix, Manoel Aleixo, Carlos Marighella, Dandara, além de outros revolucionários como Che Guevara, Thomas Sankara, Vladmir Lenin, Tupac Amaru e Assata Shakur.

O álbum inicia com um interlúdio em que o Pastor Júnior Trovão, conhecido por afirmar que um novo vírus está vindo para “resetar a humanidade”, faz um discurso. E logo em seguida, a primeira música do álbum, “vila rica” é apresentada. Em contradição com o interlúdio que antecedeu, Don L faz fortes críticas aos que usam religiões para enriquecer e enganar o povo: “Se Deus é o tal metal, é o capital, é terra banhada a sangue escravizado. Jesus nunca estaria do seu lado!” Verso que se repete algumas vezes ao longo da música.

É possível perceber que o artista também utiliza bastante referências da história do Brasil, da escravidão e do extermínio dos povos indígenas. O rapper nordestino fala em “tomar o ouro”, “saquear engenhos”, “matar soldados do rei gringo” e completa com “é isso que eu chamo cobrar o quinto”, numa referência ao imposto que era cobrado por Portugal, em que 20% do ouro extraído no Brasil deveria ser sua propriedade.

Ainda nessa musica, Don L diz “na mata fechada de tocaia, uns caras de isca, as minas de carabina, o terror dos bandeirantes”, construindo um cenário revolucionário, onde mais uma vez retorna à nossa história ao dizer que somos “o terror dos bandeirantes”, responsáveis por dizimar os povos originários e sua cultura. E logo em seguida acrescenta: “na real já foi uma revolução, já foi uma comunidade, por cima de sangue derramado, já fomos quilombos e cidades, Canudos e Palmares” mostrando que ao contrário do que a burguesia tenta propagandear, a história do povo brasileiro é de muita luta, um povo que sempre resistiu em revoltas, quilombos e comunidades como Canudos.

Na terceira faixa do álbum, “A todo vapor”, o cearense diz em um verso “eu que um dia me senti um gênio, quando imaginei a favela usar as armas dela naipe Marighella, já me sinto meio ingênuo naipe Marcinho VP do Santa Marta acreditando em velha malandragem aqui” onde são comparadas duas figuras que vieram da classe trabalhadora e que empunharam armas, mas com propósitos diferentes. Nesse sentido, Marcinho VP é retratado como “ingênuo”, que acredita “em velha malandragem”, em oposição à Marighella que empunhou armas de forma consciente pela libertação do povo, em prol de uma sociedade mais justa e contra uma ditadura militar fascista.

A música seguinte se chama “Pânico de Nada”, onde o artista descreve um contexto de grandes revoltas: “eu vejo uma viatura em chamas, quatro favelados na ferrari, um irmão de glock na capota, quadrada na mão de todo bonde, a cidade é nossa, a cidade é nossa, guerrilha urbana, guerra santa, uma delegacia em chamas”. Assim como a letra, o clipe se passa num cenário revolucionário, com guerrilheiros armados e é possível identificar uma referência ao incêndio numa delegacia dos EUA. Na ocasião, as revoltas antirracistas se iniciaram após o assassinato do negro George Floyd por policiais.

O artista também fez uma denúncia à política de guerra às drogas, na prática uma verdadeira guerra aos pobres em curso no Brasil: “a gente já era combatente, nos consideravam drogas e guerra às drogas não era sobre os entorpecentes”. E conclui com o verso “na cidadela entre barricadas, em frente a mansão, o sentinela, a saudação do lado de dentro cem caras próxima missão: a força aérea” onde imagina a tomada do poder pelos revolucionários.

“Pela Boca” é outra música que apresenta uma série de denúncias ao sistema capitalista: “hoje eles que morrem pela boca, que se foda seus dólares na bolsa, suas empresas agora são do povo, suas terras são floresta de novo. Suas mansões, escolas, seus soldados mortos pelos nossos, quero ver cê falar com o gogó na forca agora”. Nos versos, Don L traz ao debate ideias contrárias aos interesses da burguesia e que constam no programa da Unidade Popular (UP) como “controle social de todos os monopólios e consórcios capitalistas e dos meios de produção nos setores estratégicos da economia” e “reestatização das estatais privatizadas”.

O artista denunciou também o latifúndio e o desmatamento das florestas, além do imperialismo e da bolsa de valores, que também estão contemplados no programa da UP que diz: “defesa e proteção do meio ambiente e da natureza; proibição da destruição de florestas”; “fim do monopólio privado da terra” e “fim da espoliação imperialista sobre a economia nacional; estancamento da sangria de nossos recursos para o exterior, pondo fim às remessas de lucros, dividendos, pagamento de royalties e pagamentos da dívida externa”.

“Um brinde por Amaro, um brinde por Aleixo, um brinde por Ajuricaba, guerrilheiro sim chapa, descendemos desses sonhos e nunca morremos. Nos mantivemos em cada assembleia, cada célula, cada rincão, viela, em cada pregação, cada cеla, cada missão contando cédulas, comprando as bélicas, voltamos pra ficar e bó nessa”. Esse verso revela toda a emoção contida na música “volta da vitória”, em que Don L homenageia heróis que deram a sua vida no Brasil na luta contra a ditadura militar fascista e em prol de um mundo novo, melhor e mais justo.

Comunistas que apesar de cruelmente assassinados, vivem e resistem em nossas memórias, porque suas ideias não morreram, sobreviveram, e foram herdadas pelas novas gerações que tem a missão histórica de construir o socialismo no Brasil e no mundo, pois como disse o poeta Bertolt Bretch em “Elogio ao Partido”: “o individuo pode ser liquidado, mas o partido não pode ser liquidado” e por isso gritamos bem alto: O PCR vive, luta e avança! Amaro Luís de Carvalho, Amaro Felix e Manoel Aleixo presentes! Porque nossos heróis vivem em cada um de nós e são exemplos revolucionários como esses e como o de Dessalines, cacique Piquerobi, Dandara e Leila Khaled, também citados na música, que o artista homenageia em suas letras.

O cenário se passa num contexto pós-revolucionário, onde há uma comemoração popular expressa nos versos: “um brinde pra esse dia que nós prendemos a polícia”, “triunfamos e eles terão que retroceder, novo alvorecer e agora terão que reconhecer a volta da vitória” e “desfilando em conversíveis na Paulista com as armas para o ar eu sabia que viria o dia“, além do refrão que acompanha a música: “us mano pow, é a volta da vitória, as mina pá, com as armas pro ar”.

A faixa seguinte se chama “favela venceu”, onde existem denúncias à polícia e a milícia, além de homenagear em seu verso Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018 no Rio de Janeiro: “a gente é justiça, eles polícia, Marielle vive, eles milícia, a gente é milícia também só que zapatista”.

O segundo verso se inicia com: “a gente é horta comunitária, eles condomínio dentro do shopping, a gente é subcomandante Marcos, eles são cabo da rota lambendo bota” e prossegue com “temos Dina Di e Marighella, amamos Sabota e Milton Santos, tamo nos salões e nas vielas, saudamos Comandanta Ramona”. Em sua letra, Don L homenageia o exemplo revolucionário dos zapatistas no México e saúda figuras importantes de nossa cultura popular como os rappers Sabotage e Dina Di, além do geógrafo Milton Santos e do revolucionário Carlos Marighella, ressaltando que não estão mortos, mas seguem vivos “nos salões e nas vielas”.

O Jornal A Verdade indica aos seus leitores o álbum “Roteiro pra Aïnouz Vol. 2″ de Don L. É sempre de extrema importância lutar pela memória daqueles que deram a sua vida na luta contra o capitalismo e pelo socialismo. Nesse sentido, o álbum cumpre um papel fundamental. É preciso que se tenham cada vez mais artistas engajados com a libertação de nosso povo e compromissados com a luta pela revolução, compreendendo o papel da arte como fundamental para temperar o nosso povo com consciência de classe para a construção do socialismo, como bem dizia o revolucionário albanês Enver Hoxha.

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