Foi em uma tarde de outono, enquanto abril se despedia, que o chão de Curitiba foi tingido com o sangue dos professores da rede estadual de educação. Quando as imagens de professores sangrando, atingidos por balas e bombas pagas com dinheiro público, espalharam-se pelo país, o governo justificou a violência alegando que os policiais “apenas se defenderam” dos professores. Os dados, porém, contrapõem essa afirmação: de 107 feridos, 105 foram servidores que protestavam. Não foi defesa: foi massacre. Aliás, massacre que chamou atenção pela truculência usada pelo Estado, mas simbólico no tocante ao trato que Beto Richa destinou à educação paranaense durante sua gestão.
O motivo para tal barbárie? Os servidores públicos do Paraná, principalmente professores, protestavam contra o pacotaço que o governo tentava aprovar na Assembleia Legislativa, promovendo “ajustes” na previdência. Tendo uma minoria de deputados de oposição ao governo, a medida imposta por Beto Richa (PSDB) seria aprovada sem dificuldades. A resistência dos professores, que acamparam na Praça Nossa Senhora da Salete alguns dias anteriores à votação, expôs as artimanhas de um governo que, em sua sede por espoliar o trabalhador, instaurou pouco a pouco um clima tenso, divulgando notícias tendenciosas sob um viés que colocava os professores como inimigos e cercando a ALEP com policiais armados. De fato, àqueles que se mantêm no poder, qualquer esboço de resistência se torna ameaça, vide o medo que os deputados da base aliada do governo demonstraram ao sujeitar-se a situações esdrúxulas como chegar à ALEP dentro de um camburão, ou o deputado Delegado Francischini, até então Secretário de Segurança Pública do Paraná, que correu ao deparar-se com os professores.
O dia 29 de abril de 2015 entrou para a amarga história de luta pela educação paranaense, junto ao lamentável episódio de 30 de agosto de 1988, quando Álvaro Dias (governador na época), jogou a cavalaria contra os professores.
Resgatar a memória deste triste episódio se faz necessário ano após ano. Que não nos esqueçamos da luta diária por uma educação pública de qualidade, que deve ter como pilar a valorização e o respeito ao professor.
Carolyne Dornelles, Curitiba