A execução da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, na noite do dia 14 de março, comoveu o país e gerou uma onda de manifestações exigindo a punição aos responsáveis pelo crime e o fim da violência contra defensores dos direitos humanos e militantes sociais.
Marielle voltava de um debate sobre jovens negras quando seu carro foi seguido por outros dois veículos e metralhado. “Todas as características são de execução. A gente quer isso apurado o mais rápido possível. Não havia qualquer ameaça sobre ela, mas as características do assassinato são características muito evidentes de execução”, afirmou o deputado Marcelo Freixo (PSOL), com quem Marielle trabalhou por mais de dez anos. “Isso é completamente inadmissível. Uma pessoa cheia de vida, cheia de gás, uma pessoa fundamental para o Rio de Janeiro brutalmente assassinada”, lamentou.
Nos dias que se seguiram às suas mortes, centenas de milhares de pessoas foram às ruas no Brasil e no mundo cobrando a resposta de quem matou Marielle e Anderson. No Rio de Janeiro, mais de 50 mil pessoas tomaram a praça da Cinelândia, em frente à Câmara Municipal, para receber Marielle e Anderson. Houve outras manifestações em São Paulo, Belho Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Belém, Natal, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Brasília e em mais de cinquenta cidades. Pessoas também protestaram em Nova Iorque, Lisboa, Porto, Londres e Paris.
Por que mataram Marielle?
Marielle nasceu no Complexo de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio. Era socióloga e foi eleita vereadora na última eleição com mais de 45 mil votos. Foi coordenadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e também trabalhou em organizações não-governamentais como a Brazil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (CEASM).
Atualmente, era relatora da comissão de observação da intervenção militar no Rio de Janeiro e uma das parlamentares mais ativas na defesa dos direitos humanos e na luta contra a violência que atinge os moradores das favelas cariocas. Apesar de seus companheiros e familiares afirmarem que ela nunca havia recebido nenhuma ameaça, é evidente que sua militância incomodava grandes interesses políticos e econômicos por trás do tráfico e da violência no Rio.
Dias antes de sua morte, Marielle havia denunciado que policiais do 41º Batalhão da PM aterrorizavam moradores da favela do Acari, na Zona Norte. “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, disse em uma de suas últimas postagens nas redes sociais.
Fascismo e violência
Marielle e Anderson foram vítimas da crescente onda de fascismo na vida política brasileira, que começou com a brutal repressão às manifestações de Junho de 2013 e aos protestos contra a Copa da Fifa, em 2014, ganhou força com a aprovação da Lei Antiterrorismo, em 2015, e encontra sua expressão mais atual na intervenção militar no Rio de Janeiro.
Essa fascistização surge e se desenvolve em momentos de crise do sistema capitalista, quando a burguesia, mais do que nunca, necessita da repressão e da violência para manter seus lucros e impedir uma rebelião popular que ponha fim aos seus privilégios. No Brasil, ela também é consequência da impunidade dos crimes cometidos pela Ditadura Militar e da ausência de uma política profunda de memória, verdade e justiça no país. Logo, não é à toa que Temer tem apostado tudo nas Forças Armadas e no aumento da militarização e da repressão para salvar seu governo.
Por isso, não se pode calar diante do avanço do fascismo e de seus crimes. A tarefa mais importante e urgente de quem realmente defende a democracia no Brasil hoje é lutar com todas as forças para que os responsáveis pela morte de Marielle e Anderson sejam identificados e punidos imediatamente; lutar pelo fim da violência policial contra os pobres; pela desmilitarização da PM; pela revogação da Lei Antiterrorismo; pela punição dos torturadores e criminosos da Ditadura e pelo fim da intervenção militar no Rio de Janeiro.
Vingar a morte de Marielle e Anderson e impedir que o fascismo continue crescendo em nosso país exige, antes de tudo, não temer a luta contra ele, não se acovardar com suas ameaças. Como costumava dizer o Comandante Ernesto Che Guevara: “Que importa onde a morte nos irá surpreender? Que ela seja bem-vinda, desde que nosso grito de guerra seja ouvido, que outra mão se estenda para empunhar nossas armas e que outros homens se levantem para entoar gritos de guerra e vitória”.
Heron Barroso, Rio de Janeiro