Emanuel Menezes
FORTALEZA – A imprensa internacional tem divulgado que o preço do barril do petróleo WTI, referência para os Estados Unidos, caiu a níveis negativos, chegando a -USD$30. O tipo Brent, referência para Europa, Ásia e também para a Petrobras, chegou a USD$20 e com tendência de queda. Na mais recente fase da crise capitalista mundial, a produção de petróleo não deixou de sofrer os efeitos decorrentes da redução da demanda por combustíveis e demais derivados. A grande mídia aponta, entretanto, que essa queda do preço do petróleo é unicamente resultado da pandemia da Covid-19. Porém, o problema tem raízes mais profundas que a pandemia.
A Disputa Entre os Países Imperialistas
No quadro da disputa pelos recursos energéticos estão na dianteira os países com maior poder militar e econômico, organizados em blocos em que contam com países satélites, submetidos em maior ou menor grau às suas diretrizes no quadro geopolítico. Assim, as complexas movimentações e manobras dos países imperialistas que ditam os rumos da produção mundial podem ser melhor compreendidas quando se tem em mente os seus reais objetivos: aumentar o controle sobre as reservas de óleo cru disponíveis no mundo e expandir seus mercados consumidores, seja por meio da atuação direta ou indireta no sistema financeiro, seja pelas guerras de rapina contra países menos desenvolvidos.
A queda dos preços provocada pela Arábia Saudita, em 2015, na tentativa de inviabilizar a produção do chamado gás de xisto nos Estados Unidos, mostra que o fator demanda pode ser colocado em segundo plano. Na época, o país árabe sustentou uma produção excessiva por meses, fazendo o barril despencar dos mais de US$ 100, em 2014, para níveis próximos aos US$ 30, em janeiro de 2016. Com uma economia extremamente dependente da exportação, a Arábia Saudita, mesmo tendo perdas com a baixa nos preços, optou por manter sua agressividade, apostando também nos impactos causados contra adversários diretos como o Irã, outro grande produtor e membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Quase que paradoxalmente, a medida adotada pela ditadura saudita serviu muito bem aos interesses dos Estados Unidos na ofensiva contra seus concorrentes imperialistas, como a Rússia, e na desestabilização de países alvos de ofensivas militares em evolução. Pois se, de um lado, a produção estadunidense sentia os impactos da queda do barril de petróleo, por outro ela desestabilizava a economia de países como a Venezuela, detentor das maiores reservas mundiais e extremamente dependente da exportação de petróleo.
Boa parte dos conflitos armados em países como a Síria tem suas causas relacionadas à resposta dada por Washington pelo alinhamento desses governos com o plano logístico desenvolvido pela Rússia. Em seu plano para hegemonizar as rotas de fornecimento, e consequentemente ampliar sua influência nos mercados da Europa e Ásia, o governo russo investiu na construção de dutos de escoamento de gás e óleo.
Em 2016, as tentativas sucessivas de acordo entre os países produtores membros e não membros da Opep não foram efetivas para a retomada dos preços anteriores. Nos últimos meses de 2018, os produtores do gás de xisto voltaram a sinalizar para o mercado um aumento na produção em ritmo superior ao da demanda, ocasionando a queda mais considerável no preço dos três anos anteriores. Em 2019, no curto intervalo de tempo em que ocorreram tímidas sinalizações de reduzir a produção de petróleo, os EUA criaram uma nova tensão com o Irã e ameaçaram o fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 30% do óleo consumido no mundo, além de divulgar a intenção de invadir a Venezuela.
O ano de 2020 começou com uma disputa entre Rússia e Arábia Saudita, com destaque novamente para o aumento da produção por parte dos EUA. Na tentativa de manter seus mercados e mirando contra a produção estadunidense, a Rússia se negou a reduzir sua produção de barris, retrocedendo após pressão saudita com a ameaça de tomar dos russos a dianteira na derrubada dos preços internacionais.
A última rodada de negociações, todavia, frustrou as expectativas do mercado quanto à necessidade de controle da produção. Da redução de 20 milhões de barris diários, que seria o aceitável para se fazer frente à atual crise sanitária, somente foi atendida metade da meta, o que significa que no mundo serão produzidos cerca de 10 milhões de barris todos os dias sem perspectiva de que sejam consumidos. Para que se tenha uma dimensão do volume que está sendo estocado diariamente nessa fase da crise de demanda, a produção diária da Petrobras antes da pandemia estava em torno dos três milhões de barris.
Não resta dúvida que os países imperialistas, quer seja fabricando crises, quer seja agravando as já existentes, estarão sempre em busca de ampliar seus mercados e apropriar-se dos recursos das nações subjugadas.
No caso do Brasil, o governo entreguista de Jair Bolsonaro adota uma política de destruição do patrimônio nacional e vê a Petrobras como uma barreira a esse seu plano. Por esse motivo avança no desmonte da companhia com o encerramento de atividades em setores estratégicos e quebra da integração da cadeia produtiva da estatal, que liga a produção à distribuição, passando pelo refino. A consequência é um país como o Brasil, com reservas da ordem de centenas de bilhões de barris descobertos no pré-sal, mas com grande parte do povo sem condições de adquirir um botijão de gás, pois os acionistas da empresa não consideram prioridade a produção de GLP (gás) para o abastecimento interno.
O acirramento dessas contradições mostra que só existem dois caminhos possíveis: a aceitação da continuidade da política de colonização, com a entrega criminosa das riquezas de um povo por governos títeres de intervencionistas estrangeiros, ou o caminho da liberdade e independência que proporciona o socialismo, com a utilização das riquezas minerais em prol do desenvolvimento econômico e científico tendo como ponto central a necessidade dos trabalhadores.