A precariedade do serviço público de transporte tem trazido transtorno aos usuários da cidade do Recife: longos períodos de espera, trens lotados e acidentes passaram a ser comuns para os que dependem do metrô para trabalhar. Entre os trabalhadores, as queixas são grandes: faltam fardamentos para os funcionários, ferramentas e peças de reposição. Além disso, o quadro de funcionários é deficitário (o último concurso foi realizado em 2005). Para reivindicar melhorias no sistema e melhores salários, os metroviários do Recife organizaram uma greve que durou 38 dias, com uma grande adesão dos trabalhadores. Diogo Morais, diretor de Comunicação do Sindmetro-PE, fala a A Verdade sobre essa situação e sobre a luta dos metroviários em defesa do transporte público e por melhores condições de trabalho.
A Verdade – Por que os metroviários realizaram a greve?
Diogo Morais – A greve ocorreu devido à proposta oferecida pelo Governo Federal, através da CBTU, que foi de congelamento dos salários e benefícios. Nossa greve também reivindicou melhores condições de trabalho, concurso público, segurança e investimentos na empresa.
Como você avalia a participação dos metroviários na greve?
A participação foi maciça. Tivemos dificuldades com os supervisores e gerentes, que não fazem greve com medo de perder suas gratificações. Cumprimos um acordo, firmado com a CBTU no TRT, segundo o qual nós operaríamos os trens nos horários de pico e disponibilizaríamos 50% dos funcionários na manutenção e administração. Não conseguimos avanço com a CBTU, que chegou a oferecer um reajuste de apenas 2% somente sobre os salários, o que foi rejeitado pela categoria em assembleia. Como não chegamos a um acordo, o impasse foi encaminhado ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), que vai julgar nossa pauta.
No caso das reivindicações não atendidas, o que a categoria pretende fazer?
No momento, vamos esperar o julgamento do TST, onde esperamos obter sucesso.
O metrô precisa de investimento? O número de funcionários é suficiente?
Muita propaganda foi feita com relação à ampliação do nosso sistema, mas o repasse de recursos para a empresa é insuficiente. A CBTU adquiriu 15 novos trens elétricos e sete veículos leves sobre trilhos (VLT), porém falta verba para manter o metrô funcionando. Faltam fardamentos para os funcionários, ferramentas, peças de reposição para os trens, materiais básicos do dia a dia, como papel para impressão de documentos, etc. O quadro de funcionários é bastante deficitário. O último concurso ocorreu em 2005 e a empresa não chegou a contratar nem a metade dos aprovados. Alguns ingressaram na empresa por meio de liminar e correm o risco inclusive de serem demitidos. Caso não haja concurso público imediato, não teremos quadro para operar e manter os atuais e os novos trens. Provavelmente o transporte dos torcedores da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014 será prejudicado. Os baixos salários trazem um grande problema, que é a saída de funcionários para outras empresas, e não existe a reposição do quadro. O piso salarial da categoria é de R$ 980. Hoje, temos pouco mais de 1.500 funcionários no Recife, e faltam maquinistas para operar os trens. O déficit é de aproximadamente 700 funcionários.
Na sua avaliação, porque o transporte público não é a prioridade, quando se gasta tanto para construir estádios de futebol?
O governo, tanto federal, quanto estadual e municipal, tem priorizado o transporte individual. Uma prova dessa prioridade foi a recente redução no IPI na venda de automóveis. Temos um forte lóbi das empresas de ônibus, que lucram absurdos com a exploração do direito de ir e vir do cidadão. Temos apenas 30,5 km de metrô. A Zona Norte não é atendida e sofre diariamente com congestionamentos, com a baixa qualidade no serviço oferecido pelos ônibus privados e com a alta tarifa. Investir em trem e metrô significa investir em médio e longo prazo e as eleições ocorrem de dois em dois anos. É preciso promover políticas sobre mobilidade urbana, nas quais o transporte sobre trilhos seja protagonista. Existe uma necessidade imediata de políticas para desestimular o transporte individual e os governos devem ter o sistema de transporte dentro das cidades como uma questão estratégica de desenvolvimento e sustentabilidade ambiental e social.
Rodrigo Rafael, Recife