Convocado a cada três anos, o Congresso da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados e Informática (Fenadados) teve sua 18ª edição realizada entre os dias 2 e 6 de agosto na cidade de Búzios, Rio de Janeiro. Contando com cerca de 250 delegados vindos de todo o País, o Congresso discutiu pontos fundamentais da categoria e definiu algumas bandeiras de luta para o próximo triênio, além de eleger a nova diretoria da Federação.
No primeiro dia, foi escolhida a tese guia do Congresso, após uma exposição relâmpago de 15 minutos para cada uma das três teses em disputa e sem nenhuma discussão sobre elas. Não fosse isso estranho o suficiente, a tese vencedora, da Articulação Sindical, não tinha sido enviada previamente para os estados. O que havia sido encaminhado em seu lugar era um pequeno texto de duas laudas apenas, enquanto que a “tese surpresa” apresentada no Congresso tinha mais de vinte páginas. Segundo Rosane Cordeiro, diretora do Sindados-MG, “não existe inocência em política. Foi uma manobra da Articulação Sindical para evitar a discussão sobre sua tese”.
Isso não evitou, no entanto, que a “tese surpresa” fosse duramente criticada no painel de “Conjuntura Nacional e Internacional”, que teve lugar logo após a votação. Glauber Ataide, diretor do Sindados-MG, denunciou que a tese majoritária, em sua análise de conjuntura, defende meras reformas no capitalismo, sob o nome de “desenvolvimento sustentável”, e, em momento algum, coloca a questão do socialismo como solução da classe trabalhadora para a superação deste sistema agonizante que passa por uma crise estrutural.
Vários outros painéis durante o Congresso colocaram em discussão temas relevantes tanto à categoria quanto à sociedade, como o de “Mulheres, juventude, igualdade racial e combate à homofobia no mundo do trabalho”, “Organização sindical” e “Sindicalismo (livre) no Brasil: por que movimentos sindicais progressistas devem apoiar softwares livres?”.
Neste último painel, Breno de Paula, da delegação do Sindados-MG, defendeu que o movimento de software livre deve ser impulsionado pela categoria, pois a produção de software livre, além de mostrar que os programadores – assim como todos os outros trabalhadores – não precisam de patrões para produzir software e menos ainda para ser explorados, resulta em um conhecimento que não é propriedade privada de nenhum indivíduo ou empresa, mas pertence a toda a humanidade. A produção de software livre é uma produção sem capitalistas e sem alienação do produto do trabalho.
No penúltimo dia do evento, foi eleita a nova diretoria. Embora o Congresso tenha se iniciado com três teses em disputa, apenas uma chapa se inscreveu no pleito, já que o grupo da tese “Oposição de Esquerda” decidiu compor com a corrente da situação, abdicando da tentativa de construção de uma chapa de oposição unificada com o Sindados-MG.
Diante disso, a delegação mineira se absteve da votação, pois somente a abstenção dava direito à declaração de voto, que foi uma verdadeira tribuna de denúncias: criticou o processo eleitoral, as manobras da unificação das chapas, a tese capitalista eleita como guia do Congresso e principalmente a condução conciliadora das lutas da categoria nos últimos anos, especialmente no que diz respeito às empresas federais Serpro e Dataprev.
Para o próximo triênio, o Congresso definiu, entre várias outras propostas, que a Fenadados deve impulsionar o desenvolvimento de software livre no Brasil, apoiando a organização das iniciativas que se apresentam no País. Além disso, foi aprovada por unanimidade a criação de um fundo de previdência complementar, considerando que grande parcela da categoria não está coberta atualmente por nenhum plano.
Redação MG