O professor e historiador estadunidense Grover Furr (A Verdade, nº 118) acaba de ter mais um livro publicado na Rússia, em parceria com o historiador russo Vladimir Bobrov: “1937. Stalin’s Justice: Not Subject to Appeal”(“1937. A justiça de Stálin: não cabe recurso”, em tradução livre). A dupla já teve um livro recentemente publicado naquele país, Antistalinskaia podlost, que nos próximos meses finalmente receberá uma tradução para o inglês, com o título “Khrushchev lied!” (ou “Khrushchev mentiu!”).
O novo livro é uma pesquisa sobre as conspirações da década de 1930 na União Soviética, que levaram aos famosos julgamentos públicos, desonestamente chamados de “o grande terror”.
Na introdução da obra, Furr e Bobrov afirmam que a maioria de tudo aquilo escrito até hoje sobre as conspirações de 1930 está errada. Pior: “A maioria de tudo isso é fraudulenta, deliberadamente desonesta.”
“A conclusão de nosso estudo, portanto, é que nenhuma das pesquisas anticomunistas contemporâneas sobre as conspirações de oposição pode ser acreditada. Todas são parte de um acordo tácito para denegrir, demonizar e falsificar a história soviética do período de Stálin”, afirmam os autores.
Furr e Bobrov investigam, em primeira mão, documentos mantidos em segredo de estado pelo governo soviético (e posteriormente pelo governo russo) e que aos poucos estão sendo publicados. Apesar dos arquivos ainda serem escassos, os autores afirmam que já se podem delinear os contornos do que realmente aconteceu.
“As conspirações de oposição dos anos 1930 estão entre as piores falsificações da história soviética. Historiadores famosos, em sua maioria anticomunistas, continuam simplesmente a negar que essas conspirações de fato existiram. Eles estão errados. Essas conspirações realmente existiram. As evidências de fontes primárias agora disponíveis confirmam que os relatos feitos dessas conspirações nos julgamentos públicos de Moscou são corretos.”
Um dos casos analisados no livro é o de Bukhárin, caso que chamou muito a atenção de Nikita Khrushchev e, uma geração depois, também de Mikhail Gorbachev. Furr e Bobrov provam, com o auxílio de um documento recentemente descoberto e ainda extremamente sigiloso na Rússia, que a “reabilitação” de Bukhárin pela Corte Suprema soviética em 1998 foi fraudulenta. A Procuradoria e a Suprema Corte possuíam evidências de que Bukhárin era culpado quando foi julgado, mas as suprimiram e o declararam “inocente”.
No entanto, os historiadores apresentam um resumo de todas as evidências contra Bukhárin, as quais provam que ele era, sem sombra de dúvida, culpado. E essas evidências, por consequência, também comprometem outros acusados, como o marechal Mikhail Tukhachevskii.
Baseando-se em materiais de primeira mão e com extremo rigor metodológico, os autores afirmam que a obra é uma “tentativa em descobrir a verdade sobre eventos de grande importância para a história da Rússia e para todo o mundo… A refutação de mentiras e a descoberta da verdade não é apologética, nem é ‘stalinismo’. É o dever de qualquer historiador.”
E pedem, àqueles leitores interessados em aprender a verdade, o seu criticismo: “Seremos muito gratos a todos vocês que nos informarem sobre quaisquer erros de documentação e de raciocínio.” O que soa também como um desafio a todos aqueles anticomunistas e falsificadores da história.
Glauber Ataide, Belo Horizonte