O militante da União Juventude Rebelião (UJR), José Roberto da Cruz Júnior, traduziu o artigo “La nueva Estrategia de Estados Unidos: proyecciones hacia Nuestra América”, assinada por Abel González Santamaría, para o jornal Granma (Órgão Oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba) ¹.
A menos de um ano após assumir a Casa Branca, o presidente Donald Trump divulgou no dia 18 de Dezembro de 2017 a Nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Ao apresentar o documento, o mandatário estadunidense assinalou que seu país entrou em uma “nova era de rivalidade”, na qual sua liderança global é ameaçada pro Rússia e China, embora “tratará de construir boas relações de cooperação com todos os países”.
Este documento é um guia estratégico da política exterior segurança que terá o governo estadunidense para os próximos anos. Políticos, analistas e estudiosos do mundo todo analisaram o seu conteúdo de 68 páginas, com o propósito de determinar as implicações que terá para seus países e regiões. A Lei de Segurança Nacional de 1957, dos EUA, estabelece que estas informações tenham uma versão pública e outra “confidencial”.
Desde 1986, este documento começou a ser divulgado sem restrições de acesso a versão pública, portanto estamos diante de uma estratégia de divulgação elaborada cuidadosamente, que expõe a visão que o governo dos Estados Unidos quer impor ao resto das nações. Podemos ver a definição de uma “doutrina de Trump” para a política exterior e de segurança, na qual tem um caráter imperialista. O documento apresentado segue a plataforma eleitoral nacionalista, que o elegeu, o “América first” que significa, na prática, “Complexo Militar-Industrial primeiro”, orientado para retomar a hegemonia global.
OS “QUATRO PILARES” DA ESTRATÉGIA
Se identificaram quatro interesses nacionais vitais ou “quatro pilares” que terá os Estados Unidos para os próximos anos, que ratificam o rumo militarista do atual governo. Segundo o documento se resumem em:
1. Proteger o povo, a pátria e o estilo de vida estadunidense: Fortalecer o controle das fronteiras e reformar o sistema imigratório para proteger o país e reestabelecer a soberania. Confrontar as ameaças antes que cheguem à fronteira ou possam causar prejuízo a população.
2. Promover a prosperidade estadunidense: Renovar a economia em benefício dos trabalhadores e das empresas do país, para reestabelecer o poder nacional. Trabalhar em nome de relações econômicas livres, justas e recíprocas. Utilizar seu domínio na área energética para garantir que os mercados internacionais sigam abertos.
Estes pilares apresentam ter um enfoque aparentemente nobre, porém estão carregados de demagogia. Em toda a argumentação do documento, busca-se justificar políticas discriminatórias contra as minorias que contribuem para a economia estadunidense, e fomentam as práticas e sentimentos xenofóbicos que dividem a sociedade dos Estados Unidos.
3. Preservar a paz mediante do uso da força: Reconstruir sua capacidade militar para assegurar que não exista outra maior. Empregar todas as ferramentas estatais para uma nova era de competição estratégica – no plano diplomático, da informação, militar e econômico – para proteger seus interesses. Modernizar as forças nucleares e sua infraestrutura.
4. Impulsionar a influência estadunidense: Deverão seguir aprofundando a influência no exterior para proteger ao povo estadunidense e impulsionar a prosperidade. As ações diplomáticas e de desenvolvimento se esforçarão para alcançar melhores resultados em todos os âmbitos – bilaterais, multilaterais e da informação – para defender seus interesses, encontrar novas oportunidades econômicas e enfrentar seus competidores.
Este últimos objetivos nacionais reafirmam que o uso da força irá manter a hegemonia, combinado com uma estratégia de “diplomacia pública”. O objetivo que se propõem de modernizar as forças nucleares e sua infraestrutura é algo perigoso para a paz internacional. Na introdução do relatório, Trump assegurou que “está fazendo investimentos históricos no exército”, em correspondência com a lei que assinou há uma semana que repassa 700 bilhões de dólares ao orçamento do Pentágono para o ano fiscal de 2018.
FOCO NA AMÉRICA LATINA E CARIBE
A região foi avaliada na seção dedicada ao “Hemisfério Ocidental”, concentrando-se nas supostas ameaças à segurança e no ataque a Cuba e Venezuela. Afirma que os Estados “Democráticos” ligados por valores e interesses econômicos compartilhados conseguiram “reduzir a violência, o narcotráfico e a imigração ilegal que ameaçam nossa segurança comum e limitar oportunidades dos adversários operarem nestas áreas de proximidade”, em referência a Rússia e China, identificados na Estratégia como principais ameaças aos Estados Unidos.
Observam que permanecem os desafios com as organizações criminosas transnacionais, que “perpetuam a violência, a corrupção e ameaçam a estabilidade dos Estados Centroamericanos, concentrando o Guatemala, Honduras e El Salvador”.
Referente a Cuba e Venezuela assinala que são “governos controlados por modelos autoritários de esquerda anacrônicos que continuam falhando a seus povos”. Destaca que a Rússia continua apoiando seus “aliados cubanos radicais, enquanto Cuba mantêm reprimindo seus cidadãos” e que a China e a Rússia apoiam a “Ditadura” na Venezuela, “em franca desconsideração as relações respeitosas e de colaboração que existem entre nossos países”.
Convidam a construir junto com os Estados Unidos, “um hemisfério estável e pacífico que aumente as oportunidades econômicas para todos, melhore a governabilidade, reduza o poder das organizações criminosas e limite a influência ruim de forças no hemisfério”. Também projetam uma série de ações no plano político, econômico, militar e de segurança na região.
Propõem “isolar os governos que recusem atuar como sócios responsáveis no avanço da paz e da prosperidade do hemisfério”, afirmando querer ver Cuba e Venezuela somando-se “à liberdade e prosperidade compartilhada” do resto do hemisfério. Explicam que os Estados Unidos promoveram mais reformas econômicas baseadas no “livre mercado” e continuaram apoiando esforços para combater a delinquência.
AMÉRICA NUESTRA
Novamente tratam os países vizinhos com desprezo, ignorando os valores e cultura dos povos. O documento é um verdadeiro receituário de “humildade” imperialista ao estilo da época da Doutrina Monroe e da época da Guerra Fria. Também demonstra uma menor prioridade, aparente, a nossa região, dedicando uma página somente do relatório. Porém, não se pode subestimar a retórica agressiva e desrespeitosa contra Cuba e Venezuela, ao não reconhecer a contribuição para a garantia da paz e segurança regional, e muito menos seus resultados nos indicadores sociais.
Frente os riscos e ameaças apresentados na Estratégia, o povo cubano manterá seu caminho socialista e continuará defendendo o pensamento mariano e fidelista de uma “América Nuestra”, unida. Assim afirmou o General de Exército Raúl Castro Cruz, em 21 de Dezembro de 2017, no fechamento do X Período Ordinário de Sessões da VIII Legislatura da Assembleia Nacional do Poder Popular: “Os países da América Latina e do Caribe têm o dever de avançar a integração política, econômica e social da Nossa América. E como foi afirmado em diversos fóruns, trabalhar pela “unidade dentro da diversidade” é uma necessidade impostergável”.
Quanto ao retrocesso das relações com Estados Unidos, o Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos do Estado e de Ministros, deixou bem claro que nosso país não é responsável e reiterou que “Cuba tem a vontade de continuar negociando os assuntos bilaterais pendentes com os Estados Unidos, conduzido sobre a base da igualdade e o respeito à soberania e à independência do nosso país, e prosseguir o diálogo respeitoso e a cooperação em temas de interesse comum com o governo estadunidense”. Não obstante, afirmou uma realidade inquestionável: “A Revolução Cubana tem resistido os embates das 11 administrações dos Estados Unidos de distintos partidos e aqui estamos e estaremos, livres, soberanos e independentes”.
Abel González Santamaría, Cuba. 28 de dezembro de 2017.