Motoristas e cobradores de ônibus da Região Metropolitana do Recife transportam cerca de 2,1 milhões de usuários diariamente. Trabalhando em veículos mal conservados, sem ar condicionado e recebendo baixos salários, a categoria decidiu deflagrar greve no dia 1º de julho, exigindo reajuste de 33% e melhores condições de trabalho.
Apesar do lucro dos empresários, motoristas, fiscais e cobradores recebiam apenas R$ 1.500, R$ 970 e R$ 690, respectivamente. O sindicato dos donos de empresas de ônibus oferecia aumento salarial de apenas 3%. Revoltados com a direção do seu sindicato de classe, que aceitou a proposta patronal contra a vontade da categoria, os trabalhadores resolveram entrar em greve por conta própria.
“A deflagração da greve foi por conta do percentual que os patrões passaram pra gente: eles só queriam dar 3%. Eles ficaram irredutíveis. Como o presidente do sindicato está mais para patrão do que para trabalhador, a categoria se rebelou e formou uma oposição para mostrar que não estava mais aceitando essa situação. A greve se prolongou porque eles não cederam nada”, declarou Edmilton Carneiro, 50 anos, trabalhador rodoviário.
No dia 2 de julho, o pleno do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6) decretou a ilegalidade do movimento grevista e determinou a volta dos profissionais ao trabalho. Por 11 votos a três, os desembargadores (que têm salário inicial em torno de R$ 21 mil) determinaram reajuste de 7% para os rodoviários, que passariam a ter piso salarial de R$ 1.605 (motorista), R$ 1.037 (fiscal) e R$ 738 (cobrador).
Mas a decisão do Judiciário não satisfez os trabalhadores. Segundo Aldo Lima, 29 anos, líder da greve e membro da oposição rodoviária ligada à CSP-Conlutas, “a classe chegou a um limite; por motivo de tanta revolta, a classe passou por cima da decisão judicial”. A categoria manteve o serviço apenas nos horários de pico e, mesmo assim, em menor quantidade.
Como a decisão do TRT não conteve a mobilização, os patrões acionaram o Governo do Estado, que mandou 800 policiais para as ruas com o objetivo de reprimir as manifestações de protesto organizadas pelos motoristas, fiscais e cobradores.
A greve só teve fim cinco dias após o seu início, com a celebração de um acordo, no qual o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE) se comprometeu a não demitir ou punir os grevistas nem descontar os dias parados. Porém, “a luta permanece até que o sindicato seja devolvido a toda a classe trabalhadora”, declarou Lima.
Redação Recife