Como diz o ditado popular, “na briga do rochedo contra o mar, quem se dá mal é o marisco”. É o que está acontecendo com quase três mil trabalhadores do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), contratados pela Alumini Engenharia, empreiteira que presta serviços para a Petrobras. Desde dezembro, eles estão sem salários, e 469 foram demitidos sem o devido pagamento dos direitos trabalhistas.
Os operários estavam construindo um polo petroquímico no Município de Itaguaí, região metropolitana do Rio de Janeiro.
O investimento, orçado em R$ 6,5 bilhões, encontra-se quase parado. A obra se tornou um “canteiro de demissões”, e a promessa de dias melhores para milhares de pessoas vai se esvaindo no ralo das denúncias de corrupção na Petrobras e na irresponsabilidade do governo federal e de suas empreiteiras contratadas.
Diante do descaso dos patrões, os trabalhadores se organizaram, com o apoio do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindpetro-RJ), e começaram a realizar mobilizações exigindo seus direitos. A presença dos trabalhadores do Comperj na porta do prédio central da Petrobras, no centro do Rio, tornou-se rotina. Essa agitação conquistou o apoio da população que passava pelo local, e a solidariedade foi aumentando. Várias pessoas se revessavam no microfone do carro de som, declarando seu apoio ao movimento e criticando o governo por gastar dinheiro com as dívidas interna e externa, engordando os lucros dos banqueiros e deixando as famílias dos trabalhadores sem ter o que comer.
No dia 10 de fevereiro, centenas de trabalhadores do Comperj realizaram um ato público no vão central da ponte Rio-Niterói, paralisando metade das pistas e chamando a atenção da população para o problema que estão passando. O ato demonstrou a unidade dos trabalhadores e denunciou à sociedade a situação de dificuldades pelas quais passam suas famílias.
O movimento também lançou um manifesto onde afirma que “fomos abandonados pela empresa, pela Petrobras e pelo governo. Quem trabalha e constrói as riquezas desse país não pode ficar refém de disputas políticas que salvam as grandes empresas, enquanto os direitos trabalhistas nos são negados”.
Para dar uma solução ao problema, no dia 24 de fevereiro, 40 operários do Comperj, acompanhados pelo diretor Ronaldo Moreno do Sindpetro-RJ, foram a Brasília e fizeram uma vigília em frente ao Palácio do Planalto para serem recebidos pela presidenta Dilma Rousseff. A presidenta encaminhou a comissão de operários ao Ministério do Trabalho para que uma solução para o problema seja encontrada.
Os trabalhadores exigem que a Petrobras assuma sua responsabilidade diante dessas injustiças. Nesse mesmo dia, o juiz da 1ª Vara da Justiça do Trabalho deferiu pedido do Ministério Público do Trabalho, bloqueando as contas da Petrobras para o pagamento dos salários e resíduos de verbas rescisórias dos trabalhadores da Alumini Engenharia. O valor devido já soma mais de R$ 13 milhões.
Essa é uma vitória parcial na Justiça, mas ainda cabe recurso da estatal, e os trabalhadores sabem que o que vai garantir seus direitos é a continuidade das mobilizações e a unidade conquistada durante o processo da luta.
Victor Madeira, Rio de Janeiro