Com um saldo de 265 pessoas assassinadas, 1440 feridas, e quase 3000 presas, entre civis e militares, a tentativa de golpe promovida por um setor do exército na última madrugada fracassou. Pouco a pouco, o governo do presidente Erdogan e do primeiro-ministro Binali Yildirim (ambos do partido Justiça e Desenvolvimento – AKP, de Direita) vai restabelecendo o controle sobre os órgãos estatais do país.
Durante a madrugada, regimentos da força aérea e batalhões motorizados do exército se insurgiram contra o presidente prendendo seu Estado-maior e declarando, em rede nacional, a formação de um novo governo. O chefe do exército, general Hulusi Akar foi preso, e Edorgan teve que fugir às pressas para uma cidade turca às margens do mar de Mármara.
O governo, no entanto, rapidamente se reagrupou e indicou o general Umit Dundar como novo chefe do exército. Em uma entrevista via facetime para a CNN Turca, Erdogan conclamou seus apoiadores a ocuparem às ruas contra o golpe. Nos bairros de classe média de Istambul e Ankara, o chamado do presidente foi rapidamente atendido e setores da população enfrentaram regimentos nas ruas.
Nas primeiras horas da manhã (horário de Istambul), o governo já começava a reverter a situação. Explosões foram ouvidas em Istambul e Ankara e a sede do parlamento Turco foi bombardeado. Um helicóptero abriu fogo conta a população civil. Desde 1960, contando com esta tentativa, é a quinta vez que o exército turco promove um golpe de Estado.
Nem golpe, nem ditadura de um só homem
Selma Gürkan, presidenta do Partido do Trabalho da Turquia (EMEP) – uma das principais organizações da esquerda do país – declarou através do site oficial do partido que o golpe não é solução para os problemas da Turquia, ao mesmo tempo em que repudiou as tentativas de Erdogan de aumentar seus poderes e suas relações com os terroristas do Estado Islâmico na Síria.
Para o EMEP, o momento é de unificar o movimento popular e dos trabalhadores turcos para defender uma Turquia laica e de democracia popular, que respeite os direitos das diferentes nacionalidades que vivem no Estado turco, em especial o povo Curdo.
Vários setores do movimento social estão denunciando o uso político que Erdogan está fazendo do golpe. Alguns falam na possibilidade de auto-golpe, instrumento usado há muito por governos ditatoriais (como no caso do incêndio do Reichstag, na Alemanha Nazista). As consequências políticas desse evento, no entanto, ainda estão por se produzir.
Em algumas declarações, o governo tem acusado a Muhammed Fethullah Gülen, líder político conservador em auto-exílio nos EUA como um dos articuladores do golpe. As divergências entre Erdogan e Fethullah levaram ao fechamento de um canal de televisão privado no ano passado.
Os acontecimentos na Turquia precisam ser acompanhados com atenção pois são de vital importância para a situação política tanto no Oriente Médio (em virtude da guerra na Síria e no Curdistão) quanto na Europa (em virtude da situação dos imigrantes).
Sandino Patriota, São Paulo.