Por Carol Carvalho, MLB (GO)
“Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte”
Os dias da Comuna – Bertolt Brecht
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) que há anos organiza milhares de famílias sem-teto na luta pela moradia digna, a reforma urbana e o socialismo, organizou, assim que as primeiras medidas do isolamento social em março de 2020 que foram implementadas no Brasil devido à pandemia do COVID-19, uma grandiosa Rede Solidária.
A arrecadação de alimentos e produtos de higiente à serem distrbuídas por brigadistas, militantes ou não, que estivessem fora do grupo de risco e se dispuseram a colaborar com o movimento, tem por objetivo garantir a sobrevivência do povo pobre das periferias. A fome dessas famílias não se resolve com R$600,00 recebidos através do auxílio emergencial aprovado pelo desgoverno de Jair Bolsonaro, após muita pressão popular.
O valor baixíssimo do auxílio, os atrasos no pagamento, as filas gigantescas na Caixa Econômica Federal para seu recebimento, e um descaso total com o povo pobre materializado na falta de orientação para a inscrição no programa, colocaram o nosso povo, mais uma vez, numa situação insustentável.
Aos moradores das ocupações urbanas e bairros pobres onde o MLB atua, a fome, a ausência de políticas públicas que evitassem o contágio e proporcionassem um tratamento adequado aos doentes, escancararam a verdadeira face genocida do governo federal que coloca seu projeto em prática com a concordância de Governadores e Prefeitos no Brasil todo.
Dessa maneira, ficou claro para nós que só o povo organizado poderia nos salvar. Além da distribuição de kits de cesta básica, produtos de limpeza e higiene, a Rede Solidária do MLB, atua disputando a consciência do povo pobre, através das brigadas do Jornal A Verdade, da apresentação do MLB, da denúncia da casta política subordinada ao interesse da burguesia e tem sido feita a conscientização do risco do COVID-19 ao nosso povo pobre, propagando as medidas de proteção contra o contágio, adaptando-as para a realidade das nossas periferias.
Em Goiás, assim como em outros estados, a rede de solidariedade se iniciou dando prioridade às famílias que já eram da base do MLB, na Ocupação Alto da Boa Vista em Aparecida de Goiânia-GO. Com o grande sucesso da nossa campanha, que conseguiu arrecadar doações de sindicatos, entidades e pessoas comprometidas com a luta do povo pobre, no mês de maio ficou claro que haveriam condições para a expansão da campanha no estado para outros bairros, principalmente na capital, Goiânia, que abrigam famílias em estado de vulnerabilidade social e que permaneciam desassistidas por quem deveria zelar por elas.
No dia 03 de junho, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – Goiás, fez uma primeira visita à ocupação urbana Jd. Emanuelli, Goiânia (GO) que abriga cerca de 500 famílias e luta contra a reintegração de posse. A visita teve o intuito de conhecer a realidade das famílias, suas necessidades, apresentar o movimento, junto com a brigada do Jornal A Verdade, além de cadastrar as famílias na Rede Solidária.
Além do MLB, militantes da União da Juventude Rebelião estiveram presentes. Desde o início da campanha no estado de Goiás, a presença e o empenho da juventude foram fudamentais para o sucesso da campanha. Além das condições de saúde que permitem as companheiras e companheiros contribuírem ativamente na luta pela sobrevivência do povo pobre, o trabalho político feito pela UJR é fundamental nas periferias.
Sarah Lídia, 18 anos, militante da União da Juventude Rebelião, do Movimento Correnteza, da Unidade Popular pelo Socialismo e do Movimento de Mulheres Olga Benário afirma que: “A experiência de participar da brigada de solidariedade do MLB suscitou em uma grande aula sobre a atual conjuntura do país. A pandemia afeta com maior potência quem é pobre e morador da periferia. Conversei com mães de família que estão paradas e idosos que não recebem aposentadoria, nos dois casos as famílias dependem e sobrevivem somente com o auxílio emergencial que foi liberado pelo governo federal. Essas pessoas nos disseram que os 600 reais não são suficientes e pior ainda, o governo vem atrasando o pagamento mensal o que impossibilita as mesmas de se manterem e que toda e qualquer ajuda nesse momento seria muito bem vinda. Nesse sentido, fica clara a função das brigadas de solidariedade em auxiliar e organizar essas famílias que sofrem pela carência induzida (lê-se projeto fascista e genocida) de um suporte governamental realmente efetivo.”
Outra militante da União da Juventude Rebelião, também brigadista da rede de solidariedade do MLB, Elis Valadares, 21 anos, diz que “Quando aprendemos que moradia é considerada um direito fundamental pela declaração universal dos direitos humanos, não nos ensinam que isso não passa da teoria. A realidade, infelizmente, está longe de contemplar e fazer jus a esse direito. E participar das atividades do MLB escancara essa realidade e alimenta a luta por moradia digna a todos! É uma experiência que toca o coração e sensibiliza.
Contribuir com o movimento é ajudar famílias, crianças e idosos, ajudar o povo trabalhador que é explorado em troco de nada, ou quase nada. Por isso o MLB é tão significativo em todas suas ações.” e convida “ressaltamos a importância da contribuição daqueles que apoiam essa causa, porque faz toda a diferença! Conheça o MLB e ajude da maneira que puder, porque estamos falando de VIDAS. Vidas que foram esquecidas pelo Estado”.
A Rede Solidária do MLB em Goiás, com o apoio da União da Juventude Rebelião, do Movimento Correnteza e do Movimento de Mulheres Olga Benário, é vitoriosa e continuará se expandindo mesmo após findada a pandemia do Corona Vírus. Sabemos que só o povo salva o povo e não haverá de nossa parte nenhum recuo.
O MLB AVANÇA!!!