No dia 13 de novembro, faleceu um grande lutador do povo brasileiro, o companheiro Vanderley Caixe. Sua história deverá sempre ser lembrada como um homem que dedicou toda sua vida para combater as injustiças existentes em nosso país. Poeta, advogado de trabalhadores e trabalhadoras, deixa companheiros e companheiras com muita saudade.
Vanderley nasceu em 6 de outubro de 1944, na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Teve uma infância simples e, logo cedo, com 16 anos de idade, vivenciando um grande ascenso das lutas populares, já envolvido com o movimento estudantil, decide ingressar na Juventude Comunista. Após o golpe militar rompe com o PCB e, junto com Nanci Marietto e Aurea Moretti, fundam o jornal “O Berro”, que foi amplamente distribuído nas bancas, mas logo teve seu registro cassado pelos militares.
Diante da situação política, motivado pela necessidade de derrubar a Ditadura Militar, aos 22 anos, participa da fundação das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), organização guerrilheira que visava o combate ao regime e a construção do socialismo. Durante três anos, dedica-se a esse trabalho, porém, a repressão logo identifica a ação da organização e desencadeia uma série de prisões. Vanderley ficou preso durante cinco anos, sendo transferido diversas vezes de presídio. Esteve no Presídio Tiradentes, Presídio Wenceslau (onde, em 1972, liderou uma greve de fome dos presos políticos), Presídio Hipódromo, de onde foi solto em 1974. Nesse mesmo ano, retoma o curso de Direito para se dedicar à libertação de outros presos políticos. No cárcere, Caixe escreveu seus primeiros poemas, publicados somente 30 anos depois por iniciativa dos seus companheiros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Seccional de Ribeirão Preto.
Trabalhou no escritório de advocacia do professor Sobral Pinto e atuou como redator nos jornais Tribuna da Imprensa e Opinião. Em 1976, mudou-se para João Pessoa-PB, onde, juntamente com o arcebispo dom. José Maria Pires – Arcebispo da Paraíba – criou o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil (ainda na época da Ditadura Militar). Mais tarde, foi secretário-geral da Associação Nacional de Advogados de Trabalhadores Rurais, advogado de presos políticos em vários países na América Latina, atuou junto à Corte Interamericana e à Comissão de Direitos Humanos da ONU.) Foi membro-fundador do PT e primeiro candidato a prefeito pelo partido na Capital paraibana, em 1986.
Voltou a Ribeirão Preto em 1994, onde instalou o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Assessoria e Educação Popular, mantendo a luta ao lado dos camponeses. Torna-se assessor jurídico do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), e participa da Rede Nacional dos Advogados Populares (Renap). Era fundador e membro do Fórum dos Ex-presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo.
Vanderley morreu vítima de erro médico. Sofreu uma queda e fraturou o fêmur, por isso, foi submetido à cirurgia para colocar oito pinos, porém um dos pinos perfurou o intestino, e ele foi acometido por uma septicemia (infecção generalizada). Lutou durante 21 dias na UTI, mas não foi possível conter a infecção.
A morte de Vandeley Caixe deixa muita saudade nos companheiros e companheiras que conviveram com ele. Muitos depoimentos emocionados foram ouvidos em seu velório, que aconteceu na Câmara de Municipal de Ribeirão Preto, depoimentos que o qualificam como um incansável lutador, com uma sensibilidade gigantesca, um amigo, um revolucionário.
Aos que não o conheceram pessoalmente, principalmente à juventude, fica o exemplo de um grande lutador, que não se curvou diante do golpe militar, diante da prisão e das torturas.
Fernando Oliveira, São Paulo