A cidade síria de Kobane precisa de apoio internacional.
O Iraque foi efetivamente dividido em três partes após a invasão liderada pelos EUA. Os curdos assumiram o controle da região norte, os xiitas assumiram o leste e o sul e os árabes sunitas controlam o oeste. O Poder no Iraque foi dividido entre xiitas, sunitas e curdos mas a colaboração não existe mais. Os curdos anunciaram um virtual curdistão independente no norte. Os sunitas protestaram contra sua falta de representatividade no governo e pequena participação na distribuição do petróleo, muitas vezes se envolvendo em confrontações armadas com os xiitas. Durante este período, forças religiosas radicais como Al-Qaeda e jihadistas salafistas cresceram. Estes grupos foram apoiados pelos estados da Turquia, Qatar e Arábia Saudita.
Mais tarde, quando a luta armada apoiada pelas potências imperialistas – lideradas pelos EUA – contra o governo da Síria começou, a Al-Qaeda e as forças salafistas no Iraque entraram na Síria e se tornaram a principal ameaça contra o regime de Assad. Estas forças tinham armamento, a experiência e liderança centralizada enquanto o chamado Exército Livre da Síria, conjunto de forças apoiadas pelos EUA, estavam fragmentados, desorganizados e não tinham qualquer experiência de guerra. A coalizão anti-Assad liderada pela Turquia, Qatar e Arábia Saudita, juntamente com os EUA e a União Europeia, apoiou a frente Al Nusra que incluía a Al Qaeda conectada com outros grupos radicais, acreditando que essas forças teriam condições de derrotar Assad. Entretanto, as ações dos grupos radicais religiosos no Afeganistão, Paquistão, Líbia, Egito e Síria causaram preocupação aos EUA e seus aliados. Esses grupos, mesmo servindo os EUA e seus aliados por um lado, tentaram estabelecer a lei Sharia em suas localidades, causando, por outro lado, danos aos interesses estadunidenses.
Em seguida a esses acontecimentos, especialmente após a morte de diplomatas dos EUA na Líbia por grupos radicais e os acontecimentos no Egito, os EUA e seus aliados reduziram o apoio dado às organizações religiosas na Síria.
Grupos como a Al-Qaeda, Al Nusra, Salafistas etc., após admitiram que não podiam derrotar as forças de Assad na Síria, declararam sua soberania e criaram um “Estado Islâmico” cobrindo as áreas da Síria sob seu controle e, também, as áreas sob controle dos árabes sunitas no Iraque.
Enquanto isso, aproveitando o vácuo criado pela disputa entre as forças de Assad, o Exército Livre da Síria e a Al Nusra, os curdos da Síria criaram três regiões autônomas próximas a fronteira da turquia, no norte da Síria. A área controlada pelos curdos é chamada de Rojava (que significa Oeste ou Cusdistão do Oeste, na língua curda). A partir daí, os curdos passaram a se armar para a autodefesa contra os ataques de grupos radicais religiosos. Representantes da região de Rojava têm afirmado que o governo não é exclusivo dos Curdos, mas inclui árabes, yazidis, armênios, turcomenos e outras minorias e grupos religiosos que estão compartilhando o poder e de fato criaram uma alternativa autônoma democrática.
Está claro, no entanto, que a linha política do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) é dominante no governo de Rojava. Essa linha política é representada pela frente Partido da União Democrática (PYD, pela sigla em curdo). A segurança em Rojava está sob o domínio das Unidades Populares de Proteção (YPG) e as Unidades de Proteção das Mulheres (YPJ). YPG/YPJ têm cerca de 5000 membros armados. Com o início da guerra civil na Síria, o PYD adquiriu controle político e militar das cidades de Kobane, Afrin e Cinderas no estado de Aleppo; as cidades de Amude, Derik e Efrin no estado de Hasaka, e as cidade de Darbasiyah, Resulayn e Tirbesipiye. YPG, o braço armado do PYD, tomou o controle da cidade de Resulayn da Al Nusra após um conflito armado e retomou os tanques de guerra que lhes foram roubados em Kobane.
As três regiões de Rojava não fazem fronteira entre si. O regime de Assad estabeleceu vilarejos árabes sunitas entre os assentamentos curdos. Os vilarejos estão agora sob o controle do Estado Islâmico.
Há cerca de quatro messes atrás, as forças armadas do Estado Islâmico iniciaram seu avanço sobre o leste, tendo Bagdá como alvo. Rapidamente, eles tomaram a cidade de Mosul, maior cidade do Iraque. Durante o avanço do Estado Islâmico, os soldados sunitas iraquianos não opuseram resistência e abandonaram suas armas para o exército inimigo. Alguns aderiram ao EI outros fugiram para o leste. Enquanto o EI avançava para Bagdá, o líder xiita do governo do Iraque foi substituído e o governo dos EUA ofereceu armas para o governo central iraquiano, além de apoiar com ataques aéreos contra o EI. Em resposta a isso, o Estado Islâmico desistiu de avançar sobre Bagdá e passou a atacar as áreas curdas do Iraque e da Síria. As forças curdas lideradas por Barzani no governo regional curdo no norte do Iraque não puderam confrontar o EI e fugiram abandonando posições armas.
No Curdistão Iraquiano, o Partido dos Trabalhadores Curdos – PKK (que vinha sustentando uma guerra de mais de 30 anos contra o estado Turco até o recente cessar-fogo) confrontou o Estado Islâmico e conseguiu deter seu avanço em alguns locais. As forças do EI chegaram perto de Erbil, a capital do Curdistão Iraquiano, e, também, da cidade de Kirkuk, importante produtora de petróleo. O EI conseguiu invadir a cidade de Shengal, que tem maioria do povo Yazidi. Dezenas de milhares de yazidis fugiram de Shengal e se refugiaram na Turquia.
Os bombardeios dos EUA fizeram parar o avanço do Estado Islâmico no Curdistão Iraquiano. Como consequência disso, o EI iniciou o ataque à cidade curda de Kobane. A cidade está agora cercada por três lados no leste, sul e oeste. A exceção é o norte na fronteira com a Turquia. As forças do Estado Islâmico têm tanques de guerra e artilharia pesada, enquanto as forças armadas de Rojava têm apenas rifles e infantarias leves. Os anciões, as mulheres e crianças de Kobane escaparam para a Turquia. Dezenas de milhares estão na cidade de Suruc na Turquia, acampando ao relento e vivendo com a fome.
Kobane quer armas para lutar contra o EI. Eles querem que a Turquia abra um corredor por onde passem tanques de guerra e a artilharia pesada que foi abandonada na região leste pelos curdos iraquianos e pelas forças militares iraquianas e recolhidas pelo YPG. As forças do Estado Islâmico estão agora a menos de 1 km das posições da YPG.
Nosso partido, juntamente com outras forças democráticas da Turquia, está organizando manifestações para coletar apoio popular e forçar o governo a ajudar Kobane. Os apoiadores da resistência foram até a cidade de Suruc para acessar pela fronteira o povo de Kobane levando comida e outros suprimentos. O YPG guarda uma área de 25 km entre a fronteira Turquia-Síria para prevenir a infiltração de mercenários pela fronteira turca para lançar foguetes desde o norte. Muitos jovens curdos da Turquia atravessaram a fronteira pra Kobane para lutar contra o EI e apoiar a resistência.
Ao decidir participar da coalizão contra o Estado Islâmico liderada pelos EUA, o governo turco anunciou a criação de uma zona de segurança com a 40-50 km de largura em Rojava. Essa zona, que se estende pela fronteira turco-síria, abrigará os refugiados sírios que cruzaram as fronteiras para a Turquia durante a guerra civil. O povo dessa zona será desarmado (o que significa que o PYD e a YPG perderão controle e influência em Rojava e as forças da coalizão, Turquia inclusive, defenderão a área contra o EI e as forças de Assad). Mais tarde, o Exército Livre da Síria se agrupará nessa área para lutar contra Assad.
As forças democráticas na Turquia lutam contra esse plano do governo. Somos contrários a zona de segurança e a participação militar da Turquia além das fronteiras. Defendemos que o governo turco pare de apoiar o EI e de autorizar seus militantes a usar as fronteiras turcas. Queremos que o governo turco apoio o povo de Kobane e da Rojava contra os ataques do Estado Islâmico.
Nosso partido acredita que na atual situação internacional a solidariedade e o apoio a Kobane é vital. Convocamos as organizações e partidos democráticos, comunistas e socialista a expressar solidariedade com Kobane e Rojava.
Acreditamos que a solidariedade com os povos da região contra os planos imperialistas e os ataques é um das tarefas políticas mais urgentes.
Derrotaremos o imperialismo. Os povos serão vitoriosos.
Viva a resistência em Kobane.
Partido do Trabalho da Turquia
Setembro de 2014.