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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Filme Os companheiros, de Mario Monicelli

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Ao final do século XIX, os operários do mundo inteiro viviam uma situação de miséria e brutal exploração. Jornadas de trabalho de 12, 13 e até de 16 horas diárias eram impostas aos trabalhadores, principalmente nas fábricas. Licença maternidade, férias, seguridade social, nada disso existia. Essa situação que perdurava desde o aparecimento das primeiras grandes fábricas, com a revolução industrial, acabava com a saúde dos operários. E como entravam cada vez mais cedo nas fábricas (12, 13 anos de idade), a maioria não sabia ler, nem escrever.

Em alguns países, como a Inglaterra, a classe operária começava a se organizar para lutar pelos seus direitos. OCartismo, movimento surgido a partir de uma Carta do povo, enviada ao parlamento inglês pela Associação Geral dos Operários de Londres, atacava as fábricas e quebrava as máquinas em protesto contra o desemprego, a enorme jornada de trabalho, além de reivindicar o sufrágio universal para as eleições parlamentares e o direito de participação dos operários no parlamento. Logo a classe operária, percebeu que o problema não estava exatamente nas máquinas, mas estava na forma como a burguesia organizava a produção e na propriedade dos meios de produção por esta mesma burguesia.

Em outros países europeus, as grandes fábricas começavam a surgir e com elas a concentração de uma classe operária cada vez mais numerosa nas grandes capitais. Porém, a organização sindical e política ainda não havia chegado com força até o início do século XX. O início da organização da classe operária na Itália é o que nos mostra o filme Os companheiros (1963), de Mário Monicelli (mesmo diretor de O incrível exército de Brancaleone).

A história se passa em Turim, grande centro industrial da Europa (é cidade sede da montadora de automóveis Fiat), e nos conta a vida de centenas de operários de uma fábrica têxtil. Submetidos a uma extenuante jornada de trabalho de 14 horas, os operários saíam de casa “com os filhos dormindo e voltavam quando eles já estavam dormindo de novo”. Era comuns acidentes devido à falta de atenção provocada pela fadiga.

A saga começa, quando um operário, cansado, se descuida na operação da máquina e perde a mão. Seus colegas operários vão ao hospital se solidarizar e lá mesmo decidem ir “falar com o patrão” sobre a diminuição do tempo de trabalho diário.

À noite, vários deles freqüentavam uma escola improvisada na casa de um professor do Liceu da cidade, para aprender a ler e escrever, pois só assim poderiam votar nas eleições distritais segundo as leis da época. Porém, a maioria dormia durante as aulas. Surge entre os operários, uma incipiente organização chamada “comitê” para os representar ante os patrões.

É então que chega a cidade um “professor” chamado Sinigaglia (Marcelo Mastroiani, famoso por 8 e meio eDivórcio à italiana). Participa por acaso de uma das assembléias do “Comitê” e já então se destaca por suas boas idéias e espírito de organização acima da média entre os operários, e é eleito conselheiro do “comitê”.

Quadro vivo do início das organizações sindicais, Os companheiros, nos mostra que a classe trabalhadora vai aprendendo com a sua própria experiência. São reprimidos pela polícia e pelo exército, sofrem tentativas de suborno e de divisão do movimento. Fazem quotizações para poder sobreviver à fome imposta pelas duras condições da greve. O professor do Liceu recolhe ajuda entre os estudantes e é repreendido pelo diretor do Liceu “por estar ensinando subversão” as crianças. Ao mesmo tempo, o dono da fábrica orienta os seus funcionários a prender Sinigaglia, pois “sem liderança, eles não agüentam um dia sequer”.

A polícia dos patrões assassina um operário, prende o Sinigaglia e encerra a greve de forma truculenta. Porém, exatamente o operário que mais questionava o professor, passa a ser procurado pela polícia e passa a fazer a função que fazia Sinigaglia, indo para outra cidade se encontrar com um “contato”. Enquanto isso, o comitê planeja eleger o Professor Sinigaglia nas próximas eleições parlamentares e com isso libertá-lo da cadeia.

Mário Monicelli é o diretor desse filme que emociona pela simplicidade com que mostra a vida dos operários em luta por uma vida digna e por uma sociedade justa.

O filme pode ser encontrado em www.filmespoliticos.blogspot.com

Yuri Pires é crítico de cinema

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