Gabriela Valentim
BAHIA – No dia 15 de março, ocorreu o 2° Congresso Estadual da Unidade Popular em Salvador. A abertura se deu com um ato político com o tema “Parem de nos matar! Pelo fim do genocídio e humilhação do povo negro e pobre na Bahia e no Brasil!”, contando com a presença de Hilton Coelho, deputado estadual pelo PSOL; João Aguiar, em nome do PCB; Victor Aicau, da Coordenação Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB); Augusto Matheus, representando a União da Juventude Rebelião (UJR); Milena Rocha, em nome do Movimento de Mulheres Olga Benário; Luzia Mota, reitora do IFBA; Sandra Weydee, mãe das “gêmeas do black” (Valentina e Verena, que também compuseram a mesa, meninas de três anos que ficaram conhecidas pelo ataque racista de um segurança da empresa CCR no metrô de Salvador); além de Aroldo Félix, do Movimento Luta de Classes, representando o Diretório Nacional da UP, e Eslane Paixão, presidenta estadual da UP na Bahia, que coordenaram a mesa.
Na abertura foi exibido o filme-documentário da Ocupação Maria Felipa, dirigido por Ícaro Verge, militante da UJR, além da exibição do curta-metragem da Ocupação da Luísa Mahin. Com muitas palavras de ordem, “UP dos pretos, dos favelados! Partido pobre que já foi legalizado!”, a abertura deu o tom do que estava ainda por vir. O plenário contava com a presença das cidades de Salvador (sendo uma grande parte das famílias guerreiras das Ocupações Maria Felipa e Luísa Mahin), Feira de Santana, Alagoinhas, Jacobina, Ilhéus, Teixeira de Freitas e Itabuna, em um total de 60 pessoas.
Sandra Weydee relatou o ato de racismo que suas filhas passaram e disse “isso de racismo ainda existir é uma palhaçada. Luto por dignidade, por respeito, não represento só a mim ou minhas filhas, mas sim todas as mães e crianças que sofrem com o racismo. Minha filha falou que o cabelo dela não era bucha e que bucha era para lavar pia. Tô aqui nessa manhã para me unir a esse grupo”.
Victor Aicau relembrou um poema de Conceição Evaristo para homenagear as mulheres do plenário, em especial, da Ocupação Maria Felipa. Um ponto alto de sua fala foi a defesa da pré-candidatura de Eslane Paixão para prefeita de Salvador, “pois é necessário ter no poder as pessoas que se identifiquem historicamente com o nosso povo”. Neste momento, o plenário interrompeu com a palavra de ordem “Eu não abro mão da prefeita que faz ocupação e mora nela!”. E Victor continuou: “pois quem tem coração Zumbi não aceita cortar cana”.
Eslane Paixão saudou a presença de todos e todas da mesa, das mulheres das Ocupações Maria Felipa e Luiza Mahin, saudou também a unidade dos partidos que fazem lutas em conjunto e lembrou que não adianta representação negra para disputar a Prefeitura, mas que se alinha com um governo que bate em lutadores dos movimentos populares, que aprova a Reforma da Previdência no Estado da Bahia. Também lembrou que o povo pobre e preto não é minoria, mas sim, maioria. Que certamente fará uma revolução, fará valer a unidade na luta do dia a dia e afirmou que é urgente apresentar ao povo baiano o Programa da UP, povo que, por séculos, é humilhado.
O deputado Hilton Coelho relembrou que conheceu a militância da UP e do MLB “ainda no tempo da Ocupação Luísa Mahin, onde os camaradas realizavam formação política com diversos setores progressistas da sociedade, e realizam a prática da luta específica e da teoria política.”
A reitora do IFBA, Luzia Mota, afirmou que “é necessário fazer um resgaste histórico, falar muito sobre o que é esse partido e para quem ele está priorizando suas ações, ver quais dos partidos de esquerda que têm na suas fileiras pretos e pretas na linha de frente, no seu congresso, ter tantos no plenário, mas principalmente na mesa. Isso já diz muito sobre a UP. Nós não somos minoria, pois historicamente somos nós que sempre construímos esta cidade, mas somos esquecidos. Somos filhos de pessoas que foram sequestradas! Quem estava para defender as famílias da Ocupação Maria Felipa? Se não foi o deputado estadual Hilton Coelho? E quantas Eslane Paixão nós vemos nas Câmaras, nas Assembleias, no Senado? Precisamos votar nessas pessoas. Salvador precisa de representantes negros. Chega de representação de homens brancos e ricos na nossa cidade-África”. E finalizou citando uma canção famosa nos carnavais de Salvador: “navios negreiros já eram, quem manda nessa cidade é a gente!”.
Muito bem. Terá o meu
Apoio. É preciso que todos – as camadas mais pobres – tomem consciência de seu poder. Fazer política 24 horas em todas as frentes, principalmente usando a cultura como veículo de conscientização.