UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 24 de março de 2023

Após pressão, governo inclui representante da comunidade árabe-muçulmana em GT contra extremismo

Após pressão, Grupo de Trabalho criado para auxiliar o ministro Silvio Almeida no combate ao extremismo e discurso de ódio incluí representação da comunidade árabe-muçulmana, mas mantém sionista.

Thales Santos da Cruz e Rhayane Alves Gomes | Niterói – RJ


OPNIÃO – No último dia 22, foi publicado no Diário Oficial da União a criação do Grupo de Trabalho do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, idealizado pelo ministro Silvio Almeida, que nasce com o objetivo de pensar e apresentar estratégias no combate ao discurso de ódio e extremismo no país. Para isso, foi escolhido um time de especialistas, estudiosos, comunicadores e influenciadores digitais que estão relacionados ao tema.

O discurso de ódio se manifesta de diversas formas: através do racismo, racismo religioso, misoginia, LGBTIA+fobia etc. Não há como negar a importância da ação, já que vemos um crescimento desse tipo de discursos, especialmente após quatro anos do governo do fascista e genocida Bolsonaro, que ajudou na sua disseminação, que afeta principalmente setores mais marginalizados da sociedade.

Justamente por isso, não há como deixar de notar como a comunidade árabe-muçulmana foi negligenciada na composição original do GT. Somente depois de 10 dias, foi incluído um representante desta comunidade, diante da enorme pressão de movimentos sociais. Em contraposição, o grupo conta, desde o início, com a representação de um sionista defensor de Israel.

Mas, diferentemente do que foi anunciado grande mídia, o representante escolhido, professor Salem Nasser, membro da comunidade árabe-muçulmana, não é pesquisador de islamofobia. Ao consultarmos o seu currículo lattes, vemos que o seu foco de pesquisa é o direito internacional (e sua relação com o direito islâmico) e questões ligadas ao mundo árabe e Oriente Médio. Ainda assim, sua presença não deixa de ser importante, já que é um aliado da causa.

Islamofobia no Brasil

No 1º Relatório de Islamofobia no Brasil, feito em 2022, realizado com pessoas que professam essa fé, mais de 70% das mulheres relataram que espaços públicos representavam a maior chance de sofrerem violência por conta de sua religião. Já com os homens, o local de trabalho é onde se tem mais chance de sofrerem violências. A islamofobia também está presente dentro do ambiente familiar: os que aderem ao Islã ao longo da vida relatam grandes dificuldades na relação com amizades e família. 

Segundo a Federação Nacional de Muçulmanos no Brasil, existem mais de um milhão de seguidores do Islã no país, onde grande maioria vivem sob discriminação. A islamofobia está profundamente ligada à sociedade brasileira, servindo como um dos marcadores que dão continuidade à hierarquia social, dificultando o acesso dos muçulmanos aos seus direitos básicos. 

Os imigrantes muçulmanos

Durante a colonização portuguesa, o cristianismo foi usado como arma para a desarticulação e dominação de qualquer traço de organização e resistência dos povos colonizados (indígenas e negros). Portanto, tornou-se a religião dominante, impondo seus costumes e tradições, influenciando os valores morais de nossa sociedade.

Ao estabelecer o cristianismo e seus valores como padrão, tudo aquilo que vai contra essa normalidade vira um desvio a ser combatido, pois, na visão dos dominadores, traz elementos estranhos à ordem e a possibilidade de sua subversão.

O imigrante por si só já é visto com preocupação por setores conservadores. Pois, esses conservadores dizem, “eles” são “aqueles” que vieram de fora desfrutar do que é “nosso”. “Vieram roubar nossa riqueza social, nossos empregos. Há uma necessidade da diferenciação entre “eles” e o “nós”.

Quando falamos de imigrantes muçulmanos, isso piora. O discurso da extrema-direita é de que os muçulmanos possuem um plano de dominar o mundo através da imigração. Onde o objetivo é justamente enviar o máximo de pessoas para aquele país, especialmente os cristãos, e dessa forma subverter a ordem e os valores morais, estabelecendo a lei da sharia (espécie de leis derivadas do Corão) como nova lei.

Há uma clara ligação entre a extrema direita e fundamentalistas religiosos, que no nosso país são de maioria cristã. Isso fica claro no discurso do ex-presidente.

Bolsonaro na Assembléia Geral da ONU em 2021. Na ocasião, o Brasil tinha acabado de conceder visto humanitário para os afegãos fugidos do Talibã. Porém, ele declarou que: “concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos”.

Cristãos representam, literalmente, 1% dos religiosos do Afeganistão. O Itamaraty foi consultado após essa fala e revelou que os afegãos que cumprissem com os requisitos básicos receberiam o visto. Não era necessário ser cristão. Ou seja, Bolsonaro fez parecer que seria um requisito básico, mesmo sendo mentira, apenas para acenar para sua base, de maioria fundamentalista. 

O sionismo é responsável pelo genocídio palestino

Não poderíamos deixar de falar, também, sobre a escolha de um sionista para a composição do GT do Ministério dos Direitos Humanos, mesmo tendo o Lula se comprometido com a causa palestina ao assinar “Resposta do Sul Global” que, entre outras coisas, reconhece que Israel comete apartheid.

Apesar do sionismo já ser uma ideia que data por volta do fim do século XIX, foi após 1948 que os israelenses deram vida oficialmente a sua colonização e barbárie na Palestina. É importante ressaltar que para a legitimação do Estado de Israel, os sionistas utilizaram da mais poderosa máquina racista para gerar uma comoção mundial que os favorecessem, desumanizando o povo palestino.

O Sunday Times, em junho de 1977, relatou que no fim de 1969, 7.554 casas resididas por árabes foram arrasadas pelos colonos e em 16 de agosto de 1971, 212 casas foram demolidas. 45 anos depois este processo continua. Só este ano, mais de 63 palestinos foram assassinados pelo governo israelense. Dentre eles, civis, jornalistas, profissionais da área da saúde e também esportistas.

Ou seja, o mesmo país que invadiu e destruiu lares, assassinou pessoas, torturou prisioneiros e entre outros atos, é o primeiro a impedir as pessoas que fugiram do apartheid de retornarem a suas terras, que historicamente as pertence. Quem concedeu a Israel o direito de negar todos os direitos? 

Não queremos dizer com isso que não deva haver no GT um pesquisador especializado no combate ao antissemitismo. O problema reside justamente na posição que esse membro ocupa enquanto um disseminador da ideologia sionista. É preciso deixar claro: não há antagonismo entre a luta contra o antissemitismo em conjunto com luta contra a islamofobia e pela independência da Palestina. Os três se fazem imprescindíveis.

Outros Artigos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes