Tiago Bezerra
ARACAJU (SE) – Surgida na madrugada do dia 27 de novembro, a Ocupação João Mulungu continua resistindo em Aracaju, capital sergipana. Cerca de 200 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) deram uso social a um prédio na Av. Ivo do Prado, no Centro da cidade, que estava sem uso havia mais de cinco anos. O espaço escolhido para abrigar as famílias conta ainda com uma grande dívida de IPTU.
O prédio está localizado em uma das vias mais importantes da cidade, por isso a ocupação tem sido alvo de constantes constrangimentos via Polícia Militar. Ainda na tarde do primeiro dia de ocupação, um grupo de aproximadamente 20 policiais forçou a entrada no local, mas foram impedidos pelos militantes, que montaram barricadas.
“Há mais de 20 anos o MLB luta por moradia. Já conquistamos mais de 16 mil lares por todo o país e o processo é esse mesmo: enfrentar o Estado, que abandona prédios e terrenos que poderiam servir para mordida popular. Enquanto oito milhões de brasileiros não têm moradia, os governos não têm nenhum projeto de reforma urbana. A carestia dos alimentos, o preço do gás, jogam milhares de trabalhadores em situação precária de sobrevivência. Lutar por um teto é lutar por dignidade! Haverá resistência. Só sairemos deste prédio quando o Estado resolver o problema de moradia dessas 200 famílias” – comenta Allana Santos, coordenadora do MLB em Sergipe.
Por outro lado, a Ocupação João Mulungu tem recebido intenso apoio de movimentos sociais e cidadãos aracajuanos. O Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Sergipe (Sindomestica) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fizeram doações de cestas básicas. Além disso, a população tem declarado apoio à luta via redes sociais e ajudando financeiramente.
Por meio de assembleias diárias as tarefas e responsabilidades são repartidas entre os ocupantes, de maneira que haja o máximo de organização e segurança possível. Há também todo o cuidado em cumprir as medidas de biossegurança recomendadas pelas autoridades em saúde, como o uso de máscara e a higienização constante das mãos.
O nome escolhido para a ocupação homenageia o revolucionário lutador contra a escravidão João Mulungu, sergipano de Laranjeiras. Ele foi responsável por organizar levantes em diversos engenhos por todo o estado, libertando milhares de homens e mulheres escravizados.