Um das maiores campanhas levadas a cabo pelos Estados Unidos para a desestabilização e difamação de Cuba e Coreia do Norte é a propaganda a favor dos “direitos humanos”.
A máscara da hipocrisia imperialista cai quando analisamos como este mesmo governo trata os Direitos Humanos em seu país, sobretudo, em relação à população afro-descendente. Mesmo o presidente dos EUA sendo negro, a maior parte da composição governamental e de seus agentes públicos continua promovendo a criminalização da população negra.
Quando Freddie Gray, um jovem de 25 anos, morador de Baltimore, no estado de Maryland, morreu por complicações na medula espinhal após sofrer agressões físicas cometidas por policiais brancos, a questão do preconceito racial voltou à tona gerando reações violentas de uma população indignada e preocupações em diversos grupos sociais no país.
Pesquisa
Numa pesquisa feita pela rede de comunicações CBS, 61% da população estadunidense afirma que as relações raciais no país estão complicadas, enquanto que há dois meses o percentual era de 38%. Toda essa desconfiança vem crescendo, também, desde o assassinato de outro jovem negro, Michael Brown, que morava na periferia de St. Louis, no estado de Missouri, assassinado por outro oficial de polícia branco. Michael não portava armas e não tinha antecedentes criminais, o que deixa ainda mais evidente como são postas em prática as políticas públicas no país.
O percentual de negros nos Estados Unidos constatado no último censo de 2013 é de 13,7% da população. Mas, quando observamos o percentual de criminalidade no país, dados alarmantes chamam a atenção: de acordo com pesquisa feita pelo órgão NAACP (Associação Nacional pelo Progresso de Pessoas de Cor, em português), 42% dos encarcerados nos Estados Unidos são negros, e 31% das vítimas de assassinatos cometidos por policiais também.
Divisão de classes
Esses dados são reflexos da divisão de classes nos EUA. Por mais desenvolvido que o país seja, não irá resolver essa questão a menos que a divisão de classes seja abolida.
Essa divisão, necessariamente, subjuga uma classe em detrimento da outra, para que a dominante possa assegurar seu domínio através da exploração, utilizando a meritocracia como argumento. No caso dos Estados Unidos, a população negra possui um histórico de escravidão, que se reflete nos tempos atuais na herança da discriminação e do rebaixamento social.
Os conflitos em Baltimore, gerados pela morte de Freddie, são resultado de todo esse processo histórico, que não foi capaz de apagar as feridas deixadas pela elitização e o conservadorismo da sociedade norte-americana.
Mesmo após esses casos de racismo, os agentes públicos continuam a mostrar o reflexo desse comportamento classista, direcionado pela ala majoritária do Partido Republicano (que inclui também grupos de extrema-direita, como o TeaParty) no parlamento nacional. Após cessar os conflitos na cidade de Baltimore, Allen Bullock, um jovem negro de 18 anos, foi penalizado com uma multa de 500 mil dólares por ter quebrado uma vidraça de um carro durante as manifestações. Allen se entregou à polícia depois que sua mãe o reconheceu nas imagens. O padrasto de Allen, Maurice Hawkins, denunciou o exagero das autoridades: “Ao se entregar, ele também reconheceu que o que fez foi errado, mas eles (a polícia) estão fazendo dele um exemplo e isso não é correto”, declarou em entrevista ao The Guardian.
Enquanto isso, os seis policiais acusados pela morte de Freddie Gray foram liberados para atuarem em serviço após pagarem fianças entre 250 e 375 mil dólares. Os pais de Allen ficaram indignados com a pena aplicada ao seu filho em comparação com a dos policiais: “Ele (Allen) estava realmente triste com o fato dos policiais estarem livres. Vocês querem dar ao meu filho uma fiança de meio milhão de dólares por quebrar um vidro de uma viatura policial e não dão nada a esses policiais? Nada? Nada por assassinato?”, desabafam.
Para ficar mais claro a postura segregacionista do governo norte-americano, vale lembrar o que ocorreu com o conglomerado de mídia japonesa Sony nas vésperas da pré-estréia do filme A entrevista. A ex-executiva da companhia, Amy Pascal, teve um e-mail vazado por um grupo de hackers de uma conversa com um dos produtores da empresa, Scott Rudin. Os dois faziam piadas sobre cor de Barack Obama e sua relação aos possíveis gostos cinematográficos do presidente.
Após esse caso há de se perguntar em quantos dólares a empresa foi multada? Quais foram as ações das autoridades estadunidenses para promover os direitos humanos? Se fosse algum jovem de classe média ou baixa infringindo a lei ciberneticamente as autoridades deixaram passar se fosse descoberto?
Mesmo após as ações de Amy, sua permanência de vínculos com a Sony foi muito comemorada pelo diretor executivo da empresa, Michael Lynton. Esse é o resultado da postura classista do governo norte-americano, que se compromete em promover direitos à sua elite nacional, renegando as necessidades básicas de seu povo, como a inclusão social de grupos marginalizados.
Bruno Melo, estudante de jornalismo da UNICAP e militante da UJR