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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Torcedores querem saída de Ricardo Teixeira

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Vários jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol têm sido marcados por protestos contra o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo Fifa (COL)  Ricardo Teixeira. De Norte a Sul do Brasil, torcedores foram aos estádios com faixas, cartazes e palavras de ordem pedindo a saída de Teixeira e transparência nas obras da Copa do Mundo de 2014.

Em São Paulo, no clássico Santos x São Paulo, do dia 28 de agosto, na Vila Belmiro, a torcida do São Paulo levou mil faixas de mão com os dizeres “Fora Ricardo Teixeira”; a torcida do Santos, que é integrante da Confederação Nacional de Torcidas Organizadas (Conatorg), uma das idealizadoras do movimento, teve a sua participação reduzida a pedido do presidente do clube, Luís Álvaro de Oliveira, aliado de Ricardo Teixeira.

No Prudentão, interior de São Paulo, as torcidas de Palmeiras e Corinthians também reivindicaram a saída de Teixeira do comando da CBF. O destaque ficou por conta da torcida do Palmeiras, que fez um bonito mosaico com o formato e as cores da bandeira do Brasil, no centro do qual se estampava “Fora Ricardo Teixeira”. As organizadas do Corinthians, coibidas pelo presidente do clube, Andrés Sánchez, chefe da delegação brasileira na Copa da África do Sul, em 2010, e parceiro de Teixeira, também tiveram as suas participações minimizadas.

No Rio de Janeiro, antes do início do clássico Flamengo x Vasco, no dia 28 de agosto, torcedores realizaram atos contra Ricardo Teixeira nas proximidades do Estádio João Havelange (Engenhão); os manifestantes distribuíram panfletos e abriram  faixas. O estádio foi construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007, realizados no Rio, e custou R$ 380 milhões, seis vezes mais do que estava previsto no projeto original.

É claro que em todos esses protestos a Polícia Militar reprimiu as manifestações, cumprindo ordens que vinham da própria CBF, de federações locais e de políticos amigos de Teixeira. Este foi o caso de Minas Gerais, Estado de origem do senador Aécio Neves (PSDB), colega de Teixeira; lá, no clássico Cruzeiro x Atlético, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, faixas contra a CBF foram tomadas pelos policiais.

Já a atitude da Federação Catarinense de Futebol (FCF) fez lembrar até mesmo as ações do regime militar fascista brasileiro. Durante a semana do clássico local, entre Figueirense e Avaí, a federação, dirigida pelo sr. Delfim Pádua Peixoto Filho (prestes a completar 30 anos à frente da entidade), lançou um comunicado oficial dizendo: “A Federação Catarinense de Futebol vem a público manifestar seu repúdio contra qualquer manifestação ofensiva direcionada ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol, dr. Ricardo Terra Teixeira, bem como à própria CBF”.

Além da nota, a federação catarinense conseguiu uma liminar no Tribunal de Justiça estadual que proibia a livre manifestação dos torcedores e até os expulsaria do estádio. No entanto, a indignação dos torcedores fez com que o Ministério Público derrubasse a liminar, e faixas contra a CBF foram vistas no Estádio Orlando Scarpelli.

Censura e repressão nos estádios

A campanha “Fora Ricardo Teixeira” teve início, através do Twitter, em julho, quando denúncias de enriquecimento ilícito, propinas, subornos e escândalos de corrupção envolvendo Ricardo Teixeira se espalharam pela imprensa internacional. O movimento ganhou força com as reportagens do jornalista Andrew Jennings (ver A Verdade nº 130, julho de 2011), repórter da BBC, que escreveu o livro Foul, em que cita vários casos de corrupção na Fifa. Jennings trabalhou no jornal inglês Sunday Times e na emissora BBC, e foi premiado por um documentário investigativo sobre os Jogos Olímpicos de 2000. O recado #foraricardoteixeira chegou a estar entre os assuntos mais acessados do microblog até ser censurado.

Integram ainda a campanha “Fora Ricardo Teixeira” a Conatorg, que reúne mais de 20 torcidas do Brasil; a Associação Nacional de Torcedores (ANT), entidade que possui 3.000 sócios e luta contra a elitização e mercantilização do futebol brasileiro; e a Frente Nacional de Torcedores (FNT).

Além dos atos nas arquibancadas, outras manifestações de rua ocorreram em São Paulo, na Avenida Paulista. A organização da campanha também realizará um abaixo-assinado para ser entregue à Procuradoria da República do Rio de Janeiro, solicitando que sejam investigadas as denúncias dos crimes cometidos pelo chefão dos negócios do futebol brasileiro.

Ricardo Teixeira está na presidência da CBF desde 1989. Seu quinto mandato consecutivo terminou em 2007, mas foi prolongado até o final da Copa do Mundo de 2014. A razão para tanto tempo no comando da CBF reside no fato de Teixeira armar esquemas de eleições que o beneficiam, valendo-se da compra de votos das federações estaduais, conchavos com clubes, armações de partidas e resultados, fraudes estatutárias, golpes, isolamento dos possíveis opositores, criação de competições, exclusivamente para atrair apoiadores – enfim, tudo o que há de mais atrasado e corrupto.

No momento, está em discussão no Congresso a instalação de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ações de Ricardo Teixeira na organização da Copa do Mundo. O próprio Teixeira foi até o Congresso Nacional, no dia 16 de março passado, pressionar contra a criação da CPI; alegou aos parlamentares que não era bom para o Brasil ter uma CPI investigando corrupção em um período de preparação para a Copa.

Luta derrubará Ricardo Teixeira e todos os corruptos

Fica cada vez mais claro que a juventude e os trabalhadores não aguentam mais tanta corrupção no esporte mais popular do Brasil nem vão suportar todo o peso das péssimas condições de trabalho e salários nas obras para a Copa, como provam as greves dos operários nas reformas do Maracanã e do Mineirão.

Aos que se renderam aos esquemas milionários da CBF, ficam as sábias palavras de João Saldanha, comunista e técnico da seleção brasileira de 1969 até março de 1970, ao saber, através de João Havelange, então presidente da CBF, que havia sido demitido por se recusar a jantar com o ditador Médici: “O futebol brasileiro tem tanta força que passará por cima desses homens covardes e pusilânimes”.

Michell Plattini, Fortaleza

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