A notícia parece antiga, e realmente é. Todos os anos a população passa pelos mesmos problemas decorrentes das chuvas, sejam os engarrafamentos, os deslizamentos de barreiras ou o medo por residir em uma área de risco. Famílias perdem casas, móveis, eletrodomésticos, roupas e o pior de tudo: vidas. Apesar de previsível e até evitável, a situação perdura e já é tragédia prevista e anunciada pelas mídias nesta época do ano.
São inúmeras as mortes contabilizadas nos últimos tempos na Região Metropolitana do Recife, e maior ainda o número de feridos e desabrigados, sem contar os problemas de saúde gerados pelo medo constante, como insônia e síndrome do pânico.
Além de não prestarem assistência às famílias, nem antes nem depois das tragédias, as prefeituras ainda responsabilizam a população, culpando-a pela construção das casas em barreiras e encostas. A Defesa Civil não trabalha na prevenção de acidentes e drenagem das águas, tampouco na remoção das famílias para áreas seguras, só aparecendo nas comunidades para retirar os escombros e as vítimas mortas.
Este ano, como nos anteriores, enquanto milhares de famílias passaram as noites de inverno acordadas, temendo o soterramento, algumas pessoas não escaparam. Como foi o caso, noticiado no dia 15 de junho passado no Jornal do Commercio do Recife, de uma jovem de 20 anos, grávida, e seu filho de um ano, que morreram vítimas de um deslizamento de barreira ocorrido no município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Outra morte decorrente de mais uma queda de barreira foi noticiada no mesmo jornal: a de uma jovem de 19 anos, dessa vez na cidade de Olinda.
É preciso perguntar quantas vidas mais serão necessárias para que a situação se reverta em favor do povo. Não é responsabilizando a natureza que as famílias terão moradias seguras; devemos buscar soluções reais para garantir um direito básico de todo cidadão brasileiro: um lar digno, sem riscos.
Ludmila Outtes, Recife