Em setembro de 2014 foi realizada mais uma “Cúpula do Clima” da ONU, que, outra vez, acabou sem acordo entre os países para buscar uma solução aos problemas climáticos do planeta causados pelo homem. Com isso, o povo e os milhares de manifestantes que estiveram nas ruas de Nova York, onde ocorreu o evento, sabem que a situação ambiental vai caminhando para uma destruição sem volta.
Mas não só os manifestantes têm consciência disso, pois essa é a realidade apontada por uma pesquisa científica sobre as espécies animais, publicada na capa de uma edição especial da revista Science – uma das mais respeitadas do mundo –, que teve a participação do pesquisador brasileiro Mauro Galetti, professor do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
Essa pesquisa traz novas visões sobre o Antropoceno, ou seja, a atual etapa geológica vivida pela Terra, caracterizada pela intensa ação humana que produziu mudanças significativas no clima, na biodiversidade, na atmosfera e nos oceanos. Os impactos da atividade humana sobre a natureza estão sendo capazes de alterar até mesmo as rochas, que demoram milhares ou milhões de anos para sofrerem alterações, mas que poderão ser identificadas no futuro como pertencentes à época atual.
Sabemos que esses impactos não são positivos e que a destruição da natureza pelo homem é uma certeza que não pode ser negada; só resta a dúvida sobre quando ela começou. Alguns pesquisadores entendem que foi há 100 mil anos, quando nossos ancestrais saíram da África para povoar o resto do mundo, outros defendem a hipótese de que foi com a invenção da agricultura, há 10 mil anos, e outros dizem que foi com a Revolução Industrial, há cerca de 200 anos.
A forma devastadora como o ser humano explora a natureza é, atualmente, a principal causa da extinção de espécies. Não à toa, mesmo que espécies estejam desaparecendo há 12 mil anos, os pesquisadores definiram o ano de 1500 como o início do extermínio de outras espécies pela ação humana. É só lembrarmos que o ano de 1500 marcou o início da expansão do capitalismo mercantilista com a descoberta da América e a devastação deste continente junto com a África e a Ásia. Desde então, 322 espécies de vertebrados foram extintas, como o tigre-da-tasmânia, o rinoceronte-negro e o dodô (uma ave que não conseguia voar, assim como a galinha).
A principal causa da matança dos animais ainda é a caça para alimentação, seja por necessidade, como na África, ou por diversão, como nas caçadas que envolvem reis e milionários mundo a fora. A segunda causa é a destruição do habitat (moradia), provocada pelo desmatamento. Hoje, a ganância do lucro no campo tem causado o desmatamento em regiões como a Floresta Amazônica para atender a interesses do agronegócio. A introdução de espécies invasoras também ajuda na extinção. Por exemplo: com a chegada dos europeus ao Brasil, cães e gatos passaram a disputar alimentos ou a atacar os animais nativos do Brasil, como pássaros, macacos, tatus e cotias. Isso acontece ainda hoje em parques que viraram morada de cães e gatos abandonados.
As extinções não são novidade para o nosso planeta. A Terra já passou por cinco delas nos últimos 500 milhões de anos, sendo a mais famosa a do período Cretáceo, que eliminou os dinossauros. A diferença fundamental é que as outras cinco foram causadas por acontecimentos naturais, como mudanças na temperatura global, ação de vulcões ou a queda de asteroides. Já o Antropoceno é a única delas causada por uma única espécie: o homem.
Se contarmos as espécies em risco de extinção, os dados mostram que a população animal vem caindo porque elas não têm tempo de se reproduzirem antes de serem mortas. Somente nos últimos 40 anos, a população animal caiu 28%, ou seja, para cada 100 animais que existiam em 1970, hoje só temos 72.
Mas a extinção de espécies animais não causa problemas apenas para a fauna (nome dado à diversidade de animais em uma região), mas também para a flora (diversidade de plantas). Animais como pássaros, macacos, roedores e abelhas são responsáveis por carregar e espalhar as sementes ou o pólen de flores, que darão origem a novas árvores e florestas. Hoje existem várias “florestas vazias”, que são aquelas que possuem árvores e plantas, mas não possuem animais. Essas florestas são pobres e improdutivas. A Mata Atlântica não possui nenhum dos principais animais semeadores em 88% do seu território, e a Serra do Mar, no Estado de São Paulo, possui apenas pássaros.
Por isso, o “capitalismo verde” não soluciona o problema ecológico. Plantar eucaliptos não é reconstruir uma floresta.
A solução imediata para evitar um desastre ainda maior para os seres vivos é o fim da exploração desenfreada das florestas e do extermínio de animais; a segurança de áreas protegidas como parques e reservas naturais contra caçadores e o repovoamento com espécies nativas, que podem ser recuperadas das mãos de traficantes; e obrigar os donos de grandes fazendas a fazer não apenas o reflorestamento, mas também o refaunamento, povoando as florestas replantadas com animais semeadores para que estas se mantenham de pé.
Como disse o pesquisador Galetti: “Essa pesquisa rebate o discurso de que o dinheiro usado para salvar o mico-leão-dourado poderia ser empregado para construir hospitais e escolas. Acontece que não estamos preocupados com o mico-leão porque ele é bonitinho, mas sim porque ele dispersa mais de 100 espécies de plantas, que ajudam a controlar o clima e melhorar a qualidade da água. Os animais são essenciais em processos ecológicos chave para a própria sobrevivência dos seres humanos”.
Mas a solução real para o equilíbrio da vida humana na natureza se dará apenas em uma sociedade socialista, na qual os recursos naturais serão usados para garantir uma vida de qualidade para o ser humano, mas com respeito aos outros seres vivos e à natureza.
Lucas Marcelino, diretor da UNE e militante da UJR