UM QUILOMBO EM CADA POETA NEGRO
Minha cabeça dói
E a insônia me consome as boas palavras
dentro de cada poeta negro existe um quilombo
Mas me mastiga cada vértebra
A movimentação dos homens
O movimento é a sede dos que tem
pressa
Então escrevo
Assim talvez minimizo o pouco que faço
devorando-me o osso a indiferença
Então escrevo
Assim talvez as palavras mudem o curso do barco
Lateja minha sanidade o prato vazio
Lateja minha sanidade a podridão dos porões
A mistura de todas as necessidades
A Fome, as fezes, a fé….
Lateja minha sanidade cada mãe pobre preta
A febre, o frio…
Tirando da própria boca para dar ao filho
Eles indiferentes invisibilizaram a nossa dor
Mastigaram os nossos sonhos
Em cada cana de açúcar triturada
Beberam nosso suor engenho a dentro
Nos castraram e nos trataram como animais
Nos castigaram, trancaram tronco a dentro
E talvez essa seja a menor das dores
Me olho no espelho a cada dia
Envelhecendo décadas em anos
Violados fios de cabelo a dentro…
Mergulho pela última vez na água salgada
Meus irmãos, milhares afogados mar a dentro
Porém, lá no fundo algo me sussura aos ouvidos:
viver é a minha maior vingança!
Victor Aicau
Este poema também pode ser lido e interpretado de baixo para cima.