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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Dossiê Jango

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JANGOAtravés de reconstrução histórica bastante rigorosa e relevante, com imagens da época, depoimentos profundos e reconstituições inteligentes, Dossiê Jango, novo documentário de Paulo Henrique Fontenelle (mesmo diretor de Loki, Arnaldo Baptista), faz crescer uma interrogação constante ao passo que assistimos suas cenas: Jango morreu de causas naturais ou foi assassinado?

O fato é que Jango vivo incomodava o regime militar. O Exército sempre procurou apresentar a imagem de poder moderador, neutro, incorruptível, “chamado pelo povo” a sair da caserna no sentido de salvar o país, assim em 1889, assim em 1930, assim em 1945, em 1961 e em 1964. Jango era a prova concreta de que o Brasil não precisava de nenhuma salvação (do ponto de vista da democracia burguesa), que vivia um período de normalidade da democracia representativa, que ia bem em sua economia e tinha casos de corrupção iguais a todos os períodos de nossa história. O alarde de um Jango comunista caiu por terra quando o mesmo não se refugiou na China, ou em Cuba, ou na URSS, masno Uruguai em seguida na Argentina, onde morreu aos 57 anos.

Fontenelle apresenta provas contundentes da participação dos Estados Unidos da América (EUA) na conspiração para a derrubada do presidente legitimamente eleito. Áudios de Lincoln Gordon (embaixador dos EUA no Brasil) e mesmo do presidente estadunidense Jhon Fitzgerald Kennedy demonstram uma excessiva preocupação com o momento político do país. Num áudio Kennedy diz: “A verdadeira questão é saber qual será a nossa atitude em relação a Goulart” ao que ouve a resposta de seu embaixador no Brasil Lincoln Gordon: “O fundamental é organizar as forças políticas e militares para reduzir o seu poder e em caso extremo: afastá-lo!”

Jango, ao se exilar foi condenado a dez anos de direitos políticos cassados. Perto de passar estes dez anos, preparava-se para voltar ao Brasil (segundo um dos entrevistados), ao mesmo tempo, uma circular interna do exército ordenava a todos os quartéis que em qualquer ponto do nosso mapa que desembarcasse Jango, devia ser preso e mantido incomunicável por tempo indeterminado. Porque tanto medo de Jango? Esse medo poderia ter motivado um assassinato?

Dossiê Jango nos leva a compreender o complexo contexto político vivido à época. Um emaranhado de interesses dos grandes capitalistas brasileiros e estadunidenses, que levou a derrubada de Jango e a forma política que tomou o Estado brasileiro desde então. O Estado que temos hoje, foi fundado neste período histórico. Fontenelle, consciente ou inconscientemente, coloca o Governo Federal na parede: ou é contundente com os criminosos, nativos e estrangeiros, que instalaram o medo e o terror no país, ou será condescendente.

Yuri Pires, São Paulo

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