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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Ouro e prata nas calçadas de Copacabana

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Denise Maia


RIO DE JANEIRO – Copacabana, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, com seus prédios em tons de azul, verde, vermelho e amarelo, num singelo colorido das cores do mar e o esplendor das variantes do sol, abriga nas calçadas os passos dos idosos, o latido dos cachorros, o brincar das crianças, jovens, mulheres e homens que, em algum momento, nas idas e vindas deste movimento, esbarram-se nas placas de propaganda que anunciam a compra e venda de ouro e prata.

Nas esquinas das principais ruas essas placas são sustentadas, em sua maioria, por mulheres que trabalham de segunda a sexta, das 9h às 18h, sem carteira assinada, sem direito a férias.

Conversamos com Kassiana dos Santos, jovem de 26 anos, que mora em Belford Roxo, cidade da Baixada Fluminense, e há um ano e três meses aborda os transeuntes numa esquina concorrida pelos comerciantes. Com o semblante sério, ela relata que, antes da pandemia, costumava levar para a loja que recebe e vende as joias, seis pessoas por dia. Hoje, consegue apenas uma. A maioria dos clientes são idosos que desejam se desfazer dessas preciosidades. “Dizem que não usam mais”, relata.

Com uma hora de almoço e 20 minutos de lanche, ganhando um salário mínimo, INSS pago e comissão adquirida com a concretização do serviço, ficar em pé durante tantas horas repetindo “compro e vendo ouro e prata” se tornou um hábito necessário para o seu corpo.

Num desabafo, revelou que “estava mais do que na hora da vacina chegar. Nunca passamos por uma situação como essa, com tanto descaso do governo. Nos outros países a vacina chegou faz tempo”. Kassiana lamentou o auxílio emergencial ter acabado, pois “muita gente que precisa irá sofrer por não receber. Para mim, o Bolsonaro foi forçado a dar esse auxílio. Ele não se importa em saber o que está acontecendo com o povo pobre, porque o dele está garantido. A vacina foi uma briga para ele autorizar. Não cumpriu com o papel de presidente”. 

A situação da jovem Kassiana é mais um exemplo de milhares de mulheres brasileiras que são obrigadas a trabalharem de maneira informal e precária para poder se sustentar. Sair cedo de casa, enfrentar horas num transporte público lotado, de péssima qualidade, sem falar no risco diário de contaminação pela Covid-19, ficar mais de oito horas em pé nas ruas violentas de cidades como o Rio de Janeiro, não é uma realidade que agrade a ninguém. E, certamente, não foi uma escolha de Kassiana. Ela se junta aos milhares de jovens que se submetem a essa e a outras atividades para sobreviverem a cada vez mais difícil vida debaixo desse sistema de exploração capitalista.

Mas, mesmo assim, Kassiana não perde a esperança de uma vida melhor e, por isso, segue na luta cotidiana com a consciência que, como ela própria disse, “esse governo do Bolsonaro não se importa com o povo pobre”. 

Página 02 – JAV Edição 235

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