O filme Amém, do grego Costa Gavras, é considerado por muitos como um dos filmes mais polêmicos da história, por mostrar claramente as relações da Igreja Católica com o nazismo. Até o cartaz do filme – que faz referência ao mesmo tempo à cruz cristã e à suástica nazista – provocou protestos e processos na justiça, na França e em outros países do mundo. A história se passa durante a 2ª Guerra Mundial, quando um oficial nazista desenvolve um ácido altamente tóxico para auxiliar na purificação da água dos soldados e para evitar o tifo. Porém, o produto começa a ser utilizado para matar judeus nos campos de concentração. Horrorizado, o oficial procura um jovem padre que, sendo de uma família influente, busca solicitar a interferência da Igreja, chegando até o papa Pio XII, para impedir o genocídio dos judeus.
O filme começa mostrando um judeu invadindo uma reunião da Liga das Nações em 1936, para distribuir panfletos e depois suicidar-se, tentando chamar a atenção do mundo para o massacre em andamento. Depois, mostra a interferência direta da Igreja, após saber que pessoas com problemas mentais estavam sendo exterminadas nos campos de concentração, conseguindo impedir as mortes, numa demonstração do poderio da instituição. A partir daí, é mostrada a saga do oficial e do padre para tentar evitar a morte de milhões de judeus, pois a cada dia mais de dez mil eram assassinados. A obra explicita as relações de poder no período, denunciando a Igreja Católica e os governos capitalistas, que tinham total consciência do que estava acontecendo na Alemanha, mas foram coniventes e muitas vezes apoiaram a ascensão do nazismo, na esperança de que Hitler e suas tropas conseguissem destruir o comunismo.
A Igreja e seu líder máximo sabiam de tudo, mas em nenhum momento se posicionaram; os governos capitalistas, principalmente os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, também foram totalmente coniventes; e os judeus do resto do mundo, principalmente os judeus americanos, que são muito poderosos (a maior parte da poderosa indústria cinematográfica norte-americana é judia, como o aclamado cineasta e dono do estúdio DreamWorks, Steven Spielberg), também não fizeram nada; tudo isso na tentativa de acabar com o comunismo, mesmo que fosse necessário sacrificar milhões de vidas. Assim, os judeus, os comunistas, os deficientes, os negros e os homossexuais continuaram sendo explorados e exterminados pelos nazistas, até estes serem massacrados pelo Exército Vermelho da União Soviética comunista. Alguns diálogos são de grande importância para a discussão desses temas, como aquele em que um padre afirma que, apesar de suas ações, Hitler conseguiu resultados que os outros países capitalistas não conseguiram no combate ao comunismo na Alemanha e na Rússia, ou o diálogo em que outro padre que, falando do Holocausto, afirma que “feliz é aquele que consegue ignorar o que não pode ser mudado”, ou ainda outro no qual um oficial nazista, também falando sobre o Holocausto, diz ao padre que “os nazistas aprenderam com a Igreja, que purificava as almas com fogo, só que nós fazemos isso numa escala maior”.
Todas essas questões mostram que a vitória da Revolução e o poderio da União Soviética comunista, seus avanços para a humanidade e a possibilidade de destruição do sistema capitalista, sob a liderança de Josef Stálin, deixaram o capitalismo e seus representantes desesperados, fazendo com que qualquer coisa fosse válida para evitar sua derrocada, até o sacrifício de milhões de vidas. Mas o comunismo triunfou sobre o nazismo e triunfará sobre o sistema que se sustenta da miséria, exploração, opressão e extermínio de milhões de seres humanos. Costa Gavras é um dos cineastas mais engajados politicamente do cinema mundial, tendo feito muitos filmes sobre as ditaduras, inclusive da América Latina, e seus filmes podem ser usados para inúmeras discussões sobre questões políticas, sociais e econômicas, e como ferramenta de formação política.
Christian Coelho, Belo Horizonte