Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário
BRASIL – Em um contexto de isolamento social causado pela pandemia mundial, é comum observarmos o aumento significativo do sofrimento mental da população, causado principalmente por uma vulnerabilidade psicossocial e agravado pela falta de uma política de enfrentamento à Covid-19.
Conforme o levantamento da OMS, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade, isso representa 18,6 milhões de pessoas. A ansiedade traz sérios prejuízos à saúde, inclusive à saúde física. A pessoa que tem um sintoma de ansiedade mais grave pode sofrer também de tensão, dores de cabeça, dores musculares, problemas gástricos e digestivos, além das questões emocionais, como falta de concentração, insônia, falta de memória, irritabilidade e vários outros.
Além disso, a depressão afeta 5,8% da população. A depressão é um transtorno mental incapacitante: nos rouba toda perspectiva de vida, sugando qualquer sentimento de felicidade e prazer. Todos estes sintomas são reflexos do que o capitalismo impõe à humanidade: tristeza e desesperança para todos aqueles que são subordinados a uma vida de miséria e exploração.
A lógica capitalista, a qual o lucro está acima da vida humana, expressa-se nas políticas neoliberais aplicadas no país e potencializadas pela incompetência do governo fascista de Jair Bolsonaro. Por exemplo, foi publicada no Diário Oficial da União a suspensão de R$ 77 milhões para Unidades de Atendimento de Saúde Mental. Os serviços dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), serviços residenciais terapêuticos, unidades de acolhimento e leitos em saúde mental em hospitais receberão ainda menos do governo para continuar suas atividades. Isso demostra como a saúde mental é tratada no Brasil.
Segundo a psicanalista Priscilla Santos, que atende a rede de apoio à saúde mental na Casa de Referência à Mulher Helenira Preta, na cidade de Mauá, em São Paulo, “luto, ansiedade e depressão agudizam o sofrimento das mulheres pobres de nosso país, maioria na chefia dos lares, com as dificuldades em ter a garantia mínima de alimentação, abrigo ou acesso à saúde para si e seus filhos, consequência dos seus trabalhos precarizados e/ou informais. Somado a isso, o processo de desamparo material de um governo que menospreza e humilha as mulheres constantemente, característica fundamental do sistema em que vivemos”.
Assim, é necessário uma maior atenção à saúde mental de diferentes grupos populacionais, em especial, aos relacionados com o gênero, a idade e o nível socioeconômico, além dos riscos que os trabalhadores e trabalhadoras das áreas consideradas como essenciais vivenciam.
A Internacional de Serviços Públicos (ISP) apresentou que, 56% das mulheres e 44% dos homens trabalhadores do sistema de saúde brasileiro estão passando por algum tipo de sofrimento psíquico. Com a constante preocupação com todos os aspectos da doença, contaminação, falta de infraestrutura, EPIs e treinamento adequado para o enfrentamento da crise, soma-se o processo histórico-social que, dentro ou fora de casa, responsabiliza às mulheres a tarefa do cuidado e a presença fundamentalmente feminina na linha de frente de combate à pandemia.
Dentro desse quadro de quarentena são geradas mudanças na rotina, perda de empregos, aumento da carga de trabalho, principalmente para as mulheres, por serem mais atingidas pelas consequências do isolamento social, a partir do aumento na sua carga de responsabilidades, na tentativa de conciliar o chamado home office em partilha com o cuidado dos filhos, da casa, dos idosos, dos doentes e do aumento da violência doméstica. Tudo isso junto no mesmo ambiente causa um desgaste físico, mental e emocional extremo, podendo levar ao desenvolvimento de estresse, ansiedade ou depressão.
Entretanto, de acordo com as orientações da Fiocruz, vale ressaltar que, neste período de pandemia, nem todos os problemas psicológicos apresentados poderão ser qualificados como doenças. A maioria será classificado como reações normais diante de uma situação anormal. A pandemia da Covid-19 impacta os seres humanos de maneiras específicas, visto suas características, como, por exemplo: risco de ser infectado e infectar outros; sintomas de febre que podem ser confundidos com a doença; preocupação com os filhos ficarem sem as referências de cuidado e trocas sociais, isto é, sem a convivência nas escolas, com o distanciamento de sua rede socioafetiva: avós, amigos, vizinhos, e que tenham sido separados de seus pais ou cuidadores devido à quarentena.
Rede de Atendimento do Olga Benário
Com esse objetivo, o Movimento de Mulheres Olga Benário de Alagoas criou uma rede de atendimento psicológico para as mulheres nesse período da pandemia. Na ação, as mulheres têm acolhimento online e gratuito, uma vez por semana, com uma psicóloga voluntária. Essa ação foi estruturada diante da situação de isolamento social em que estamos vivendo, a qual tem gerado um aumento da sobrecarga de trabalhos nas mulheres, interferindo em sua saúde mental. “O atendimento psicológico foi pensando como uma alternativa que pudesse chegar a essas mulheres mesmo em condições tão adversas. A iniciativa conta com a parceria de oito psicólogas voluntárias, sendo quatro de Alagoas e quatro de Minas Gerais, que atendem a 18 mulheres que estão em acompanhamento durante todo o período da pandemia”, afirma Lays Lins, do Movimento Olga Benário de Alagoas.
O passo inicial dessa atividade foi divulgar nas redes sociais o convite para psicólogas contribuírem de forma voluntária no atendimento a essas mulheres. Desse contato pessoal, nasceu a rede de psicólogas, que começou a divulgar os atendimentos gratuitos e online para mulheres nas redes sociais, o contato com o movimento solicitando o atendimento aconteceu em seguida.
O movimento estuda a possibilidade de esses atendimentos se prologarem pós-pandemia. Mirella Martiano, uma das psicólogas voluntárias, diz: “Isolamento social, quarentena, home office, desemprego, privação de contato, morte, doença, olhar para dentro, porque há um vírus que grita lá fora. Participar deste projeto, estendendo a minha mão, através da Psicologia e abraçando pelo atendimento online, é fazer deste momento de crise uma oportunidade, sem julgamentos, apenas com amor, resiliência e respeito”.
Já Ana Neri Cruz, psicóloga e consteladora, relata que “tenho muito carinho e orgulho de participar desse projeto, pois minha missão é ajudar as pessoas através da Psicologia e da Constelação Sistêmica, a olhar para si e para sua história, bem como buscar autoconhecimento, novos caminhos e escolhas”. O atendimento psicológico ofertado pelo Estado para a população ainda é bastante restrito, limitando o acesso a esse serviço, apenas, de forma privada, ou seja, pagando pelo atendimento. Essa ação também ocorre na Casa Helenira Preta, em São Paulo, que faz o acolhimento de mulheres e também conta, nesse período, com o acolhimento psicológico, em parceria com algumas redes de psicólogos e psicanalistas no atendimento online.
As experiências demonstram a necessidade de ampliar essa rede de psicólogos para atender a demanda que a cada dia cresce. Os governos capitalistas pouco têm se preocupado com a crise mental vivida nos últimos tempos, sendo que os transtornos mentais são responsáveis por mais de um terço do número total de incapacidades nas Américas (OMS). Viver uma vida plena, com saúde e equilíbrio mental é algo contraditório numa sociedade que pouco demostra qualquer tipo de preocupação em resolver tal problema, pois, na verdade, as relações sociais estabelecidas nesse sistema são, de fato, os grandes causadores dessa crise mental, que agora a pandemia escancarou.
Muito boas e pertinentes as colocações deste artigo. Situações muito parecidas com o que eu passei/senti nesses últimos meses. Fazer atividades físicas me ajudou muito a aliviar a ansiedade e focar home office, além de algumas dicas que vi num e-book que comprei e me foi muito útil, os R$19,90 mais bem gastos dessa quarentena!
https://bit.ly/elimine-a-ansiedade-pra-sempre