Izamara Roberta
SÃO PAULO – Na nova fase de restrições decretada pelo Governador do Estado de São Paulo, João Dória (PSDB), o tele atendimento foi mantido como “trabalho essencial”. Os operadores da categoria são um dos grupos mais prejudicados nessa nova fase, pois, apesar da obrigatoriedade do trabalho remoto ter sido decretada, muitas empresas mantêm sua operação presencial normalmente, sem nem ao menos reduzir o quadro de funcionários em atividades presenciais e sem garantir o distanciamento mínimo no posto de trabalho, colocando assim milhares de trabalhadores em risco.
Ao mesmo tempo, as empresas que passaram toda ou parte de suas atividades para o trabalho remoto (home office) o fizeram sem prestar o auxílio necessário aos operadores, que em muitos casos estão sendo obrigados pagar planos de internet e contas de energia mais caras para realizar os atendimentos e não serem demitidos, ou seja, estão pagando para trabalhar.
Mesmo com a continuidade da profunda exploração sobre os trabalhadores, que há muito tempo é uma característica dos postos de trabalho no tele atendimento, milhares de trabalhadores estão sendo demitidos e ficando sem condições de se sustentar.
O Jornal A Verdade ouviu duas trabalhadoras da categoria na região do Grande ABC, Bruna e Sara*, para entender melhor como está a situação do trabalho presencial e do trabalho remoto:
Como está sendo o trabalho remoto? Qual é a maior dificuldade que está enfrentando?
“A maior dificuldade enfrentada é ficar o dia inteiro dentro de casa saindo somente para questões essenciais, como ir ao supermercado ou farmácia. O sentimento de ansiedade veio com mais frequência devido à falta de contato com outras pessoas e à ficar muito tempo em frente ao computador.
Durante a pandemia eu fiquei desempregada, agora consegui um emprego, mas 70% dos funcionários que foram contratados juntos comigo já foram demitidos. Isso me gerou uma grande ansiedade, um medo constante de o desemprego aparecer novamente e me faltar a renda para conseguir pagar as contas, principalmente o aluguel. Está muito difícil conseguir um emprego e quem está empregado tem uma incerteza muito grande, não sabe o que vai acontecer, se vamos continuar trabalhando em casa, se vamos trabalhar presencialmente. A empresa não dá nenhum suporte psicológico para seus funcionários”.
Como é o atendimento e a comunicação com os clientes?
“A pandemia vem mexendo com todos nós e com os clientes não é diferente. Estão cada vez mais intolerantes, mais nervosos, principalmente com o trabalho remoto.”
O que você acha que o Governo e os donos da sua empresa deveriam fazer nessa situação de crise sanitária e econômica?
“Não temos um Governo e sim uma pessoa que tem a intenção de destruir a população mais pobre. O Governo é totalmente negligente, irresponsável, não da nenhum suporte para a população. A cada colocação do Governo ficamos mais preocupados; se tivéssemos um governo que se importasse com o bem estar e a vida da população não estaria dessa forma.
Sobre a empresa, precisa continuar o trabalho remoto, diminuir o quadro presencial de funcionários, mas não demitindo, colocando no trabalho remoto e dando as devidas condições para esse trabalho. O que eu esperava da empresa era que não tivesse esse alto número de demissões que estão ocorrendo”.
Como está sendo trabalhar presencialmente e qual é a maior dificuldade que está enfrentando?
“Tem seus pontos positivos e negativos… trabalhar presencialmente gera uma distração mental, você não pensa muito e não fica tão ansioso com toda essa situação. Porém é ruim por conta do deslocamento grande que fazemos todos os dias, dentro de um transporte público lotado”.
Como está sendo seu deslocamento até o trabalho? Como se sente em sair todos os dias exposta ao vírus?
“Meu deslocamento até o trabalho é feito por trem e trólebus, me sinto muito vulnerável e exposto ao vírus pois o transporte está sempre muito lotado, mesmo utilizando máscara e álcool gel não conseguimos conter essa aglomeração dentro dos transportes.”
Como você se sente por não estar trabalhando em home office?
“Estou me sentindo sem importância. Por mais que digam que meu trabalho é necessário, eu sinto que minha vida não é”.
O que você acha que o Governo e os donos da sua empresa deveriam fazer nessa situação de crise sanitária e econômica?
“Deveriam adotar medidas que mantivessem em segurança a saúde do cidadão/funcionário. Há formas de se realizar o trabalho sem que haja o deslocamento até a empresa e o governo deveria pressionar as empresas a adotarem essas medidas”.
A organização dos trabalhadores do tele atendimento em defesa de suas vidas e por melhores condições de trabalho é urgente. Exigir das empresas garantia de melhores condições de trabalho e de vida para os trabalhadores e suas famílias nesse momento é fundamental.
Com os milhares de novos casos todos os dias, as mortes e a ocupação quase total dos leitos no Estado, o medo e a preocupação dos trabalhadores de contrair o vírus e leva-lo para suas casas, contaminar seus familiares, só cresce.
As empresas precisam aceitar as exigências dos trabalhadores e deixar de interessar-se apenas pelo lucro, descartando a vida da população. As principais exigências hoje são: liberação do máximo possível, se possível de todos os trabalhadores para o trabalho remoto, garantindo as condições para o trabalho nessa condição, e a melhoria das condições de trabalho presencial, com ambiente mais seguro, distanciamento e distribuição de máscaras e álcool em gel.