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domingo, 22 de dezembro de 2024

Poema: Vendo o meu povo escravo

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Victor Aicau,
Militante do MLB e da UP – Salvador


Foto: Sebastião Salgado

Faz tempo que não escrevo
Mesmo vendo o meu povo escravo
Faz tempo que não escrevo
Poemas forçados em quatro paredes
Hoje forçados em quatro paredes
Escrevo, escravo da ansiedade
Vejo meu povo passar fome
Nenhuma clave nessa partitura define esse sentimento
Insensíveis de barriga cheia
Insensíveis aos quatro esqueletos em cima de uma única cama
Sensíveis ao próprio umbigo
Nenhum prego na barra de sabão
Nenhum prego na casa de maderite
Nenhum emprego, nunca trabalharam
As riquezas, recuso dizer
Mas faz tanto tempo que não escrevo
Vejo meu povo esfregando banheiros
Vejo meu povo esfregando trouxas de roupas podres
Vejo meu povo esfregando carros caros
Faz tempo que não escrevo esperanças
Faz tempo que me falta paciência para os versos nessa prosa
A prova da vida me deu olhos negros
Armaguras entrelaçadas no pão velho
No café requentado
Na mesa que nunca podemos sentar
Nas camas nunca podemos dormir
No azulejo deslumbrante que nunca pudemos comprar
É descabivel,  não posso parar de escrever
Nos arrancaram o sangue a ferro
Nos trocaram nesse mar insatisfeitos
Na ânsia desenfreada
Na ganância ardilosa
Os lucros, os litros, os lacres, os lotes!
Tudo detém, mas nada produzem
Parasitem por esse mundo
Parasitem como as moscas nos lixos que cantamos dia e noite
Parasitem enquanto é tempo
A aurora de um mundo novo me faz escrever, pintar os muros, tremular estandarte e anunciar
Não olharemos para trás!

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