As mudanças na cidade de Caruaru podem ser vistas de várias formas, mas é no ostensivo aumento de obras da construção civil onde esta nova situação é verificada de forma mais clara. São shoppings, grandes redes de lojas e principalmente dezenas de edifícios com a finalidade de moradia para classe média e de alto padrão.
Mas, enquanto arranha-céus são construídos com apoio e financiamentos dos governos, cresce a indignação dos trabalhadores e o número de ocupações por moradia. A última delas organizada por mais de 90 famílias que viviam de aluguel e ocuparam uma área desocupada há mais de 30 anos, sem uso social, ao lado do campo de futebol no bairro do Parque Real, na madrugada do dia 03 de fevereiro.
As famílias entraram no terreno, dividiram os lotes e fincaram suas estacas. O dia amanheceu, e novas pessoas se agruparam na ocupação, uma delas a dona de casa Maria do Carmo da Silva, de 28 anos, mãe de três filhos de 9 e 6 anos e os mais novo de 10 meses. “Vi a movimentação quando levava meu filho para a escola. Vi o povo invadir e resolvi que também iria invadir. Vim com o menino no colo e a menina de lado. Pago aluguel de R$ 230,00, R$ 58,00 de luz e R$ 38,00 de água. Estou desempregada e vivemos com o salário do meu marido que trabalha no comércio. O chão ninguém pode comprar, só rico. Se aqui não der certo, não dá pra sustentar os meninos com tudo isso pra pagar. Não vai dar mais pra ficar no aluguel. Vou ter que voltar pra casa da minha mãe, e ele pra casa da família dele, e a nossa família não sei como vai ficar”.
Já nos primeiros dias, as famílias perceberam que sem união e organização ninguém alcançaria a vitória. O apoio começou a chegar através do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Caruaru (Sintracon), que convidou o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) para visitar a ocupação. Desde então, o MLB passou a realizar várias assembleias, comissões de trabalho foram tiradas e já abriram ruas, dividiram lotes, etc.
No último dia 14, aconteceu uma visita da Prefeitura, que declarou não ter planejamento habitacional nem Secretaria de Habitação e apenas resolveu cadastrar as famílias no programa Minha Casa, Minha Vida. As famílias –hoje já são mais de 200 cadastradas – decidiram permanecer no terreno e continuar a luta para que a Prefeitura resolva o problema da moradia de todos.
Elisabeth Araujo, Recife