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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Famílias da Eliana Silva unem-se por moradia e vida nova

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Após inúmeras evasivas da prefeitura e da Urbel – órgão responsável pela habitação –, do completo descaso com as pessoas, pois nem mesmo aluguel social ou outra medida paliativa foram apresentados, o MLB deu continuidade às reuniões e assembleias, uma nova ocupação foi realizada em Belo Horizonte pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). A ocupação reúne as famílias remanescentes da última ação ocorrida em abril passado e despejada em 11 de maio.

Com as barracas erguidas, muita coragem e disposição, a nova ocupação Eliana Silva renasce, mais organizada e mais forte num terreno localizada na mesma avenida da ocupação anterior.

Truculência, repressão e resistência

No sábado, dia 25 de agosto, centenas de famílias e um grande grupo de apoiadores do MLB foram até a nova ocupação. Lá enfrentaram o forte aparato policial, a truculência e a repressão da PM de Minas Gerais. Houve Tropa de Choque, Gate, helicóptero e o destempero completo do comandante da ação, o Capitão Natan, que agrediu várias pessoas, prendeu dois advogados do movimento e de integrantes do MLB, sacou armas e queria retirar a ocupação com tiros, entre outras ameaças e agressões verbais, inclusive de baixo calão. Porém nada disso foi capaz de deter a determinação das famílias da ocupação Eliana Silva de manter-se no terreno e lutar pelo direito de morar dignamente.

Na nova mobilização do MLB, reuniram-se, além de um grupo de advogados populares, integrantes de várias entidades, padres, lideranças sindicais, professores, estudantes, militantes de partidos e organizações de esquerda, unificados na defesa da ocupação e da luta pela moradia em BH. Foi uma batalha, vencida nesse momento pelo MLB. A rede de apoiadores continua crescendo a cada dia e tem ajudado a fortalecer a ocupação. Agora, a Ocupação Eliana Silva avança com a instalação de luz e água, a construção da creche e da cozinha comunitária, além do funcionamento de várias comissões de trabalho.

Desigualdade social e injustiça

Belo Horizonte é uma das cidades mais injustas e desiguais, não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina. É o que comprova recente estudo apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no dia 21 de agosto, que classifica a América Latina como a região mais urbanizada e desigual do mundo. O estudo destaca um panorama do desenvolvimento de cidades e regiões latino-americanas e escancara as deficiências no processo de urbanização e ocupação dos grandes centros urbanos. Das 24 cidades pesquisadas, Belo Horizonte amarga o título de quarta cidade mais injusta e desigual da América Latina e Caribe, sendo a quarta metrópole com pior distribuição de renda do continente, atrás apenas de Bogotá, Goiânia e Fortaleza.

Por outro lado, nem o governo demotucano de Antônio Anastasia nem o prefeito de BH, Márcio Lacerda, apresentam soluções para essas e outras famílias que não têm o direito de morar dignamente na capital mineira. Além de Eliana Silva, existem ainda as ocupações Dandara, Camilo Torres, Irmã Dorothy 1 e 2, Helena Grecco-Zilah Spósito, entre outras dezenas realizadas espontaneamente na cidade. E o pior é que nem mesmo os programas de moradia popular são promovidos para diminuir o enorme déficit habitacional de Belo Horizonte, que é um dos maiores do país. Até mesmo o Programa Minha Casa, Minha Vida para famílias de baixa renda é ignorado e nenhuma casa foi construída por esse programa na capital. O número de inscritos nele é de 198 mil famílias, ou seja, cerca de 1 milhão de pessoas, mas a prefeitura, ao invés de promover um convênio com o governo federal, prefere tratar as ocupações urbanas como caso de polícia. Além disso, existem 70 mil imóveis ociosos que são utilizados pela especulação imobiliária, porque a prefeitura não aplica as leis vigentes e não dá destinação social a eles.

Uma comissão de famílias da ocupação foi até um comício realizado por Márcio Lacerda, na Praça da Febem, no Barreiro, para cobrar uma audiência que resolveria definitivamente a situação da construção das moradias. Lacerda ficou sem reação e nervoso.

Solidariedade

No evento Duelo Nacional de MCs, que reuniu milhares de pessoas debaixo do Viaduto Santa Tereza, houve mais  apoio à ocupação Eliana Silva.

A primeira foi de Leonardo Bicalho: “Nós estamos lutando pela cidade, para ocupar a cidade, fazer dela algo nosso. Por isso, nós nos solidarizamos com todas as ocupações urbanas, com todas as comunidades em luta nessa cidade!!! Somos todos Eliana Silva!!!” E, numa aparição surpresa no evento, o rapper Emicida arrematou, abrindo a bandeira do MLB bem alto e falando: “Esse lugar é nosso, nós construímos isso aqui, enquanto eles deixam abandonado, nós damos vida, enquanto eles abandonam, nós ocupamos e fazemos cultura!”

Um grupo de arquitetos da UFMG que desenvolve projetos e moradias populares também reuniu-se com o MLB e apresentou propostas para a construção de habitações populares na ocupação. O grupo é composto, principalmente, por professores sensibilizados com a luta urbana. Com a nova ocupação Eliana Silva cresce a luta popular em Minas e no Brasil.

Redação Minas Gerais

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