Acauã Pozino, Rio de Janeiro
MARANHÃO – No último dia 17, a Polícia Civil do Maranhão assassinou um jovem neurodivergente em uma localidade próxima ao município de Presidente Dutra. Os policiais alegam ter sidos atacados e que foi levada ao local por denúncias anônimas.
Amílton Bandeira, 23, havia servido o almoço na casa em que morava. Após se recolher para descansar, os policiais entraram na casa. Questionado se haveria alguém mais na casa, o avô, de 99 anos, que ainda estava à mesa, respondeu aos agentes que seu neto se encontrava no local. Amílton, então, saiu de seu quarto para ver o que estava acontecendo e, no momento em que se fez visível, foi alvejado por três tiros vindos dos policiais. Lançado violentamente à viatura, não resistiu e já chegou ao hospital local sem vida.
Esse acontecimento torna evidente qual a postura da burguesia (de quem a polícia é, hoje, o braço armado) em relação ao povo pobre e, sobretudo, pobres com deficiência. Segundo os policiais, eles foram atacados pelo jovem que estava sendo procurado por postar em seu Instagram elogios ao foragido Lázaro Barbosa, a quem são atribuídos 5 assassinatos recentes e cuja procura tem recebido uma cobertura sensacionalista por parte da mídia.
A primeira parte é veementemente contestada pelo avô, presente no momento do assassinato. Já a segunda, seja verdadeira ou falsa, denota claramente como o capacitismo afeta às pessoas com deficiência intelectual, como era o caso de Amílton. Indivíduos perigosos, imprevisíveis, que precisam ser a todo custo controlados e, quando isso não for possível, eliminados.
Mesmo considerando a postagem do rapaz em elogio ao foragido Lázaro Barbosa, não há justificativa legal, moral ou prática para uma execução claramente premeditada e intencional. Fosse Amílton um jovem sem deficiência de São Luís do Maranhão, ou mesmo de sua própria localidade, teria ele sido atacado tão covardemente? É de se supor que não, dado que não haveria como pôr a culpa em sua forma de interagir com a realidade, considerada atípica.
Pessoas com deficiência sofrem com preconceito e agressões no Brasil e exterior
Isso ocorre na mesma semana em que Martin Balbinder, militante histórico dos direitos da pessoa com deficiência da Argentina, foi tratado com total descaso e brutalidade pelos médicos de sua própria terra. Ele teve negado o tratamento especializado que é, lá, garantido por lei e vindo a falecer em decorrência não só de complicações da Covid19, mas do capacitismo também de agentes do Estado.
Além do choro da mãe de Amílton e do eco dos tiros que friamente o mataram, fica no ar a pergunta: de quantas provas mais se precisa para admitir que o capacitismo mata, e que é um projeto com autores bem específicos? Até quando nossas mortes serão vistas como necessárias ou justificáveis?