Um diálogo surreal citadino

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O poste parou, pensou e falou para o cano: “muita água ainda para rolar?”

E o cano, na ponta da língua, respondeu: “tanta quanto a que rola na hidroelétrica, mas sem fiação que a aproveite por todos os lugares!”

A pedra de calçamento, ouvindo a conversa, pensou em voz alta: “no final tudo volta ao pó.”

O tijolo, que assistia a toda a prosa silencioso, refletiu consigo e comentou aos demais amigos: “no fundo, sem nós e sem nossas obras, talvez não se concebesse a urbanidade.”

E o gás, ali embotijado no subsolo, devaneou: “o progresso eu acompanhei, para evitar a morte das árvores; mas eu mesmo trago um pouco das finadas florestas e matas pré-históricas … e de animais pré-históricos … e até os pré-humanos!”

Mas o telefone público, na sua sabedoria, explanou: “todos nós, cada um em sua linha de condução, temos nossa função social e importância para o futuro da humanidade.”

O relógio da praça, com um leve acelerar no compasso dos ponteiros, cogitou para consigo próprio: “eles mudam de forma e de lugar, mas sempre pensam o mesmo!”

 João Paulo Santos Mourão, estudante de Comunicação Social da UFPI