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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Um terço das mortes de enfermeiros do mundo acontece no Brasil

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Ludmila Outtes
Presidente do SEEP-PE


Brasil é recordista em mortes de enfermeiros. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado.

RECIFE – O Brasil, embora seja 3% da população mundial, responde por 11% dos óbitos de enfermeiros do mundo, um total de 217,6 mil, até o dia 25 de janeiro, e infelizmente a tendência é de crescimento, graças ao desprezo do Governo Federal, que ignora as mortes e trata a doença como uma “gripezinha”. Mal tendo finalizado a primeira onda de casos, já fomos arrebatados com a segunda onda e uma cepa mais poderosa do vírus, que tem maior poder de contaminação (e ainda se estuda se também tem maior poder de letalidade).

Sem sinal de novas restrições de circulação de pessoas e funcionamento de estabelecimentos comerciais, quem mais tem sofrido com essa política genocida de Bolsonaro são os profissionais de saúde, sobrecarregados com a superlotação das unidades e cada vez mais expostos ao vírus, já que, apesar da vacinação contra a Covid ter começado, ainda foram poucos os profissionais vacinados devido à pouca quantidade de doses distribuídas nacionalmente.

Os profissionais de saúde representam cerca de 10% dos casos de Covid-19 no mundo (Veja, 16/09/20). Dos 3,5 milhões de trabalhadores em saúde, entre a rede pública e privada, 406.803 foram contaminados pela Covid-19 até 1º de dezembro de 2020, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde publicados através do e-SUS Notifica (Nexo Jornal, 12/12/20).

Brasil é um dos líderes mundiais

No Brasil, foram registrados pelo Ministério da Saúde, até agora, 508 óbitos de profissionais da enfermagem por Covid-19 – somente em 2021 já foram 30 mortes. Em todo o mundo, foram 1.500 óbitos desses profissionais em 44 países. Assim, o país figura entre os líderes de mortes de enfermeiros, respondendo por um terço das mortes desses profissionais no mundo.

“O fato de que o número de enfermeiros e enfermeiras mortos na pandemia seja similar aos que faleceram na 1º Guerra Mundial é chocante”, afirmou Howard Catton, chefe-executivo do Conselho Internacional de Enfermeiros durante a divulgação do relatório de óbitos (El País, 08/01/21).

Além dos óbitos, outro número assustador é o de profissionais contaminados. Foram 46 mil enfermeiros e 105 mil técnicos e auxiliares de enfermagem, desde o início da pandemia, sendo afastados da linha de frente do combate à pandemia por, pelo menos, 15 dias (CNN Brasil, 12/01/21). Muitos que não morreram ficaram com sequelas e permanecem afastados do trabalho até hoje.

Entre os estados, São Paulo é líder no ranking de casos e mortes de profissionais por Covid-19, seguido do Rio de Janeiro. Em Pernambuco, foram 25.165 casos confirmados entre os profissionais de saúde, mas o informe oficial não discrimina quantos desses profissionais foram a óbito.

Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), “durante a fase aguda da pandemia a falta de equipamentos de proteção individual comprometeu muito as equipes de saúde. E quando estes EPIs chegavam, muitas vezes eram materiais de má qualidade e pouca efetividade, que não protegiam”, explica Eduardo Fernando de Souza, coordenador do Comitê Gestor de Crise Covid-19 do Cofen. “Agora, após a primeira onda da pandemia no Brasil, as contaminações e mortes destes profissionais podem ser atribuídas a outros fatores. A exaustão é um deles”, finalizou (El País, 08/01/2021).

Quando a esperança esbarra na corrupção

Com a aprovação das vacinas desenvolvidas por cientistas ao redor do mundo, a esperança foi renovada. Apesar do atraso provocado propositalmente pelo Governo Federal, as primeiras vacinas foram aprovadas pela Anvisa na tarde do dia 17 de janeiro, tendo início a vacinação em São Paulo.

Porém, já na primeira semana de campanha, várias denúncias de “fura-filas” surgiram em todo o país, a ponto de a vacinação ser suspensa no Amazonas, estado hoje mais afetado com a pandemia. Governantes que não estão na linha de frente nem são do grupo de risco não perderam tempo em garantir sua imunização, sem pensar no bem coletivo nem na prioridade que deveria ser seguida.

Enquanto isso, os profissionais que estão arriscando suas vidas diariamente nos hospitais e postos de saúde em todo o país, que têm seu psicológico abalado ao ter que escolher durante o seu turno de trabalho quem vive e quem morre devido à falta de insumos suficientes para todos, estão ficando para trás nessa fila imaginária.

Todos precisam ser imunizados para que possamos acabar de vez com a  Covid-19. Porém, enquanto não atingirmos a meta de vacinação, setores como a saúde precisam ser priorizados para que possamos manter saudável nosso exército na guerra contra o vírus.

Página 02 – JAV Edição 235

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