Desde o dia 06 de setembro de 2017, a Ocupação Carolina Maria de Jesus resiste no Centro de Belo Horizonte, pois enquanto o centro não chega à periferia, a periferia chega ao centro. A Ocupação, localizada no coração de Belo Horizonte, traz à tona a enorme incoerência entre as quase 80 mil famílias sem casa de BH e os mais de 171 mil imóveis e terrenos vazios na região metropolitana.
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que organiza a Ocupação, decidiu, desta vez, homenagear Carolina Maria de Jesus, mulher negra, mãe de quatro filhos, semialfabetizada, escritora e moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Ela trabalhava como catadora de lixo e com os papéis que encontrava ela escrevia sobre o seu dia a dia na favela, mostrando relatos sobre a realidade marginal, a desigualdade social, o racismo e os processos de despejo. Considerada uma importante escritora brasileira, é autora do livro Quarto de Despejo – Diário de uma favelada, uma das obras mais vendidas e um dos primeiros relatos sobre a realidade marginal, denunciando a desigualdade social e o racismo.
A Ocupação revela uma luta essencial para o desenvolvimento da cidade de Belo Horizonte e todas as cidades brasileiras: alterar a lógica de localização dos empreendimentos habitacionais de interesse social. A expansão horizontal das cidades gerou uma enorme desigualdade sócio territorial e um crescimento desarticulado da infraestrutura existente, demandando gastos que poderiam ser otimizados no caso de produção habitacional territorialmente estratégica.
Acompanhado da ineficácia das políticas habitacionais, o Centro de BH passa, desde seu primeiro dia, por um processo de expulsão das famílias de baixa renda para as periferias da cidade, causando para além da “higienização” e aumento dos preços no Centro, uma reafirmação de negação ao direito à cidade para aqueles que sempre trabalharam para construí-la. Durante esse último mês de setembro, a Ocupação também vem se consolidando como um ponto de referência sociocultural na cidade. Construímos uma ampla agenda de atividades, como oficinas, cursos de formação, aulões e eventos culturais (teatro, música, dança, cinema), além da estruturação de uma ampla rede de apoio que vão desde os próprios vizinhos a assistentes sociais, médicos, professoras e professores universitários, vereadores, deputados, movimentos sociais, dentre outros.
A Ocupação também tem proporcionado aos moradores acesso a direitos básicos, como educação pública e gratuita em nossa creche “Sementinha Carolina”, que acolhe hoje mais de 50 crianças, proporcionando contações de história, aulas de teatro e dança, atividades educativas, meditação, etc. Iniciamos também uma turma de EJA, que tem auxiliado idosos a se alfabetizarem e uma biblioteca comunitária ampliada diariamente por nossos apoiadores.
Para além da obrigação – mínima – de se desenvolver uma Política Municipal de Habitação efetiva para Belo Horizonte, é preciso ultrapassar a lógica de desapropriações e assistencialismo provisório (com viés permanente) que geram demasiadas despesas, sem construírem soluções concretas. Queremos uma solução já, agora, para quem a tantos anos vem construindo essa cidade com as próprias mãos.
Vamos dar vida ao Centro de Belo Horizonte com a classe trabalhadora dessa cidade: onde antes existia vazio, agora existe esperança; onde antes existia, um vazio, existem famílias com um sonho.
Morar dignamente é um direito humano!
Coordenação do MLB-MG