Alunos da rede estadual de ensino do Rio se veem abandonados por parte dos órgãos do estado. A situação pode levar o ano letivo de 2020 a terminar com 210 mil estudantes abandonando a escola. Apesar disso, estudantes se mobilizam diante o contexto pandêmico, se pondo de frente a mais esse ataque a sua existência.
Por Luiz Otávio Burity
RIO DE JANEIRO – O Rio de Janeiro vive uma situação caótica. Alunos da rede estadual de ensino mais uma vez se veem em posição de desespero e sentimento de completo abandono por parte dos órgãos que deveriam cumprir com o dever constitucional de garantia dos direitos básicos como o da educação plena, alimentação e do apoio sócio-emocional, todos esses atributos indispensáveis para a construção e consolidação da democracia no espaço escolar.
Em 2020, o Governo do Estado do Rio de Janeiro não garantiu em nenhum momento a seguridade do acesso ao ensino remoto, que foi um artifício utilizado por variadas instituições como uma maneira de estreitar os laços com os estudantes durante o contexto calamitoso. No entanto, na realidade não levaram em consideração em momento algum a enorme desigualdade social que vivemos e a falta de infraestrutura que esses alunos tinham para o acesso a essas atividades, promovendo assim uma descomunal exclusão digital, impossibilitando o acesso da nossa juventude a uma educação de qualidade.
Já em 2021, com a pandemia ainda em vigor, fruto da péssima gestão de Bolsonaro e seus ministros, o descaso com a educação não cessa. No dia 1º de março iniciou-se o ano letivo das escolas estaduais de ensino do Estado do Rio de Janeiro e mais uma vez com falta de planejamento e gestão pedagógica de modo a democratizar o acesso ao ensino remoto.
Foi proposto um aplicativo, o “Applique-se”, desenvolvido pela própria SEEDUC-RJ (Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro), em convênio com as 4 maiores operadoras de telefonia do estado: Oi, Tim, Vivo e Claro com o fim de dar aos alunos o acesso sem consumo de dados, viabilizando aos estudantes que não dispunham de rede de internet uma forma de acompanhar as aulas. Mas tem sido inúmeras as reclamações de alunos que não conseguem o devido rendimento ou relatos de que o aplicativo não funciona como o prometido pela secretaria, ou até mesmo a forma de dinâmica pedagógica ofertada.
Na primeira semana de “aula” cerca de 60% dos estudantes não haviam nem instalado o aplicativo. Somente 260 mil alunos tinham sido contemplados pelo “Applique-se”, isso em uma realidade de 642 mil pessoas, segundo dados divulgados pela própria SEEDUC-RJ.
Vemos desde o ano passado um aumento gigantesco do índice de evasão escolar. O ano letivo de 2020 corre de terminar com 210 mil estudantes abandonando a vida escolar. Isso tudo como consequência da falta de infraestrutura, insegurança e sensação de despreparo, ou até mesmo tendo que sair da escola para ajudar nos compromissos domésticos, trabalhar ou cuidar dos familiares. Apesar disso, tem sido importante a mobilização dos estudantes e do povo diante o contexto pandêmico, sempre se pondo de frente a todo e qualquer injusto ataque a sua existência.
Nesse processo, o movimento estudantil tem se fortalecido a todo momento se colocando como protagonista em diversas lutas, manifestações e ações na defesa da vida, do estudante e do povo pobre. Também tem atuado incessantemente no respaldo da ciência e combatendo fortemente a ignorância e negacionismo patrocinada pelo governo de Bolsonaro. A organização da juventude que mais sofre, mais trabalha e mais é injustiçada diante do jugo capitalista, a conscientização jamais deve ser abordada como uma opção, mas sim como prioridade.