Formado por alunos, ex-alunos, funcionários e professores da Universidade Católica de Pernambuco, o grupo musical MPB Unicap existe há três décadas e foi fundado pelo professor Armando da Costa Carvalho, em 1983. Com sete discos gravados, o grupo musical não só toca e canta como conta a história da Música Popular Brasileira. Com Censura é o nome do espetáculo que apresenta várias canções censuradas pela Ditadura Militar. A seguir, entrevista que Percy Marques Batista, do MPB Unicap, concedeu ao jornal A Verdade.
A Verdade – Conte um pouco da história da formação do grupo, a origem dos componentes e o porquê da escolha pela MPB?
Percy Marques Batista – O grupo foi criado pelo professor Armando da Costa Carvalho, em 1983, inspirado num trabalho do cantor Sílvio Caldas (uma das maiores vozes da Era de Ouro do rádio brasileiro), quando ele excursionou pelo País inteiro com um espetáculo onde cantava e contava a história das mais conhecidas canções da nossa MPB, contextualizando sempre o cenário político e econômico do Brasil. Para Sílvio Caldas, todo brasileiro deveria conhecer a história do seu país para ser um cidadão de verdade. Certa vez, os dois se encontraram no Recife, e o professor Armando lhe disse que era fã do seu trabalho. Sílvio então lhe perguntou: “Por que o senhor não cria uma ‘cadeira’ sobre música popular brasileira na Unicap?”. Como não era possível a criação da disciplina, o reitor da época, padre Amaral Rosa, autorizou o professor Armando a criar um grupo de música popular brasileira formado pela comunidade da universidade.
Como o grupo é mantido?
O MPB Unicap é mantido pela Universidade. Fazemos parte da missão jesuítica de educação, onde buscamos a qualidade acadêmica numa visão de excelência humana, e essa excelência passa também pela oferta de cultura de qualidade a toda a comunidade, interna e externa de nossa universidade. As pessoas buscam a arte por várias razões, principalmente para atingirem o equilíbrio mental necessário a todo ser humano, equilibrando o seu lado produtivo com o seu lado criativo, artístico e lúdico. O lúdico diz respeito ao lazer e o lazer é necessário ao bem-estar humano.
Levantar a bandeira da arte com qualidade, sem apoio da grande mídia, é um grande desafio?
Acreditamos naquela máxima que diz “se tocar, o povo canta!”, ou seja, se os grandes meios midiáticos derem espaço à música de qualidade, com conteúdo poético, as pessoas irão gostar e até consumir essa música. Há muita gente fazendo música de qualidade, só que na surdina, sem espaço e oportunidade de mostrar seu trabalho nos grande meios de comunicação, como TVs, jornais, etc. Os temas abordados pelo MPB Unicap são os mais variados possíveis, pois somos um grupo institucionalizado por uma universidade que forma opiniões e discute sobre tudo. Assim, qualquer tema político, sociológico, histórico, cultural ou econômico poderá ser abordado por nós, sempre através da ajuda preciosa do cancioneiro popular.
Fale um pouco da ideia do show Com censura, qual sua inspiração?
Estive conversando com alguns amigos sobre como as músicas das décadas de 70 e 80 tinham uma poesia forte e crítica. Daí chegamos à conclusão de que elas foram fruto de todo um momento histórico vivido. Então pedi a um amigo que pesquisasse as músicas que foram censuradas e que depois se tornaram grandes sucessos. Descobrimos vários autores e várias canções, além de todos os pareceres correlatos feitos pelos censores, tudo digitalizado. Depois, selecionei o repertório, montei o roteiro e fizemos o show…
Qual é a principal mensagem desse show?
Dizer às pessoas que fiquem atentas a tudo e a todos; que prestem atenção ao que vão fazer com a sua liberdade; que escolham um país melhor para todos. Para nós, tudo começa com educação. Se nossa cultura está manchada, é por falta de educação. Nós devemos lutar para uma melhoria significativa na educação, porque a revolução começaria de baixo para cima, ou seja, da base, da consciência política do valor do voto, nossa grande arma.
Qual são os próximos projetos do grupo?
O grupo está com o show Nossa Nova MPB, no qual traz canções de qualidade de compositores da nova geração, mostrando que ainda se faz boa música, apesar de não haver muito espaço na mídia. No próximo ano, contaremos como foram as décadas de 70, 80 e 90 à luz das músicas das principais novelas que refletiram a história social do nosso País…
Elizabeth Araújo, Recife