Movimento realiza ocupação em Mauá para atender mulheres vítimas de violência

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O dia 25 de julho marca a luta das mulheres negras. É o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Foi esse o dia que o Movimento de Mulheres Olga Benario escolheu para realizar mais uma ocupação, desta vez em Mauá, cidade do ABC Paulista, denunciando a violência contra as mulheres e, em especial, contra as mulheres negras. A primeira ocupação organizada pelo Movimento ocorreu em Belo Horizonte, obtendo a grande conquista da organização da Casa de Referência Tina Martins. Em Porto Alegre, em março deste ano, as mulheres também realizaram a Ocupação Mulheres Mirabal. E agora, em Mauá, a Ocupação Helenira Preta, homenageando Helenira Resende, morta e desaparecida pela Ditadura Militar.

Essa data é oportuna para a denúncia da violência contra a mulher, em especial às mulheres negras, que são as mais atingidas, tendo o dobro de homicídios em relação às mulheres brancas, como divulgado no Mapa da Violência pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Ele mostra que o número de assassinatos de mulheres brancas entre 2003 e 2013 caiu em 10%, enquanto para as mulheres negras este número cresceu em 54%! Por outro lado, temos assistido a um retrocesso nas políticas voltadas para o atendimento de mulheres, que já eram insuficientes, tanto em nível federal (com a extinção do Ministério das Mulheres e o da Igualdade Racial) quanto em nível regional. A insuficiência dos serviços públicos de atendimento às mulheres, somado ao gigantesco desemprego, carestia e aumento da miséria, tem aprisionado milhares de mulheres a um circuito de violência.

É a partir desse cenário, e certas de que a mudança só virá pelas mãos daquelas que sofrem na pele essa situação, que o Movimento de Mulheres Olga Benario realizou a Ocupação Helenira Preta, que, desde as primeiras horas, contou com uma gigantesca solidariedade de militantes da região, bem como de trabalhadores e trabalhadoras, que chegaram ao longo dos dias trazendo alimentos, água, produtos de limpeza, etc.

No dia 28 de julho, foi expedido o mandato de reintegração de posse da casa. Graças à enorme pressão das mulheres e de um grande número de apoiadores que se dirigiram para lá, o Movimento conseguiu reverter a situação temporariamente e abrir uma negociação com a Prefeitura de Mauá. As conquistas não foram pequenas! Foi firmado um acordo, registrado em cartório, no qual foi nomeada uma comissão para implantar o Centro de Referência da Mulher na cidade e o Movimento de Mulheres Olga Benario terá três nomes nessa comissão. Esta funcionará regularmente na Prefeitura e fará vistoria de todos os imóveis onde seja possível implantar o centro, já que a casa atual não abriga estas condições. No dia 01 de agosto, ocorrerá uma reunião com o prefeito e, no dia seguinte, a vistoria dos imóveis.

Segundo Carolina Mendonça, uma das coordenadoras do Movimento, “essa luta significou um grande avanço. Aqui no ABC chega uma denúncia por dia de mulher estuprada. Isso quer dizer que, todos os dias, muitas mulheres são estupradas na nossa região, pois nem todas denunciam! Este processo é importante para denunciarmos tamanha violência. Além disso, ele foi fundamental para fortalecer a consciência das mulheres, que passaram a perceber que é só com muita luta, indo pra rua, se juntando e se organizando que poderemos mudar essa situação. A nossa luta só está começando e não mediremos esforços para que ela seja vitoriosa!”.

Após um grande ato com os movimentos sociais, no dia 29 de julho, as mulheres encerraram a ocupação na casa, entendendo que esta não daria condições para o abrigo de mulheres e seus filhos. Inicia-se agora uma nova fase da luta e será fundamental a pressão sobre a Prefeitura para cumprir os acordos, assim como a pressão sobre o Governo do Estado, que também é responsável por uma casa deste tipo.

Neste momento de forte retrocesso dos direitos da classe trabalhadora, como a reforma trabalhista e o corte nos investimentos públicos, o Movimento Olga Benario acredita que esses ataques atingirão ainda mais as mulheres, que já são sobrecarregadas com gigantescas jornadas que extrapolam os muros de seus locais de trabalho. É nesse contexto que mulheres rompem o silêncio, estouram as correntes que lhes aprisionam e ousam lutar! Lutar para mostrar que nossas vidas importam e que não aceitaremos caladas mais nenhuma injustiça.

Movimento Olga Benario São Paulo