Jacques D’Ornellas é ex-deputado federal pelo PDT na legislatura 1983-1986 e foi vice-relator da CPI da Dívida Externa Brasileira no Congresso Nacional, destacando-se na luta pela auditoria geral da dívida, combatida pelos sucessivos governos brasileiros e pelo sistema financeiro.
Como sargento do Exército, Jacques D’Ornellas, como militante do PCB, atuou nos clubes de suboficiais na década de 1960. Após o golpe, participou da tentativa de instalação do núcleo guerrilheiro do Caparaó, junto com outros militares que enxergavam a política anti-povo e entreguista da ditadura militar. Recentemente, D’Ornellas lançou a cartilha Terrorismo e manipulação do medo: estratégias geopolíticas dos EUA para manter sua hegemonia global.
O objetivo do livro, segundo o autor, é “realizar uma reflexão crítica e aprofundada sobre o caráter das intervenções norte-americanas no mundo e sobre a complexidade assumida pela economia capitalista em nível global, financeirizada numa escala sem precedentes, instrumentalizar a vanguarda de luta socialista para o efetivo combate às políticas de barbárie implementadas pelo império e seus aliados, contribuindo, assim, para a construção de alternativas do campo dos trabalhadores”.
Desta forma é abordada a ameaça constante de perda da posição estratégica do dólar, em um cenário onde os meios de pagamento (moeda e virtual) em dólar superam em 10 vezes a riqueza produzida pela classe trabalhadora no mundo, com um risco permanente de superinflação global e a disputa econômica dos EUA com a Rússia e a China.
Para Jacques D’Ornelas, os EUA tornaram-se uma potência hegemônica na 2ª Guerra Mundial. Mas a história demonstra que este domínio foi às custas de manobras escusas e, em grande parte, mortais para os povos do mundo. Em 1944 (um ano antes do fim da guerra), com a Conferência de Bretton Woods e o Plano Marshall, foram criadas instituições financeiras como o FMI e o Banco Mundial, além de uma política de intenso investimento na reconstrução de diversos países da Europa Ocidental. Este movimento possibilitou a instalação de bases militares inclusive na Alemanha e no Japão. Estava aberto um ciclo de acumulação capitalista de 30 anos.
Após este período o sistema capitalista (como é a regra) entra em crise, fruto da contradição entre o desenvolvimento econômico de alguns países reconstruídos no pós-guerra e a incapacidade norte-americana de conter déficits comerciais, pois encontrava dificuldade de manter suas exportações de mercadorias.
O governo de Richard Nixon, de 1969 a 1974, atende à demanda de seus monopólios e quebra o padrão-ouro, retirando o lastro do dólar americano em 1971. Os EUA passaram, então, a emitir dólares livremente, causando um sistema de inflação global, e transferindo seus prejuízos aos demais países.
Outras duas medidas consecutivas, ainda durante o governo Nixon, foram: um “choque” artificial do petróleo, em 1973, com apoio de regimes marionetes dos EUA à época, como a Arábia Saudita, Irã e Iraque, causando elevação brutal do valor da matéria-prima que prejudicou, inclusive, o Brasil e demais países de terceiro mundo; e a emissão de “petrodólares”, que justamente blindou os EUA das consequências da primeira movimentação, jogando nos ombros dos povos dos países árabes a conta da crise do petróleo.
Estratégia dos EUA não impede suas crises
A blindagem econômica dos EUA, exportando petrodólares, foi determinante para o crescimento em espiral da dívida pública brasileira. Sob um governo de generais submissos, o Brasil aumentou suas reservas de dólares às custas de um endividamento muito maior, aprofundando a dependência do país.
Já durante os 20 anos de ditadura civil-militar, a dívida pública saltou de 3 bilhões de dólares para 100 bilhões. Um aumento de 33 vezes! Para isso, os ditadores usaram, inclusive, a corrupção em contratos de grandes empreendimentos (a cartilha cita relatório da CPI, que denunciou o ministro Delfim Netto).
O processo de endividamento seguiu nos governos pós-ditadura, resultando em uma dívida atual de mais de R$ 1 trilhão. A dívida externa brasileira foi fator determinante na entrega do patrimônio público nos últimos 25 anos e das recentes reformas contra o povo brasileiro (PEC dos gastos e Reforma da Previdência).
D’Ornellas aponta que todas as manobras dos EUA não evitaram um endividamento monstruoso do país, que hoje atinge mais de U$ 20 trilhões. Sucessivos governos dos EUA desregulamentam a economia, como na crise dos títulos podres (subprimes) de 2008. Mas, ao mesmo tempo, usam o aparato do Estado para salvar bancos e instituições financeiras do colapso. A chamada “fórmula neoliberal”.
Mas a potência norte-americana não para de deixar um rastro de sangue em agressões como no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria com o objetivo de monopolizar o petróleo e defender posições militares estratégicas. O imperialismo dos EUA lança mão de manipulações e farsas como “armas químicas”, produzidas por governos, ou “revoltas populares artificiais”, que na realidade são grupos de mercenários financiados, como os Talibãs, em 1979 contra a URSS, e o então governo democrático afegão.
Em 2011, os EUA atacaram a Líbia por conta da construção de um gasoduto e um porto chinês, em 2011. O país de Kadhafi contrariou os interesses das petrolíferas norte-americanas. O preço foi a devastação. Hoje a Líbia é um território imerso no caos social. Outra agressão, ainda vigente, é contra a Síria, que estabeleceu relações econômicas com a Rússia. Para garantir sua hegemonia, os EUA apoiaram a consolidação de grupos como o Estado Islâmico, para travar uma guerra contra o governo de Assad. Contraditoriamente, o Império dos EUA cria o terrorismo, que se reverte contra seu próprio povo.
Todo o poder bélico dos EUA, a serviço dos monopólios econômicos, é pago pelo maior orçamento militar do mundo, que era de U$ 50 bilhões em 1960 e em 2017 foi de U$ 700 bilhões.
O ponto alto da Cartilha de D’Ornelas está na denúncia da utilização das armas de modificação ambiental com o objetivo de manipular nações inteiras por intervenções climáticas, geológicas etc. Tais instrumentos de guerra são proibidos por convenção da ONU de 1976, da qual os EUA são signatários. Porém, diversos autores, cientistas e autoridades de países denunciam o descumprimento por parte dos EUA.
Este instrumento de dominação estaria sendo aplicado pela óbvia limitação na utilização de armas nucleares, que têm potencial absoluto de letalidade. Já as chamadas “armas de modificação ambiental” podem desestabilizar países por meio de terremotos, tempestades e demais catástrofes.
Utilizando a referência do pesquisador Jerry Smith em seu livro Armas Eletromagnéticas, D’Ornellas denuncia experiências como o projeto Haarp, baseado nas invenções de Nikola Tesla (cientista do final do século XIX que desenvolveu a transmissão de corrente alternada). Algumas das possíveis armas possibilitariam o derretimento de um avião a mais de 3 mil quilômetros de distância. Procuramos aqui despertar o interesse do leitor no conteúdo desta pertinente publicação, que auxilia no entendimento das contradições do capitalismo nos últimos 70 anos e, principalmente, na conjuntura atual. A distribuição da cartilha é gratuita. Os interessados podem solicitar diretamente a Jacques D’Ornellas pelo e-mail: [email protected].
Esteban Crescente, Rio de Janeiro